Notas sobre a luta de classes no Brasil

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Fernando Marcelino
11/04/2012

 

O Brasil vive um momento de radicalização na base da sociedade, abortada pela falta de canais e instrumentos que organizem politicamente este tipo de rebelião popular fruto das contradições do capitalismo recente.

 

Uma das respostas que estão sendo dadas pela classe trabalhadora nesta situação é a ação direta: seja por greves, paralisação de vias públicas ou ocupações de terras urbanas e rurais.

 

Está cada vez mais claro que o acúmulo de forças da “esquerda negociadora” e das disputas institucionais está superado, a não ser quando o objetivo for a ruptura com a ordem. Isso num momento em que se encontra latente a possibilidade de a direita mais ordinária e golpista voltar ao poder, o que cedo ou tarde vai acontecer, as práticas institucionais passam a conter as transformações, empurrando o movimento popular para trás.

 

Nosso problema é que, diante da enorme dificuldade do movimento sindical em organizar no espaço de trabalho um segmento crescente de trabalhadores (desempregados, temporários, terceirizados, trabalhadores por conta própria etc.), o espaço em que milhões de trabalhadores no Brasil e em outros países tem se organizado e lutado é o território, em especial na periferia das grandes cidades.

 

Na atual dinâmica da luta de classes, o local das verdadeiras lutas contra a ordem social não é no campo ou na selva, mas na periferia, o território da nova classe trabalhadora. É por isso que desenvolver formas mínimas de auto-organização nas periferias é nosso grande desafio urgente.

 

Não é à toa que talvez a tendência mais explosiva da luta de classes no Brasil no próximo período seja a expansão de ações policias contra os protestos que interditam ruas, estradas e prédios públicos. Reconhece-se que o avanço destas ocupações interrompe o serviço de transporte público e de cargas, causando danos importantes ao capital.

 

Será cada vez mais usual o envio de forças armadas com o objetivo de “contenção dos trabalhadores”, seja a Força Nacional, Polícia Militar, Comando de Operações Especiais, bombeiros, agentes da Polícia Federal, Polícia Rodoviária Federal, entre outros órgãos de segurança. Em suma, o próximo período será marcado por uma rígida atuação policial durante os protestos em vias públicas.

 

As classes populares no Brasil ainda necessitam de água, luz, esgoto, moradia e infra-estrutura e estão colocando-se em luta para socializar a riqueza. A combinação e unidade entre esses sujeitos, demandas e ações tem seu próprio ritmo e mobilização. Nosso dever é saber transformar suas reivindicações em ações massivas, independentes do governo e seus correligionários.

 

Isso só surgirá, entretanto, se retomarmos a velha lição de organização junto à base popular, em seu dia a dia, em lutas diárias e miúdas. Somente as grandes mobilizações, o estímulo a todas as formas de luta de massa por necessidades imediatas e o trabalho de base podem alterar nossa situação diante da nova dinâmica da luta de classes.

 

Fernando Marcelino é economista.

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