De micos, coturnos e gorilas

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Tita Ferreira e Raymundo Araujo Filho
23/03/2012

 

A dita esquerda braZileira, através dos militares atingidos pelo golpe de 64 (nem todos de esquerda, é preciso que se tenha isso bem claro), está na verdade colaborando para transformar a presidenta numa militante de direitos humanos, através do reavivamento de seu passado de porra louca guerrilheira, permitindo que por meio dessa cortina de fumaça a presidenta prossiga em seu projeto neoliberal de entrega das riquezas de nosso país ao capital internacional. Esquecem-se todos, não sabemos se por conveniência, que o braZil é hoje um país onde reina o modelo do Pensamento Único, aquele que transformou os Cidadãos em meros Consumidores, capitaneados pela abertura ou fechamento dos cofres do governo. O que ocorre, pontualmente, a cada questão política colocada e doação de migalhas ao povo - ninharia frente ao que se exonera deste mesmo povo em doação aos estrangeiros e para a porca elite brasileira.

 

Recentemente, circulou um artigo na internet denunciando que Honduras é hoje o principal laboratório de um novo modelo de ditadura disfarçada. Mais uma cortina de fumaça! Qual o país onde os trabalhadores estão sendo impedidos de fazer greve, pois o Poder Judiciário impõe que as categorias em greve coloquem até 80% do efetivo trabalhando, sob pena de pesadas multas ao sindicato da categoria, criando claramente um "clima" anti-greve e atropelando uma conquista secular dos trabalhadores? O braZil, é lógico!

 

Qual o país em que manifestantes contra o aumento mais do que abusivo das passagens de ônibus são espancados brutalmente em suas manifestações? Onde manifestações e até livros são proibidos judicialmente, ao arrepio da Constituição de 1988? Onde as favelas e bairros pobres, seletivamente selecionados por estarem no roteiro dos grandes eventos, são ocupados por uma polícia cujo efetivo é constituído de facínoras, em grande parte corrupta e violenta, agora auxiliada pelas Forças Armadas, recentemente treinadas para conflitos urbanos lá no Haiti, cujos habitantes continuam sem saúde pública e educação, além de segurança minimamente decente? No braZil, é claro!

 

Qual o país onde a mídia corporativa, embora critique no varejo o governo, é só elogios às macro-políticas desenvolvidas para o regozijo do capital? Onde mega-empreendimentos e seus orçamentos claramente superfaturados são feitos sem a mínima aprovação da população, aliás, muito mal informada sobre eles?

 

Qual o país onde os que exercem o poder apenas se locupletam do erário, protegidos por uma blindagem midiática e de "cala-bocas" em dinheiro, tendo um altíssimo nível de promiscuidade institucional entre o público e o privado? Onde as maiores obras estruturais, equivocadas decerto, anunciadas com grande rebuliço eleitoreiro, agora se descobrem paralisadas em 75%, além de superfaturadas? Onde tudo o que existe são oligopólios internacionais mandando em nossas vidas, enquanto o governo entrega como “nunca d’antes em nosso país”, auxiliados por uma "blitzkrieg" de midiotas pagos a peso de ouro para defender o governo? Tudo isso no braZil, é lógico!

 

Novo modelo de ditadura, meus senhores e senhoras, trabalhadores e trabalhadoras, é aqui mesmo, no braZil,il,il! Tão ditadura que até parece a democracia burguesa.

 

Mas, mesmo assim, algo andou fora da nova ordem mundial. As forças progressistas e internacionalistas obrigaram que a OEA exigisse do Brasil a investigação dos crimes imprescritíveis, POR TRATADO ASSINADO PELO BRASIL, de TORTURA, SEQUESTRO, DESAPARECIMENTOS POLÍTICOS e OCULTAÇÃO DE CADÁVERES, o que os governos "populares e democráticos e de esquerda" de Lulla e DiLLma se negaram solenemente a fazer. Pelo contrário, fecharam acordo obscuro com os militares da linha duríssima (os outros existentes são só da linha dura), colocando-os em postos chaves na guarda da memória dos documentos da época ditatorial. Isso foi denunciado pela professora Jesse Jane (ex-presa política, torturada e banida do país em troca de embaixador seqüestrado pelas forças de esquerda), na ocasião de sua demissão, junto com o historiador Carlos Fico, do Centro de Referências das Lutas Políticas no Brasil, apontando sonegação de informações pela milicada que lá está, colocada pelo governo do PT.

 

A presidenta DiLLma, acossada por um vexame de proporções internacionais, resolveu então "ceder" às pressões, mas sem descuidar em manietar o projeto de uma Comissão da Verdade, lançando um modelo minimalista na capacidade de investigação e pessoal habilitado, sem orçamento próprio, e maximizado no período a ser revisto. Pois a inclusão dos tempos de Getúlio Vargas é clara manobra para calar forças políticas que o têm como líder, até hoje, a maioria aglutinada no PDT de Brizola, que, vivo, não estaria neste governo, nem a pau, como fazem seus ex-correligionários, em claro assalto ideológico à legenda do velho Briza. Este, se nunca foi um modelo a ser seguido cegamente, tem biografia muito acima dos que estão aí hoje, inclusive usando e vilipendiando o seu nome, pois, como diria o próprio, "já costearam o alambrado há muito" (uma referência aos cavalos que fogem do páreo, pulando a cerca da pista).

 

No lançamento desta momesca Comissão da Verdade, já vimos a que veio: a filha de um dos torturados e assassinados mais emblemáticos do "tempo dos coturnos malditos", o jornalista Rubens Paiva, foi IMPEDIDA de usar a palavra pela comunidade militar, em claro vilipêndio à própria Constituição atual, tão estuprada hoje quanto nos tempos da ditadura, com o apoio inequívoco de um sistema judicial iníquo, corrupto e useiro e vezeiro em praticar ilegalidades jurídicas, na maior cara de pau e protegidos pelos próprios fóruns, eivados de atitudes e decisões corporativas, tão somente, muitas vezes ao arrepio da Lei.

 

Mas fez-se uma efêmera luz no fim do túnel, através da descoberta de que promotores públicos possam usar a figura do "crime continuado" em relação aos seqüestros e assassinatos sem a localização dos corpos. Em declaração auto-condenatória, admitindo a ineficiência e fraqueza moral do governo DiLLma Rousseff, a esquálida ministra dos Direitos Humanos Maria do Rosário disse que "os familiares dos desaparecidos entrassem na justiça para reabrir as investigações". Uma ministra que já mostra, sem nenhuma vergonha, nem moral e nem política, o nada a que veio, e querendo fazer acreditarmos que o aparelho judicial burguês (exatamente ao STF, onde irá parar esta questão) confrontará os militares.

 

Foi a senha para que os micos de pijama, antes gorilas de coturno, embainhassem os seus prepúcios frouxos e imprecassem contra a sequer nomeada Comissão da (Meia) Verdade e Mentira, reunidos no Clube Militar, no Rio, emitindo nota troglodita, invertendo valores universais e contrariando o texto constitucional brasileiro, dizendo "que não se esqueça a presidenta Dilma que as forças armadas, antes de defender o governo, têm a missão de guardar e defender a democracia", em clara ameaça frontal ao poder constitucional civil, o mesmo que alimenta estes soturnos coturnos insaciáveis.

 

Até agora ninguém foi preso, apenas houve uma determinação para que os ministros militares passassem aos comandos regionais que assinaram o tal manifesto “uma punição da maneira que acharem mais conveniente”. E não se falou mais nisso. Aliás, os mesmos militares de coturnos frouxos, ante a proibição de qualquer manifestação em louvor ao golpe civil-militar de 31 de março/1 de abril (os militares otários ainda deixaram-se ficar com a má fama sozinhos), resolveram promover um almoço comemorativo em desagravo à quartelada no dia... 29 de março, sem serem admoestados pela presidenta, no mínimo negligente de suas obrigações, para ficar só neste leve adjetivo, agindo de forma pusilânime, reafirmando o ditado fascista "manda quem pode e obedece quem tem juízo".

 

Galvanizando esta verdadeira tragédia de erros, as Organizações Globo agora são louvadas por gente que se diz de esquerda, pois a relações públicas Mirian Leitão (só Merval Pereira é páreo para ela), antigamente conhecida com o Mirian "Leilão", escreveu artigo, em sua coluna no jornal O Globo, negando a versão dos militares, totalmente divulgada como se fosse verdade pelo jornal e TV das Organizações Globo. É o vazio ideológico proporcionado pela ex-esquerda Corporation W.C., abrindo espaço para que este complexo midiático, o maior porta-voz da ditadura, apague a mácula de seu currículo, aos olhos das novas gerações.

 

Imediatamente, alguns que dizem lutar a favor da verdade descortinada e pela punição de criminosos militares deram mostra de não estarem à altura de suas responsabilidades, caindo de elogios à Miriam Leitão e correndo em apoio à “ex-guerrilheira” e atual presidenta (entreguista) do braZil, Dilma Rousseff, que, "por coincidência", passa por delicado momento de fragilidade política.

 

Nada faz abandonar a idéia que estes micos de pijama foram insuflados por ordem do Planalto para que se manifestassem da forma histriônica, como sempre acontece, promovendo o que venho chamando de “confusão programada e refração ilusória à esquerda”, em relação à presidenta entreguista, tornando este zoológico de coturnos aposentados e seus aliados de colarinho branco nada mais do que cabos eleitorais dos que dizem combater.

 

E os que considero bem intencionados, mas insuficientes, que não façam o papel de inocentes inúteis, ajudando a limpar a barra dos que entregam nossas riquezas, sangue e suor ao capital internacional.

 

Desta forma, a partir de uma proposta levada pelos movimentos sociais não aparelhados por partidos políticos, o Fórum dos Movimentos Sociais, reunido dia 22/03, decidiu incorporar-se à manifestação a ser realizada na porta do Clube Militar, Rio, no dia 29 de março, onde uns vão comparecer de pijama (em alusão aos milicos de pijama).

 

Todos lá, na porta do Clube Militar, no Centro do Rio, a partir das 11h da manhã do dia 29 de março, para fazermos a contra-mídia das Organizações Globo, agora posando de “democrata”. Pessoalmente também, estaremos puxando palavras de ordem contra a DiLLma entreguista e covarde.

 

 

 

Tita Ferreira é professora de história e mantenedora do sítio titaferreira.multiply.com

Raymundo Araujo Filho é médico veterinário homeopata e membro da IWA (International Writers and Artists Association) e só gosta de micos da família dos símios e sem coturnos.

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