Venezuela e África do Sul: a comparação negada

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Raymundo Araujo Filho
27/07/2010

 

Neste penúltimo artigo da série acessível pela pesquisa na internet sob o nome "Um Olhar Político Sobre a Copa do Mundo de 2010 (I) e (II)", assim entre aspas, espero contribuir para o entendimento da estratégia de grandes eventos, para a consolidação político-econômica e ideológica do capital transacional, notadamente nos países chamados emergentes, mas do terceiro mundo.

 

Os elogios e profissões de fé positivas sobre o futuro da África do Sul, após a Copa do Mundo, mesmo contra todas as previsões e estatísticas atuais sobre a situação daquele país e a grande maioria de seu povo, que conseguiu acabar com o Apartheid, mas não consegue ascender a um mínimo de melhorias sócio econômicas, malgrado a África do Sul ser saudada como um país "de economia moderna" (= subserviente ao capitalismo).

 

São tristes as perspectivas sobre a África do Sul, nos apontada no artigo do link de artigo no Correio da Cidadania http://www.correiocidadania.com.br/content/view/4850/9/, mas mesmo assim, a mídia internacional corporativa incensa o governo deste país que, antes de tudo, mostrou-se completamente rendido e adaptado aos mandantes do primeiro mundo, via FIFA, o seu "braço esportivo".

 

Assim, mesmo sem poderem esconder completamente a miséria e abandono da população pobre e negra, os veículos de comunicação corporativos jogaram pesado na nova imagem que querem dar para a África do Sul, quase varrendo para debaixo do tapete as mazelas deste país, os substituindo pelas histéricas vuvuzelas e população sorridente. Coitada dela, pois estava crente que a Copa do Mundo lhes traria benefícios que não os fugazes, que acabam por agora. Mas a realidade é que voltou a ser "tudo como d’antes como no quartel do Abrantes", apenas com meia dezena de estádios de futebol (só um deles custa US$400 mil/ano), em um lugar de grande vazio populacional.

 

A Venezuela e a África do Sul, têm algumas semelhanças como países, que me (des)animaram a fazer um artigo, mostrando a sordidez da mídia corporativa no tratamento dispensado aos dois presidentes. Os dois países têm cerca de 80% de sua população nas cidades, estando o interior vazio, mas com a diferença que hoje a Venezuela se prepara e tem projeto para a interiorização de sua população, o que não existe na África do Sul.

 

São países fortemente dependentes de uma matéria prima mineral (Venezuela é petróleo; África do Sul, diamantes), e ambos ganham bastante com turismo. Resta-nos saber a quem a exploração destas riquezas está entregue, e com quem fica a maior parte dos lucros obtidos com estes tesouros.

 

Na Venezuela, com Chávez, 84% do lucro do petróleo fica na Venezuela, para a sustentação deste período de transição da sociedade venezuelana. Pelo silêncio da mídia sobre a maior fonte de riquezas da África do Sul, já imaginamos para quem vai o lucro deste mineral. Aliás, no link adiante há a notícia de um seminário que o governo brasileiro participou sobre diamantes na África do Sul, promovido pelo governo... da Bélgica. Aí tem!

 

Já o Chávez, não passa um só dia sem que seja atacado pelos mesmos que se omitem em analisar os diamantes da África do Sul. É que Chávez impôs que 86% do lucro do petróleo fica na Venezuela e é aplicado em benfeitorias populares. Os índices de desnutrição, doenças e falta de escolaridade das crianças, principalmente as negras da África do Sul são altos, como vemos no http://www.wharton.universia.net/index.cfm?fa=viewArticle&id=1357&language=portuguese/ target= e http://br.answers.yahoo.com/question/index?qid=20090815081536AAL5lvq, mas pouco se falou disso. Se falou, o som das vuvuzelas abafou...

 

O presidente da África do Sul foi um dos que mais boicotaram os protocolos internacionais preventivos para a AIDS e ao ser perguntado sobre os riscos de ter mantido relações sexuais ocasionais com uma jovem a quem engravidara respondeu: "Não tem problema, porque eu me lavo depois". Fico a imaginar se fosse o Chávez que dissesse tamanha barbaridade...

 

Já na Venezuela, são vários os prêmios internacionais auferidos ao governo Chávez nas áreas da Educação e Saúde, embora isso não pareça importar muito para seus detratores.

 

Lembro-me que na época da Copa América realizada na Venezuela, em 2007, a Rede Globo representada por Galvão Bueno jogou pesado e até chegou a dizer que "a Venezuela é um Estado militarizado", na definição deste locutor do sistema capitalista, quando NENHUMA restrição ao trabalho da imprensa foi apontada, apenas a presença de segurança para os repórteres, pois Chávez se precavia de um atentado ou coisa parecida.

 

Assim, continuam com a campanha, com as matérias sobre a grande violência urbana em Caracas, mas nada comparável a que temos no Rio ou em São Paulo. Estive por lá e vi isso, com a diferença que a polícia de lá mata muito menos inocentes do que a daqui. E quando matam, são punidos exemplarmente.

 

Já na África do Sul, foram mostradas várias placas do governo, em bairros da capital e outras cidades, avisando que "este lugar não é seguro", assumindo assim, o governo de lá, a completa ineficiência neste aspecto da vida dos africanos do sul. Imaginem se Chávez bota uma placa destas em algum lugar da Venezuela...

 

Foram várias as matérias nos mostrando a indigência em que vivem as populações negras da África do Sul, a falta de assistência básica e promoção social, desemprego em 20% e concentrado na população negra (os brancos estão quase todos empregados), insuficiência alimentar, falta de escolaridade, entre outras mazelas causadas pelos governantes, e não por obra de Deus. Mas tudo o que nos foi mostrado sobre a África do Sul foi em ritmo de "este e um país que cai pra frente".

 

Na Venezuela, crescem a assistência e a promoção social, com a aplicação de 30% do PIB em investimentos estruturais (a África do Sul investe menos de 10%), não tendo analfabetos e com as doenças clássicas em franca queda nos seus índices, além de centenas de milhares de venezuelanos operados pelos excelentes médicos cubanos, em Cuba, por conta de um acordo entre os dois países, em troca de petróleo venezuelano. No entanto, Chávez não é dócil ao Império...

 

Em entrevista ao programa dominical noturno de entrevistas da Band TV, o "sociólogo do sistema capitalista" Demétrio Magnoli discorreu pelas mazelas estruturais da África do Sul, atribuindo aquela situação a tudo, menos à natureza perversa do capitalismo por lá instalado e agora internacionalizado definitivamente pelo que vemos. 

 

Já quando fala de Chávez, este representante das elites brasileiras diz que o problema lá na Venezuela é Chávez não aceitar o capitalismo...

 

Não nos consta que lá na Venezuela tenha ficado ao léu alguma estrutura esportiva utilizada para a competição continental vencida pela nossa seleção em 2007. Ao contrário, o que vi por lá foi um intenso aproveitamento por crianças escolarizadas de todas estas estruturas. Já na África do Sul, as suntuosas arenas esportivas, construídas com o dinheiro do povo, estão com sérias dificuldades em serem utilizadas pelo povo de lá. Mas isso é escondido, pois o Brasil se prepara para fazer a mesma farra com dinheiro público.

 

Recentemente, a Venezuela passou por grave crise energética causada não por falta de investimentos no setor, mas pela MAIOR SECA das últimas décadas, ocasionadas pelo fenômeno La Niña (pra mim foi o H.A.A.R.P. e seus Chemitrails – procurem na internet o que vem a ser isso). Chávez foi duramente atacado pela mídia internacional, que lhe tachou de incompetente e outras baboseiras.

 

O racionamento de energia elétrica também atinge a África do Sul, mas de forma permanente e não episódica. Porém, não parece que isso tenha sensibilizado a mídia internacional, ao contrário, anunciavam que os suntuosos estádios (uma dezena de obras faraônicas) ficavam com TODAS as suas luzes acesas, dia e noite, muitas vezes ao lado de bairros pobres inteiros, submetidos a draconiano racionamento. E a mídia achando isso o máximo...

 

A população venezuelana paga baratíssimo pela água e energia elétrica consumidas, e os pobres pagam ainda menos. Já a África do Sul, segundo estudos e denúncias comprovadas do Dr. Rui Nogueira, foi o primeiro país a instituir o cartão pré-pago para consumo de energia elétrica e, pasmem, de água (considerada um bem indispensável para a vida, portanto, sem que se possa negar para quem for, seja por que motivo for, ainda mais inadimplência financeira; pré-consumo ainda por cima). Se fosse o Chávez, seria chamado de assassino de pobres...

 

O desemprego na Venezuela, apesar da crise, não passa de 7% (ou pouco menos). Na África do Sul, cujo sistema econômico é elogiado por aquele que citei acima, o desemprego vai a 20%, com alto grau de "biscateiros", não computados como desempregados.

 

Foram acachapantes as imagens da greve que os seguranças terceirizados para os jogos promoveram por não receberem os seus salários e sequer alimentação. Mas, isso passa batido nas análises da mídia corporativa.


A educação falta principalmente para os 90% de negros da África do Sul. A Venezuela erradicou o seu analfabetismo e ruma para a estruturação de futuras gerações de excelente nível educacional (na Venezuela, 50% da população têm menos de 18 anos).

 

A população venezuelana, principalmente entre os pobres, vem respondendo ativamente para manifestar-se de corpo presente em defesa de seu legítimo e atuante governo. Os da África do Sul, alienados pelo sistema, são mostrados para o mundo tocando insistentemente as suas nervosas vuvuzelas, como um grito de desespero da Mamma África.

 

E, por fim, o racismo está extinto na Venezuela, ou se praticado é severamente punido. Por outro lado, foi triste ver na TV alguns bairros e condomínios da Cidade do Cabo em que se vê escrito na entrada "NÃO SE ACEITA NEGROS". Até no Fantástico passou, eu vi. Além das notícias que a maioria dos empregos qualificados e de atendimento ao público são ocupados pela minoria branca.

 

E assim, com muitas mentiras midiáticas, se processa a lavagem cerebral dos povos.

 

E este artigo é apenas uma tentativa de contribuir contra tantas mentiras.

 

Raymundo Araujo Filho é médico veterinário homeopata que não abdica de pertencer à espécie Homo Sapiens, justamente para fazer frente àqueles que nos querem fazer de bobos.

 

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