Correio da Cidadania

Os loucos e insensatos do MST estão em marcha

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Trafegava ontem (22.04) pela BR 324 (Salvador - Feira de Santana) e vi a marcha do MST pela rodovia. Saíram de Feira de Santana e a previsão de chegada a Salvador é na segunda-feira (26.04). São mais de 100 km de caminhada.  Fala-se em 5 mil ou 6 mil participantes. Vi muitos jovens e mulheres participando da marcha.

 

Segunda a imprensa local, "a manifestação tem como objetivos cobrar mais agilidade na reforma agrária no País e cobrar do governo a realização de obras negociadas em manifestações anteriores, como a construção de casas e escolas em 120 assentamentos no Estado. A marcha também tem o caráter de protesto contra a criminalização dos movimentos sociais e contra a impunidade no campo, afirmou o deputado estadual Valmir Assunção (PT), que integra a marcha. Com ele, estão outras lideranças do partido na Bahia, como o vice-presidente estadual da legenda, Weldes Valeriano. Na programação dos participantes, estão previstas caminhadas pela manhã e atividades culturais - como curso de formação política e exibição de filmes - nos outros períodos". (leia mais...)

 

Antes de encontrar os membros do MST em caminhada, parei em um posto para abastecer o carro e puxei conversa com o frentista sobre a marcha. Comecei perguntando se estavam muito na frente e ele me respondeu que tinham passado por ali na manhã anterior e que àquela hora (às nove horas, mais ou menos) já deveriam ter levantado acampamento e estavam novamente na pista. Em seguida, tentou me confortar argumentando que era feriado, o trânsito não estava intenso e talvez não encontrasse muito engarrafamento. Respondi que não me incomodava muito, pois o MST tinha o direito de lutar e de se manifestar. Ele se animou para continuar a conversa e alegou que também gostava do MST e da coragem deles, mas não gostava quando se tornavam violentos, destruíam plantações e casas das fazendas invadidas.

 

Desejei bom dia de trabalho ao frentista e segui viagem. Depois que passei por aquela multidão de homens e mulheres, caminhado em duas filas indianas, cantando e demonstrando que estavam voluntariamente naquela caminhada, pensei comigo mesmo: são mesmo loucos e insensatos! Ora, são mais de 100 km de caminhada e nesta época do ano costuma chover muito no recôncavo baiano. Loucos e insensatos, mesmo!

 

Mais na frente, lembrei-me da observação do frentista com relação à violência do MST e pensei: também, o que se pode esperar de loucos e insensatos? Que vão entrar com muito cuidado nas fazendas que ocupam, cuidar bem da casa, deixar tudo limpo e arrumado? Não, nada disso. São loucos e insensatos!

 

Mas o que os levou à loucura e à insensatez? Por que tantos jovens, moças e rapazes, já perderam a razão e os bons modos ainda na flor da idade?

 

Esta doença é hereditária e foi causada por mais de 500 anos de exclusão e opressão. No início, os índios, depois os negros, depois os posseiros e pequenos colonos foram excluídos da terra e lançados ao léu. Agora, séculos depois, tornaram-se "sem-terra" e marcham pelas rodovias do país, moram em acampamentos, ocupam fazendas, derrubam laranjais, queimam sedes luxuosas, matam bois para comer a carne... São uns loucos e insensatos.

 

Sendo assim, diferente dos "doutores da lei", eles não sabem distinguir os vários tipos de posse, não sabem distinguir posse de propriedade e, muito menos, o que sejam os tais "interditos proibitórios." Para eles, interessa somente a terra e os alimentos que dela brotam. Terra, portanto, não se confunde com posse e, muito menos, com propriedade. Terra é mãe e produz alimentos, é o local, o espaço sagrado e detentor das possibilidades de continuidade da espécie humana sobre o planeta. Propriedade, de outro lado, é mera abstração, conceito, idéia, pedaço de papel, registro em cartório...

 

Não compreendem os loucos e insensatos do MST, enfim, por que tantos "letrados" andam dizendo por aí que a "propriedade" é um direito sagrado. Ora, sagrada é a terra, e não a propriedade dela! Esse destino místico da terra, porém, não se realiza com pastos e pisadas de bois ou eucalipto para virar celulose, mas com a presença do homem, como se pertencessem um ao outro, plantando e colhendo, no cio da terra, alimentos para o mundo. O homem, portanto, não pode impor qualquer função ou amarras à terra, pois ela já tem desde sempre o seu destino inafastável, que é oferecer a vida ao homem que lhe habita.

 

Pensando bem, aliás, o que seria da vida, da liberdade e do mundo sem os loucos e os insensatos?

 

Salvador, 22 de abril de 2010

 

Gerivaldo Alves Neiva é Juiz de Direito

Texto publicado no blog do autor: http://gerivaldoneiva.blogspot.com/

 

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Comentários   

0 #2 Os loucos e insensatos?Justino Cosme 27-04-2010 16:38
Olá, Geraldo Alves,

quero dizer que adorei seu texto. Contudo, vejo o título um tanto instigante. Para quem coaduna com a propoposta do MST, a princípio assusta, como foi meu caso, mas depois compreende facilmente. Para que tem preconceito, mesmo lendo o artigo, ele possibilita margem contaria ao que você defende, pois estes realmente veem o MST como "os loucos e insensatos". E isto você acaba reafirmando ou alimentando a imagem do trabalhadores rurais quando diz que eles só podem mesmo não está em estado de "anormalidade". Ou seja, que as imagens, negativamente, mostradas pela TV, como sempre ocorrem, são de fato verdades, enfim.
Acredito que pensar e ver a terra, dentre outros, não como um propiedade particular parece mesmo ser coisas de loucos e insensatos.


Aproveito o ensejo, para dizer que adoreio o comentário de Raimundo Filho. Mesmo entendo tão pouco ou quase nada, vejo que existe "lideranças" do movimento, ou pessoas que defendem um partido, que aproveitam da situação dos trabalhadores rurais para tirar proveito. Nesse ano isso fica ainda mais visível.
As ditas lideranças aproveitam as às mobilizaçoes feitas pelos trabalhadores para apresentar seu candidato, como se todos ali realmente tivessem lutando em prol dos trabalhadores. O que na verdade, eles estão é lutando para se re-elegerem, mas na sombra da bandeira do movimento.
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0 #1 Nau dos InsensatosRaymundo Araujo Filho 24-04-2010 08:51
Há um outros tipos de insensateses que me preocupam de verdade, aplaudindo o excelente texto do Dr. Gerivaldo Neiva.

Não sei exatamente se é insensatez o que vou me referir, pois esta é o que diferencia os verdadeiramente os loucos, que não se furtam a prejudicarem-se a si próprios na defesa da Justiça Social, dos \"sãos\", sempre ardilosos em defesa de seus quereres e \"status\", em primeiro lugar.

Na verdade, refriro-me a uma Nau dos Ingratos, tamanha são as estaparfudices e verdadeiras traições que propalam pelas suas ventas, a esta altura verdadeiras covas ideológicas.

Uma delas, que me desculpem os acríticos, vem recorrentemente do Coordenador Nacional do MST, o João Pedro Stédile que, a meu ver, com todo o respeito mas sem paparicações, há muito não está a altura das necessidades do Movimento.

Também a meu ver, Stédile é o principal responsável pela \"verdadeira sinuca de bico\" que o Movimento hoje se encontra, pois apoiou e apóia há 7 anos (esta é a palavra!) um governo que nada possibilitou em avanços da Reforma Agrparia e mudanças de eixo na agricultura, deslocando o eixo da juventude rural para escolas e profissões urbanas, com a urbanização da escola básica no interior, além de ser uma das moedas de troca para a acessabilidade ao ensino superior do PróUni(é só analisar as vagas e as profissões oferecidas e os currículos das escolas técnicas abertas por Lulla), beneficiou e atrelou mais ainda o Brasil ao latifúndio e ao agronegócio, com toda a parafernália destrutiva que carreiam, etc. e tal, além da continuação quase que impune dos assassinatos no Campo, fora o estado de beligerância dos ruralistas, armados até os dentes, com a taxa de 95% dos mortos no campo serem gente do Movimento Social, e só 4% dos mandantes ou assassinos, criminalmente condenados ou presos.

E agora, ainda cheio de \"compromissos\" com políticos do PT, quando não alguns \"representantes\" do MST no Partido (na verdade, agentes da domesticação do Movimento, em nome da governabilidade), precisa fazer suas reinvindicações, devido à radicalização da situação no campo, desfavorável aos Trabalhadores e Agricultores no Brasil Rural, que está vazio de gente e cheio de venenos e lavouras monoculturais.

E, Stédile declara, pela terceira vez só este ano (a primeira foi em pleno FSM 2010)\"Nosso principal inimnigo é o Serra, tudo faremos para derrotá-lo\". Assim, como já escrevi em outro comentário, lança a senha da Coordenação Nacional, para que a verticalização se dê nas bases do Movimento, garantindo o voto em Dilma, ao menos no segundo turno.

Desta forma, Stédile garante à Dilma uma rapadura doce dos votos de cabresto, enquanto toma o café amargo do governo que ela representa como candidata.

Já, a D. Dilma Roussef, não fez por menos e não foi menos ingrata com Stédile, do que este foi com as necessidades políticas do MST, ao decalarar poucos dias depois da \"gentileza\" do Stédile para com ela, algo muito parecido com que Dona Kátia Abreu exala de suas ventas insanas e reacionárias. Repreendeu o MST por suas ações legítimas (embora, a meu ver, insuficientes), brandindo os linmites da Lei e da Ordem.

É que na política, assim como no futebol, espaço vazio é para ser ocupado. E Dilma e seus assessores sabem disso. Stédile é que não.

Assim, Stédile e Dilma engrossam o contigente dos passageiros da Nau dos Ingratos. Um, o Stédile, ingrato com a Base Aguerrida do MST que está sendo manietada, de um lado pelo Bolsa Família, e por outro com a Anestesia Social que, a meu ver e no fim das contas, Stédile e seus companheiros de hegemonia na Direção do MST aplicam no principal Movimento Social e de Masssas do Mundo Moderno, mas que periga a deixar de ser, em breve, neste andar da carruagem.

E D. Dilma, a esta altura assumindo o cargo de Timoreira Teleguida da Nau dos Ingratos, além de sua conhecida ingratidão com o Povo Brasileiro, é também ingrata com o Stédile, que já abanou-lhe a capitulação política, lhe prometendo os votos do MST, mas que precisa comandar algumas manifestações \"radicais\", como ocupar prédios públicos, de Institutos que não funcionam, em vez de partirem para a ocupação de espaços públicos urbanos, nas grandes e médias cidades, para discutir com a população a Reforma Agrária, e quem sabe, puxar votos para a Dilma....

Nem isso ela deixa!
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