PAC, o Brasil que nunca muda

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Roberto Malvezzi
31/05/2007

 

 

O PAC é literalmente o Programa de Aceleramento do Capital. A fábula de quase 500 bilhões a serem aplicados em quatro anos vai toda para o grande capital, principalmente as empreiteiras. Nunca se transferiu tanto dinheiro público para o capital privado em tão pouco tempo, em obras tão questionáveis como as usinas do Madeira e a Transposição do São Francisco. Investimentos elitistas que nos fazem até esquecer que o saneamento, tão essencial, também está previsto no PAC. A maioria das obras é de caráter desenvolvimentista e predador. Traduz de forma cristalina o que Dilma, Lula e todo esse governo entendem por desenvolvimento.

 

Do ponto de vista qualitativo em nada difere das obras propostas por FHC, grande parte das quais sequer saiu do papel. Esse governo é mais obstinado e quer mesmo implementar o que está prevendo.

 

Precisávamos de um desenvolvimento com outra qualidade, não apenas demarcando diferenças quantitativas com FHC. Precisávamos de um PEP, isto é, Programa de Empoderamento Popular.

 

Achávamos que com Lula haveria investimento em energia eólica e solar. Achávamos que com Lula haveria um fantástico investimento em reforma agrária, subtraindo poderes dos latifundiários e do agronegócio, finalmente empoderando os pequenos agricultores, sem terra, quilombolas e índios.

 

Achávamos que em vez de fazer obras faraônicas no sertão, como a transposição, ele iria investir em captação de água de chuva para o povo beber e produzir. Só para fazer 1 milhão de cisternas de cinqüenta mil litros para produção são necessários quase cinco bilhões de reais. Se fizesse a reforma agrária, oferecendo mesmo ao povo a terra necessária, o custo seria ainda maior. Se implementasse as obras hídricas para o meio urbano nordestino previstos pelo Atlas do Nordeste, beneficiaria 34 milhões de nordestinos e prepararia a região até 2015 para a mudança climática e os déficits de água que se agravarão.

 

Poderia investir realmente mais em educação, na demarcação dos territórios quilombolas e indígenas. Poderia investir pesado na pesquisa de essências, fármacos, outras possibilidades da biodiversidade, em vez de entregar nossas florestas para exploração legal da madeira. Então nosso povo, além de ter mais terra, mais água, mais alimento, mais educação, teria também mais poder para enfrentar seus opressores históricos.

 

Mais uma vez venceu o grande capital e perdeu o povo brasileiro.

 

 

Roberto Malvezzi, o Gogó, é coordenador da CPT.

 

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