O caráter e a política

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Roberto Malvezzi
27/07/2009

 

De tanto ouvir políticos eleitos nos mandarem esquecer tudo que tinham dito, até tudo que tinham escrito, ficou difícil esperar por ética na política brasileira. Parece que a primeira exigência do poder aos eleitos é despir-se do caráter.

 

Na década de 80, pelas Comunidades Eclesiais de Base, fizemos muitos trabalhos no sentido de educar nosso povo para uma nova ética na política. Vários políticos que hoje estão no poder, até enchendo suas roupas íntimas com dinheiro, participavam dessas formações. Por um momento foi possível sonhar com uma nova classe política, com um novo comportamento perante a coisa pública. Porém, bastou a chegada ao poder.

 

Ninguém pode dizer que não é corruptível enquanto não tiver dinheiro e poder. Essa é a prova dos nove da qual poucos escapam, embora sempre haja honrosas exceções.

 

Sarney já foi cassado pelo povo do Maranhão e refugiou-se no Amapá. Sua filha perdeu a eleição de governadora no voto, mas reconquistou o poder no tapetão. Quem não sabe a trajetória política e ética de Sarney? A grande mídia, que hoje tanto o condena? O problema dele não é a "contratação do namorado da neta que quer ocupar o lugar do irmão deposto pelo não sei o que do não sei o que lá". Sarney está no lado errado.

 

Quer ficar com Lula. Agora é um estorvo. Logo ele, que conseguiu moldar Lula à sua imagem e semelhança.

 

Nesse jogo de moral farisaica que permeia o mundo da política é preciso não perder de vista o verdadeiro escândalo que assolou o país esses dias: a entrega de 67 milhões de hectares de terras públicas nas mãos de grileiros privados, além da aplicação de bilhões de reais em obras públicas do PAC que degradam o ambiente e agridem as comunidades tradicionais.

 

Quanto ao senado, salvo as exceções de sempre, é melhor ressuscitar Calígula e indicar Incitatus como senador. Cavalo se vende por um molho de capim, mas, ao menos, não sabe o que faz.

 

Roberto Malvezzi (Gogó), ex-coordenador da CPT, é agente pastoral.

 

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