Brasil assina a sua própria derrocada

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Manuel Whitaker Salles
15/06/2009

 

Recente artigo de Jânio de Freitas na Folha de São Paulo, no dia 9 de junho – Um Golpe Amazônico -, contém o verdadeiro núcleo de toda a questão que acho nos ocupará, como brasileiros, pelas próximas duas ou três décadas, ao final das quais prevejo uma fragorosa derrota da nacionalidade.

 

O artigo capta bem, apesar da concentração num tópico específico, a noção crucial dos nossos tempos, que se distinguem dos precedentes sobretudo pela deterioração rampante do múnus, do espírito público, da ética na política nacional. Em suma, a demissão de todo sentido de decência e compromisso para com a sociedade como um todo, em benefício do compadrio, da malandragem e da fraude grupal.

 

Esta é coonestada e, mais, promovida nas mais altas esferas, sempre travestida do interesse pelas massas, que hoje em dia são manipuladas de forma inacreditavelmente insidiosa e fácil pela propaganda.

 

Não dá outra, onde quer que se olhe. Congresso (provavelmente o cancro mais podre), Executivo (inteiramente prostituído na presente gestão) e Judiciário (que sempre dá mostras de não estar à altura de suas funções) se locupletam à farta, para mais azeitadamente propiciar iguais maquinações e ludibrios aos seus contrapartes em cada setor do governo, e seu acumpliciamento com os tubarões donos do dinheiro.

 

Veja a notícia sobre cargos secretos. E logo em seguida a partição da Amazônia pelas novas sesmarias funestas, criadoras da desolação industrial e da morte final de qualquer aspiração a um papel de Estado responsável e digno no Brasil. Estupra-se, sem mais aquela, 60% de seu território para a satisfação imediata do apetite devorador das camarilhas do poder, associadas ao dinheiro espúrio, nacional e internacional.

 

Enquanto isso, o presidente da hora, autêntico anticristo republicano, ladino corruptor das massas, refestela-se num festival de autocongratulações promovidas pela sua clique e pela claque da mídia, afinal rendida aos seus encantos populistas e à sua irrefreável energia predadora dos princípios da cidadania. E o povo, desdentado e atoleimado, aplaude.

 

Preferiria não vaticinar negatividades, mas é impossível deixar de juntar essas notícias, aparentemente apartadas entre si, a revelar, nos seus liames recônditos, mas evidentes, o acelerado ritmo de uma caminhada que inevitavelmente nos levará à sujeição e à derrocada. Brasil irresponsável e ufanista, corrupto e cego, que terá, sob nossas vistas (tomara já tenhamos partido), dobrada sua cerviz diante de seus detratores.

 

Sinto imensamente a falta de uma voz corajosa, de repercussão nacional, que denuncie essa mixórdia, essa desfaçatez em que se transformou nosso país, sob a capa bonachona do suposto êxito do popular travestido em demiurgo.

 

Esse grande êxito pessoal do político solerte - propiciado pela inclinação da turba ao brilhoso e ao fácil - é o prenúncio certo da perdição do país: este, cego em meio ao maculelê e ao baticum autocomplacentes e extasiados, será presa fatal dos países mais poderosos, que o inquinarão de incapaz de controlar a própria cupidez, e a decorrente devastação da natureza. E o atacarão, belicamente. Amputando-lhe não só o polegar, como também as pernas.

 

Não tenho dúvida de que o Jânio Freitas, que não vai lá das pernas, desta vez acertou em cheio. É isso que se precisa denunciar. À boca grande. E por um ‘pena’ mais poderosa.

 

Manuel Whitaker Salles é advogado.

 

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