Correio da Cidadania

Mangabeira e as abelhas

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O ministro de assuntos estratégicos continua pautando os rumos do Brasil a partir de sua própria cabeça. As andanças pelo Brasil pouco influenciam na sua leitura do que seja o Brasil, exceto as novidades que se encaixem exatamente no que ele pensa. As mudanças na legislação ambiental, com a finalidade de facilitar o avanço do capital, têm as mãos de Mangabeira, Dilma e Lula.

 

Depois de passar pelo Nordeste, Mangabeira reconheceu que existe aqui um fenômeno econômico a partir da produção de mel. De fato, a região, baseada em produtores descentralizados, tem tornado a abundância natural de abelhas e mel um processo econômico que melhora a renda das famílias envolvidas. Já era uma prática antiga, mas os apicultores tinham todos os vícios de queimar as colméias e amassar o mel com a cera, o que resultava num mel de péssima qualidade.

 

A entrada de ONGs e do próprio SEBRAE vem melhorando o manejo e transformando esses extratores de mel em apicultores. Hoje o Brasil produz cerca de 50 mil toneladas de mel/ano, gerando 80 milhões de reais. Cerca de 350 mil apicultores estão envolvidos com a atividade, grande parte no Nordeste (http://www.abemel.com.br/).

 

O que maravilhou Mangabeira foi a tecnologia avançada para produzir um mel de qualidade. Ok, ela é importante. Mas aí Mangabeira mostrou também os limites de sua visão de mundo. Muito mais importante que a tecnologia, o que favorece a produção de mel na região é sua base natural, isto é, a caatinga ainda em pé. Com suas árvores baixas, com muita produção de flores, é a região brasileira mais apropriada para a apicultura, particularmente o sul do Piauí e o norte da Bahia. Além do mais, distante das áreas poluídas por agrotóxicos, nosso mel é considerado orgânico e puro. Portanto, sem caatinga em pé não há apicultura no Nordeste.

 

O economista Vinod Thomas, do Banco Mundial, comparando um hectare de pastagem com um hectare de floresta em pé, disse que a diferença econômica é de duzentos para dez mil dólares. Oras, com o processo de desmatamento tantas vezes incentivado pelo próprio governo federal, através da entrada do eucalipto, da cana, das carvoarias e de outros ramos do agro e hidronegócio, a caatinga está sendo devastada. O que cresce é o deserto. Portanto, não há tecnologia que salve a apicultura nordestina caso prossiga a devastação da caatinga.

 

São esses e centenas de outros exemplos que mostram como a concepção de desenvolvimento de nossas elites acaba matando nossas galinhas que põem ovos de ouro.

 

Roberto Malvezzi (Gogó), ex-coordenador da CPT, é agente pastoral.

 

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Comentários   

0 #1 O sumiço das abelhasRaymundo Araujo Filho 26-05-2009 09:51
Roberto Malvezzi, o Gogó, nos traz um importante tema. Muito mais importante do que pensa a vã tecnocracia do Mangabeira Unger.

Apontou que mais importante do que a "maravilhosa tecnologia de transformação", é a base florestal, cerradeira e catiguenta para a produção desta maravilha doce.

O Brasil tem no Piauí o maior produtor de mel do país. Um amigo meu especialista em mel, andou por lá na EMBRAPA (como concursado) e nada conseguiu de apoio, a não ser o banhozinho maria normal desta entidade monstrenga, que nos furta erário para benesses não socializáveis.

O Brasil produz boa parte do mel e derivados que nutrem o mundo. Nossa própolis (a mineira "verde", principalmente)é exportada para o Japão a preço de banana, para ser transformada em caros produtos por lá.

Nossa variedade de floradas, só é comparável a existente na China (ainda...). Podemos produzir mel o ano inteiro, em várias regiões. E não temos nem resquício de uma política apícola, digna deste nome.

As exigências das legislações sanitárias draconianas e injustas (falo como veterinário de campo que sou), impedem a expansão de pequenas Casas do Mel, dotando o produtor de meios para agregar valores, à sua produção.

O agronegócio monocultural e venenoso e a sua devastação ambiental causam já no Brasil o fenômeno do Sumiço das Abelhas (cliquem entre aspas em portais de busca"), além da contaminação do produto, na origem.

A burrice e má fé em não se adotar nas merendas escolares e hospitais públicos derivados de mel, em vez de açúcares refinados, não tem justificativa. O não uso pela medicina oficial dos produtos apícolas para tratamentos também.

Recentemente, lá nos EUA (aí, Mangaba!) após exaustiva e rigorosa pesquisa constataram o que a vovó já sabia: Que o melhor remédio para grande parte das tosses e resfriados, é o Mel. Além de ser ótimo coadjuvante, quando não remédio principal para a cura de inúmeras afecções respiratórias. Muito mais barato do que se gasta anualmente, por exemplo, com esta vacina contra gripe que tem altos índices de reações pós vacinais (a gripe que diz evitar), como vimos este ano.

Enquanto isso, produzimos apenas 10% de nosso potencial apícola.

Esta é uma elite governante que não merecemos. Precisamos reagir!
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