Um Caminho Anticapitalista no Brasil

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Antonio Julio de Menezes Neto
19/02/2009

 

A esquerda brasileira vive um momento de fragmentação e procura de rumos. É inegável que as causas não são simples. A desagregação do socialismo real e o caminho quase único vivido pela forma de reprodução neoliberal do capital foram motivos fortes o bastante para desarticular a esquerda. Concomitante, ou por causa disso, a maior parte da esquerda mundial capitulou para propostas liberais-sociais. Foi o caso de partidos comunistas e socialistas na Europa e do Partido dos Trabalhadores no Brasil.

 

Neste processo, os partidos políticos foram se descredenciando junto àqueles que mantiveram as rebeldias anticapitalistas e muitos militantes foram se abrigar em movimentos sociais e ONGs, abandonando a perspectiva da disputa do poder central. Afinal, o Brasil era um exemplo da impossibilidade de mudanças via partidos, pois as classes populares haviam construído um partido de baixo para cima, crítico ao capitalismo, que, chegando ao poder, capitulou.

 

O problema é que o partido e a disputa do poder político continuam tendo certa centralidade. Apesar da necessária autonomia entre partidos, movimentos e sindicatos, é o partido que consegue congregar as diversas lutas e os diversos interesses dos trabalhadores, dos movimentos sociais e das classes exploradas no capitalismo. Sindicatos e movimentos sociais são fundamentais, mas possuem especificidades e defendem interesses específicos. Como os partidos estão em descrédito, as lutas tornaram-se específicas e fragmentadas, dando vazão ao culturalismo pós-moderno.

 

É neste sentido que necessitamos, urgentemente, reconstruir a esquerda partidária socialista no Brasil. Estamos divididos entre diversos e minúsculos partidos, fóruns, conselhos, sindicatos, consultas, movimentos, mas não temos um ponto de união para disputarmos efetivamente o poder de Estado. E a disputa pelo poder de Estado pelas classes populares é fundamental. Sem a presença, ou apoio, de um Estado popular, como manteremos as universidades, escolas, hospitais, faremos a reforma agrária, enfrentaremos o capital especulativo, os grandes meios de comunicação e por aí afora?

 

Precisamos passar por cima de divergências e sectarismos, olhar para a história da esquerda do século passado, para aprendermos nos erros e acertos, e não para ficarmos disputando "ismos". É fundamental construir um partido que, mesmo pequeno e com diversas dificuldades em seu início (como o PT foi um dia), represente a possibilidade de contribuir para superar o capitalismo.

 

A França está seguindo este caminho, pois a esquerda francesa uniu-se e criou o Novo Partido Anticapitalista (NPA). Este partido, conforme uma de suas maiores lideranças, Olivier Besancenot, conseguiu unir grande parte da tradição anticapitalista, como os "trotskistas, socialistas, comunistas, libertários, guevaristas, ou envolvidos na ecologia radical", e se propõe a realizar uma ruptura radical com o Partido Socialista.

 

Temos aqui no Brasil um enorme potencial, pois construímos uma tradição que ainda não se perdeu nas entranhas da burocracia. Precisamos nos unir para "batermos de frente" com o poder central liberal-social, para termos pontos de referência mais concretos do que o "nosso" movimento. Pois senão, estaremos sentados em nossa impotência e reclamando que os tempos são difíceis, dizendo que o lulismo "engoliu" a esquerda.

 

Antonio Julio de Menezes Neto, sociólogo, é doutor em Educação e professor na UFMG.

 

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