Depois das Olimpíadas

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D. Demétrio Valentini
22/08/2008

 

Terminadas as Olimpíadas, é hora de voltar para casa. Dito de maneira mais ampla, é hora de voltar ao cotidiano, de encarar os problemas, de enfrentar os desafios, de cair na real.

 

Os Jogos Olímpicos servem de parábola dos embates da vida. Já São Paulo se referiu a eles. Escrevendo aos cristãos de Corinto, o porto de Atenas, evocou com evidência o cenário olímpico, para sugerir o empenho que é preciso colocar, se queremos atingir o prêmio que nos aguarda. "Acaso não sabeis que, no estádio, todos correm, mas um só ganha o prêmio? Correi de tal maneira que conquisteis o prêmio" (1Cor 9,24).

 

Até parece que a carta foi escrita em tempos de Olimpíadas. Mas como toda parábola, o significado ultrapassa o símbolo. Se ficássemos somente nas Olimpíadas, seriam poucos os ganhadores. E muitos os decepcionados. Basta conferir os resultados obtidos pela delegação do Brasil.

 

Mas olhadas como parábola, as Olimpíadas trazem lições salutares também para os perdedores, pois a vida oferece a oportunidade para todos sermos vencedores, se descobrirmos que a verdadeira vitória não é derrotar os outros, mas promover a vida de todos.

 

É o que afirma o próprio São Paulo, continuando suas reflexões sobre os jogos olímpicos. Lá, diz ele, "todos lutam para conseguirem uma coroa corruptível. Quanto a nós, buscamos uma coroa incorruptível".

 

Existe, portanto, um caminho onde todos podem ganhar, e este é o que de fato conta na vida. Mais que medalhas, as Olimpíadas nos oferecem preciosos ensinamentos.

 

Bem no meio dos Jogos, a diocese de Jales realizou sua romaria anual. Ao contrário das decepções olímpicas, todos os que participaram voltaram para casa contentes e encantados com as cenas bonitas, carregadas de simbolismos que animam a continuar agora a caminhada da vida. Desde a encenação apresentada pelos jovens, mostrando como a graça de Deus pode hoje também mudar a vida das pessoas como transformou Saulo em Paulo, até a surpresa final da imagem de Maria sendo levada ao alto à vista de todos, passando pelas bênçãos que anteciparam a certeza de que Deus do alto a todos nos contempla e acompanha com seu amor, como a imagem de Maria lá de cima fazia convergir para ela todos os olhares. Se São João estivesse presente, iria acrescentar outro capítulo ao seu Apocalipse, descrevendo o que nos aguarda além do horizonte, onde sumiu o quadro de Maria.

 

As Olimpíadas têm clara referência mundial. Contabilizados seus resultados esportivos, em forma de medalhas que expressam o prêmio aos melhores atletas, elas nos desafiam agora a olhar como está o mundo que elas tentaram representar simbolicamente.

 

Aí nos deparamos com um panorama sombrio e preocupante. Não foi por acaso que as Olimpíadas, desta vez, começaram junto com a guerra na Geórgia. Esta guerra não é episódica, como se fosse resultado de mal entendidos locais. Ela mostra que ainda não foram bem equacionadas as conseqüências do desmoronamento da antiga União Soviética. Como lá, também em outros lugares ainda existem tensões não resolvidas.

 

Prova disto é o perigoso confronto que vai aumentando diante das pretensões armamentistas do Irã, que quer a bomba atômica, a União Européia, que se fecha diante dos migrantes, a crise econômica dos Estados Unidos, que leva a acirrar as disputas no comércio internacional, além das inquietações que pululam um pouco por toda parte, fruto de situações injustas que ainda permanecem. Até parece que as Olimpíadas, ao contrário de convidar para a paz, tenham simbolizado o treinamento para disputas que se aproximam.

 

Se existe uma lição a tirar desta situação preocupante é a urgente necessidade de recuperar a utopia. Precisamos continuar sonhando com um mundo de paz, que supere as dominações, que partilhe os bens, que preserve a vida, que cultive a solidariedade, que traduza a fraternidade. Sem utopia, o mundo não encontra os caminhos da paz.

 

Daí a importância de posturas salutares, que procurem traduzir os sonhos em realidade. Assim a diocese se propõe fazer, concretizando agora seu plano de pastoral, depois das recomendações da assembléia e da celebração da romaria. O sonho justifica a tentativa de transformá-lo em realidade. Assim, poderemos continuar sonhando.

 

D. Demétrio Valentini é bispo da Diocese de Jales.

 

Website: http://www.diocesedejales.org.br/

 

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