Olimpíadas da China
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- D. Demétrio Valentini
- 08/08/2008
Com o início dos jogos olímpicos, quem entra em campo é a China. De todas as medalhas possíveis numa competição tão ampla e diversificada como esta, a China ambiciona ganhar a mais importante de todas: o atestado de país confiável, de parceiro comercial seguro, e de nação merecedora do respeito do mundo inteiro.
Os jogos olímpicos, pensados pelos antigos gregos como expressão lúdica altruísta e desinteressada, desta vez são realizados com indisfarçável interesse político e econômico pelo país que os hospeda.
A China se encontra num momento excepcional de sua história. Há cem anos atrás, o país era governado por uma dinastia que remontava a quatro mil anos. Era o país de tradição cultural mais antiga no mundo. Mas este último século sacudiu sua identidade cultural, política e econômica de maneira intensa e atordoante.
Com a implantação do regime comunista em 1949, o país foi submetido a férreo controle político, que de certa maneira continua até hoje. Mas, nas últimas décadas, a China se abriu para acolher capitais estrangeiros, que passaram a explorar as enormes vantagens comparativas que lhes são proporcionadas por uma mão-de-obra abundantíssima, oferecida por uma população disciplinada e afeita ao trabalho.
De tal modo que agora se verifica na China o que era teoricamente impensável até pouco tempo atrás: a convivência de um regime político fechado e controlador das liberdades individuais com um regime econômico de prática abertamente capitalista, sem restrições para a exploração do trabalho humano, que, por abundante e barato, contribui decisivamente para tornar os produtos chineses mais competitivos, provocando profunda desestabilização econômica em todo o mundo.
Temos hoje na China o casamento impensável do comunismo com o capitalismo, demonstrando uma surpreendente fecundidade que reforça ambos os lados da aparente contradição. Quanto maior o sucesso econômico, mais se justifica o controle social, e quanto mais este se fortalece, mais o capitalismo pode faturar dividendos.
Tudo isto vem sendo levado adiante num ritmo alucinante, que mantém contínuas taxas anuais de crescimento acima de dez por cento. A longa hibernação milenar dos tempos da antiga dinastia parece ter preparado uma população de um bilhão e trezentos milhões de habitantes, capazes de sustentar um ritmo de trabalho obstinado e tenaz. Foi isto que, em parte, levou os países capitalistas à famosa "flexibilização das leis trabalhistas".
Assim podem, ao menos em parte, enfrentar a concorrência da China, que, além da mão-de-obra abundante e barata, não se sentia no compromisso de respeitar outras convenções internacionais, como, por exemplo, o registro patenteado de inventos tecnológicos. A China se tornou o paraíso da pirataria. E seus produtos são despejados no mundo inteiro, concorrendo com os similares produzidos em outros países em condições muito vantajosas.
A estratégia para enquadrar minimamente a China no contexto das relações comerciais reguladas por convenções internacionais foi a de integrar a China nos fóruns mundiais de regularização das relações comerciais. Assim é que, só em 2001, a China foi oficialmente admitida como membro da Organização Mundial do Comércio. Aos poucos se espera que a China não instrumentalize seu crescente poderio econômico para desestabilizar as conquistas sociais já alcançadas, e que ela mesma se coloque como fator de equilíbrio econômico entre os países de todo o mundo.
A proposta de realizar, desta vez, os jogos olímpicos na China se inseriu dentro destes objetivos, desejados pelo mundo inteiro e claramente assumidos pelo governo chinês como um desafio que ele pretende enfrentar com galhardia. A China espera fazer jus à maior das medalhas que estão em jogo nestas olimpíadas: o atestado de país respeitador dos direitos humanos e promotor da paz mundial baseada na justiça econômica praticada em favor de todos os povos. Esta a medalha que a China quer ganhar. Será que ela de fato merece?
D. Demétrio Valentini é bispo de Jales.
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Comentários
Eu também vi a abertura.
Como dizia a maior teatróloga infantil Maria Clara Machado, em suas aulas que frequentávamos no Teatro O Tablado, na década de 70, "com dinheiro, barulho, disciplina e luzes", fazemos um espetáculo que distrai bem as pessoas. Mas se quiserem enviar uma mensagem e não uma sentença, i.e., fazer espetáculo digno, os elementos são outros."
Não há como não se distrair, com um espetáculo como aquele. E achar até beleza em tamanha produção.
Alguns ufanistas dizem o quão maravilhoso é a grandiosidade do espetáculo, refletindo a grandiosidade do país e de sua cultura, milenar no caso da China. Todos em ritmo do gigantismo. Do espetáculo dirigido.
Na minha opinião aquilo foi uma apropriação, por uma elite econômica e política, da milenar Cultura Chinesa, para expô-la como troféu, para o mundo ocidental. Pularam até o Comunismo!Sobre a época de Mao Tsé Tung, nem uma coreografia.
Alguns que se dizem de esquerda, se aventuram a querer usar a China, para combater o imperialismo dos EUA. Ledo (Ivo) Engano!
Os sentimentos que aportaram os primórdios da revolução Chinesa (1949), já azedaram, há muito tempo.
A China hoje detém o que chamamos Crescimento Insustentável, tanto do ponto de vista econômico, quanto Ambiental.
Fazem uma ilusão de ótica, chamam "modernização ocidental da China", melhorando a vida de 20% da população, em alto processo de urbanização, em desequilíbrio com os níveis de vida do campo. A China é o segundo ou primeiro país onde o índice de diferenças entre o desenvolvimento do Campo e das Cidades é mais abismal. Não me recordo o nome do índice, mas é vero.
O espetáculo de poluição e falta de Marcos Regulatórios para o Meio Ambiente é medieval. A exploração de mão de obra, faria muitos usineiros se acharem socialistas.
Não é à toa, que as maiores empresas dos setores mais capitalistas de produtos para as elites, estão TODAS na China, com escritórios de grande importância estratégica. De jóais a carrões.
O comércio da China com o Brasil, é igual ao da Inglaterra conosco em 1808 (abertura dos portos de D. João VI). Compram matérias primas, e nos vendem industrializados. São 75% do dinheiro para lá, e apenas 25% para cá. entenderam?
A questão da Poluição Ambiental, só engana aos bobos. Há poucos dias, tiveram de retirar 90% dos carros de circulação em Pequim, para diminuir a nuvem de fumaça.
O regime, continua de força, e com muito menos desculpas do que, por exemplo Cuba, distante apenas 80 Milhas dos EUA. Ao contrário, a China é os EUA da Àsia.
Há quem se encante com este gigante. E até pense que servirá ao combate aos EUA. Mais uma vez estão enganados.
Embora eu pense que a China terá de ser um país para seu povo e autodeterminado, não defendo nenhuma intervenção estranjeira por lá. Mas, rejeito suas influências Capitalistas de estado, por aqui.
A China é o Pior do Comunismo, com o Pior do Capitalismo.
Há quem se iluda com a alegria de 20% da população, apenas. Eu não!
Nem China, nem EUA.
A América Latina Saberá se Encontrar!
Devemos perguntar:-Só pelo país que o hospeda?
Ora, Francamente! O que são os jogos olímpicos modernos senão a grande vitrine ideológica dos exploradores de todo o mundo, a vender sonhos aos meninos e meninas pobres de todo o mundo? Reproduzindo os valores burgueses do individualismo, da competitividade e do mérito pessoal descolado das condições objetivasdaexistência? Ou melhor, consideradas as condições onbjetivas como menos importantes na "determinação" do seu futuro, pois se você quiser, você consegue. Como se o destino de brilhar como um atleta fosse o único para estes jovens pobres e como se fosse possível para todos os que querem. Sem conseguir...a responsabilidade é toda sua. Você não quis o bastante. Ora, em qual país do mundo que participa desta enorme festa de ostentação e um hipermercado de toda a sorte de produtos lícitos e ilícitos não é assim? Porque seria diferente em um país que abraçou com fervor a dinâmica do capitalismo?
É claro que não estou eximindo o antigo bloco comunista de fazer todo o esforço necessário, durante a guerra fria, para se mostrar melhor do que o bloco ocidental. Contudo, havia uma perspectiva de garantir a igualdade e as necessidades básicas da população coisa que a muito não vemos entre os voluntariosos empreendedores capitalistas. O disucrso civilizatório humanista do século XVIII não faz mais nenhum sentido no mundo ocidental. Lamentavelmente, o regime chinês ao se abrir solidarizou-se com o esgotamento do projeto civilizatório ocidental, restanto apenas seu entorpecimento deslumbrante de uma festa sem sentido, como uma "viagem" regada a ópio. Bela, mas vazia.
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