O papa nos Estados Unidos

0
0
0
s2sdefault
D. Demétrio Valentini
18/04/2008

 

Nestes dias está se realizando a visita do Papa Bento 16 aos Estados Unidos. As poucas notícias são suficientes para suscitar a lembrança da visita que ele fez ao Brasil, há um ano atrás.

 

Aqui ele veio para inaugurar a Conferência de Aparecida, evento simbólico da identidade da Igreja da América Latina e do Caribe. Nesta Igreja se encontra quase a metade de todos os católicos do mundo.

 

A simpatia com que foi recebido pelo povo brasileiro e a descontração e a espontaneidade das manifestações populares de carinho e de apreço por sua presença provocaram evidente impacto positivo no Papa, criando um ambiente de confiança que se projetou para dentro da própria Conferência de Aparecida. O povo mostrou seu protagonismo, indicando que os caminhos da Igreja passam pela identificação e proximidade com o povo.

 

A visita de agora acontece num momento crucial da Igreja Católica nos Estados Unidos, com suas notórias peculiaridades. Uma Igreja jovem, tanto que as dioceses mais antigas completam agora apenas duzentos anos de existência. Só após a independência da Inglaterra a Igreja Católica iniciou sua estruturação nos Estados Unidos. E já é, singularmente, a maior Igreja daquele país.

 

Para explicar seu crescimento e sua composição é preciso levar em conta o grande contingente de imigrantes, sobretudo da Irlanda, que lhe deram consistência populacional. Mas hoje cresce de importância a presença dos latinos. Quase a metade dos católicos dos Estados Unidos são hispanos.

 

Este o desenho populacional da Igreja neste país. Bem mais complexa é a sua situação eclesial e pastoral. De maneira muito dolorosa, a Igreja Católica nos Estados Unidos precisou suportar severas acusações de crimes sexuais praticados por alguns componentes do clero. Sem negar a gravidade de fatos realmente ocorridos, a Igreja enfrentou o equívoco das fáceis generalizações, e a exploração da "indústria judicial", que conseguiu indenizações milionárias, cobradas das dioceses, em virtude da vinculação jurídica lá existente entre os membros do clero e suas respectivas circunscrições eclesiásticas.

 

Esta situação já está sendo superada, graças também à franqueza com que foi enfrentada pela Igreja. O próprio Papa em sua visita aborda a questão, inserindo-a no contexto mais amplo dos desafios desta Igreja que, segundo o Papa, sempre se caracterizou por grande dinamismo pastoral.

 

As duas visitas intercontinentais realizadas por este Papa, no ano passado na América Latina, e agora nos Estados Unidos, colocam com evidência o problema do futuro da catolicidade. Por onde passa o futuro da Igreja Católica?

 

É uma pergunta que precisa ser feita. Não certamente para sugerir uma uniformização da Igreja segundo um determinado modelo continental. Nem mesmo o modelo europeu, que está na origem histórica da implantação das Igrejas em nosso continente.

 

Antes, a diversidade de situações mostra a conveniência de uma adequada descentralização da Igreja, que poderia se adaptar melhor às culturas locais, enriquecendo-se com experiências válidas de inserção vital na história de cada povo onde ela é chamada a encarnar o Evangelho.

 

Nesta perspectiva, as visitas do Papa servem de estímulo para a diversidade de realizações eclesiais, cada qual com seu rosto próprio, e ao mesmo tempo um impulso para a comunhão universal, num mundo que cada vez mais se sente globalizado, mas necessitado de autonomia local e de respeito pela alteridade.

 

D. Demétrio Valentini é bispo de Jales.

 

{moscomment}

0
0
0
s2sdefault