Correio da Cidadania

2017: fracassos do neoliberalismo e do neodesenvolvimentismo no Brasil

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O ano de 2017 termina marcado pelas contínuas crises política, social e econômica no Brasil.

A continuidade dessas crises expressa fracassos político-ideológicos dos grandes blocos burgueses que se revezaram no poder nos últimos anos: o neoliberal, dos governos FHC e Temer, e o neodesenvolvimentista, dos governos Lula e Dilma.

O governo Temer, sem nenhuma legitimidade social, parece entrever o fim da recessão, mas a que custo? Grande desemprego e retirada de direitos sociais e trabalhistas resultam em duas consequências distintas.

No plano sociopolítico, mais visível, Temer repete o fim da era FHC, sendo um governo de baixíssima popularidade, odiado pelos mais pobres por seu elitismo, conservadorismo e por sua corrupção – mesmo com toda a blindagem nas redes sociais, promovida por MBL, bolsonaristas e cia.

Insiste-se no discurso reformista com Henrique Meirelles, enquanto o PSDB tenta evitar o abraço mortal do antipopular PMDB nas eleições de 2018.

No plano socioeconômico, menos nítido, pode se revelar uma percepção popular de que não basta a economia voltar a crescer, se assim se dá às custas de sacrifícios ainda maiores da classe trabalhadora. Esta contradição, contudo, se volta também para o neodesenvolvimentismo lulista: de que adiantou o Brasil crescer na década passada, se tudo ruiu como um castelo de cartas nos anos seguintes? A popularidade atual de Lula, neste sentido, pode ser tênue como antes se mostrou com Dilma.

Enquanto o neoliberalismo brasileiro do século 21 fracassa em termos de legitimidade política, o neodesenvolvimentismo lulista fracassa na mobilização pré-eleitoral que durou todo o ano de 2017.

A narrativa do golpe é achincalhada dia a dia, com a retomada dos laços de Lula/PT/PCdoB com os mesmos partidos conservadores de sempre, PMDB à frente. O discurso da militância lulista nas redes sociais é negado na prática, apesar de sua estridência.

As bandeiras do lulismo não tiveram nenhum apelo popular, caso das finadas Diretas Já, canoa furada em que o setor reformista do PSOL embarcou. O mesmo se deu com a defesa da “democracia” e dos direitos eleitorais de Lula.

As frentes políticas lulista (Frente Brasil Popular) e neolulista (Frente Povo Sem Medo) produzem resultados políticos inócuos, dada a falta de apelo social na insistência no programa democrático-popular, que fracassou, como é inevitável – mais cedo ou mais tarde – em qualquer política de conciliação de classes no capitalismo periférico.

Tais fracassos do lulismo contrastam com a centralidade das lutas sociais que se afirmou em 2017. Impôs-se o que a esquerda socialista (parte do PSOL e do MTST, além de CSP-Conlutas, PSTU, PCB e anarquistas/autonomistas) propunha: uma pauta classista, de defesa dos direitos dos trabalhadores, das mulheres, negros, jovens etc., estrategicamente combatendo as contrarreformas de Temer.

O exemplo mais vitorioso da luta política em 2017 foi a Greve Geral de 28 de abril e o ato em Brasília no mesmo dia (que, à base de muita ação direta, balançou o governo Temer), os quais desmontaram as ilusões lulistas e deslegitimaram, na prática, o reboquismo praticado pelas direções do PSOL (Unidade Socialista e Insurgência) e do MTST em relação ao mesmo lulismo.

Daí a rápida reação destes e outros setores, CUT e Força Sindical à frente, em desmobilizar a greve geral de junho e em desconvocar a greve geral de dezembro.

Os gabinetes da ex-querda lulista apostam mais uma vez em tecnocráticas políticas públicas, supostamente redentoras de nossa desigualdade – que, no entanto, não diminuiu nos governos do PT. Aferrados cegamente ao colaboracionismo de classe, temem as ações de rua e a participação pela base das massas populares, em nome do eleitoralismo que quer nos fazer esperar 2018.

Não conseguem perceber que qualquer mudança institucional precisa ser impulsionada e sustentada pela luta autônoma e combativa das classes trabalhadoras.

Elas talvez estejam retomando algumas lições que já aprenderam, desde os anos 1970 e 80 ao menos.


Marco Antonio Perrusso é professor de Sociologia da UFRuralRJ, militante do PSOL e do ANDES-SN.

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