Correio da Cidadania

O velho macacão e as eternas ilusões

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Um filho da classe trabalhadora que enveredou pela militância sindical e política alcança grande prestígio popular e chega até a presidência da República. Seu governo, em que pese a grande expectativa gerada em meios de esquerda, se caracteriza pela gestão dos negócios do Estado capitalista e por uma política de conciliação de classes facilitada por um período de crescimento econômico. Com o sucesso dessa política, ele termina o primeiro mandato envolto em grande popularidade e consegue a reeleição. No segundo governo, repetiu a fórmula conciliatória, mais uma vez pavimentada pela valorização das commodities.
     
Envolto na aura de grande estadista, promovido pelos meios de comunicação, enaltecido pelo grande empresariado, pelas multinacionais, governantes de países ricos e pelas instituições do capitalismo internacional, conclui o segundo mandato em condições de eleger o sua sucessora, o que acaba por conseguir, fechando um ciclo de grandes vitórias pessoais e do seu partido.
     
A sua sucessora na presidência tentou trilhar o mesmo caminho, mas o pano de fundo que permitiu o sucesso anterior mostrou-se esgotado. O ciclo de crescimento econômico lastreado na contínua e estupenda valorização dos produtos da pauta de exportação inverteu os sinais. A crise capitalista batia à porta.
     
A partir daí, o castelo de cartas da conciliação de classes caiu, a ampla coalizão que sustentava o apoio político no Congresso virou pó. Começam a vir à tona graves denúncias de corrupção; as facções burguesas, antes aliadas, romperam com o governo e articularam com a oposição de direita um golpe parlamentar para remover a presidente. O seu próprio vice se colocaria à cabeça dessa conspiração política.
     
Então, o destino daquele filho da classe trabalhadora não seria mais o mesmo. Os tempos de tranquilidade e bonança, de prestígio político, mordomias e viagens internacionais ficariam no passado. A crise econômica, parteira da crise política, não deu trégua e como consequência trouxe à tona uma enxurrada de denúncias, que atingiriam em cheio o seu governo, o da própria sucessora e também daqueles que tramaram a sua queda. O outrora enaltecido estadista agora se vê num emaranhado de investigações e processos de corrupção, denunciado por empresários, altos burocratas e políticos que faziam parte da sua base de apoio.
     
Como sabemos, esse filho da classe trabalhadora governou com e para o grande empresariado. Há muito tempo ele trocou o macacão pelo colarinho branco, tem as contas bancárias e o padrão de vida de um burguês. Ainda assim, há quem ache legítimo que as empresas detentoras de contratos com o governo paguem fortunas por suas palestras ou defenda que as negociatas em que está envolvido não sejam julgadas pela justiça burguesa, pasmem, reivindicando que ele deveria ser julgado por um pretenso tribunal da classe trabalhadora, como se a ela, de alguma forma, ainda pertencesse!
      
Só mesmo no imaginário político repleto de ilusões de certa intelectualidade pequeno-burguesa Lula ainda vestiria seu velho macacão.

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Ney Nunes é dirigente do PCB.             

Ney Nunes

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