D. Cappio e as alternativas populares

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Antonio Julio de Menezes Neto
21/12/2007

 

 

O BIRD divulgou novos dados em que o Brasil aparece com o sexto maior PIB do mundo, ao lado de países como a Inglaterra, a França, a Rússia e a Itália. Perde para os EUA, a China, o Japão, a Alemanha e a Índia. Esta notícia deveria nos levar a uma reflexão acerca de “que país queremos”, indo além do debate sobre a nossa triste distribuição de renda e da concentração do PIB nas mãos de alguns enquanto a grande massa vive de bolsa-família. Pois estas discussões, muitas vezes, pregam a melhor distribuição de renda apenas como um direito de todos entrarem no “sagrado reino” da mercadoria e do consumismo. Quero ir além e discutir qual o sentido produção de tantas mercadorias. Também quero questionar o quê estamos produzindo, para quê e, finalmente, para quem.

 

No mundo capitalista o ser humano torna-se escravo da mercadoria. Assim, se produzimos muito e vendemos muito, o PIB cresce, o emprego aumenta, os impostos avolumam e por aí vai. Para tanto, produzimos por produzir, produzimos para vender. Não existe planejamento das necessidades e a população não é consultada acerca do que deve ser priorizado. Somos apenas induzidos a irmos ao mercado adquirir as mercadorias que foram produzidas por outros e das quais somos alienados. Ou seja, somos conseqüência da produção e circulação das mercadorias. Mas será que não estaria na hora de questionarmos este modelo e exigirmos debater o que produzimos, o que necessitamos e o que queremos?

 

Faço estas reflexões para questionar este sistema e para apoiar a luta de um bispo. Sim, a luta de Dom Cappio no seu jejum tem muito a ver com esta discussão. Pois Luiz Cappio luta contra este modelo de “desenvolvimento e progresso” simbolizada pela mega-obra de transposição do rio São Francisco para desenvolver o hidro/agronegócio e favorecer grandes empreiteiras. Possivelmente, os defensores desta lógica achem que, desta maneira, criaria-se emprego na construção da obra, nas futuras atividades agronegociais, no comércio, etc. Ou seja, a mesma lógica capitalista que poucos frutos sociais carrega.

 

Mas, diante deste modelo, o governo está conhecendo, talvez pela primeira vez, a oposição popular organizada. Diversos movimentos sociais, como o Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), o MST, o Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA), a Central dos Movimentos Populares, o Movimento Nacional de Luta pela Moradia ou movimentos religiosos, como as diversas Pastorais, a CPT, o CIMI, dentre muitos outros, estão manifestando apoio ao bispo e propondo um outro modelo de desenvolvimento. Um bispo está levando a que o governo Lula e seu modelo de desenvolvimento capitalista sejam questionados pela base.

 

Mas qual seria este “outro” modelo de desenvolvimento? Em primeiro lugar, não viria de cima para baixo e nem viria para atender interesses de grandes empresas. As necessidades seriam discutidas e debatidas com as populações envolvidas e interessadas. Em segundo lugar, a extensão ou tamanho da obra não seria prioritário apenas porque renderia frutos políticos ou envolveria muito dinheiro. Às vezes, soluções menores e mais equilibradas podem apresentar melhores resultados sociais. Em terceiro lugar, a relação ser humano/natureza seria levado em conta como fator de qualidade de vida. Em quarto lugar, as obras poderiam ser desconcentradas, permitindo um controle social mais amplo. Em quinto lugar, o ser humano seria a prioridade. Esclareça-se que este novo modelo não seria sinônimo de “tecnologia atrasada”. Pelo contrário, teríamos o compromisso de usar a ciência e a tecnologia de ponta para desenvolver este modelo e não o modelo capitalista de grandes e concentradas obras.

 

Neste sentido, seria indiferente o lugar que ocupássemos no ranking do PIB, mas certamente construiríamos uma sociedade mais justa, equilibrada e feliz, como, tenho certeza, deseja o Bispo Luiz Cappio.

 

 

Antonio Julio de Menezes Neto é sociólogo, doutor em educação e professor na UFMG.

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