Correio da Cidadania

Fatos políticos de uma curiosa quinta-feira

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O editorial do Estadão afirma que a Lava Jato foi longe demais, que a delação premiada está comprometendo todo o sistema político, que não pode ser considerado de conjunto como uma quadrilha.

Na TV, o programa político do PR termina com o deputado Tiririca dizendo, com o Congresso de fundo, que tem gente que quer por fogo no circo, mas que o circo não pode parar.

Na Folha de S. Paulo, Zé Dirceu, no primeiro artigo após ser solto, faz uma guinada à esquerda, volta a falar em revolução, ataca o rentismo financeiro, diz ser contra a conciliação, mas termina o artigo falando em um novo pacto.

Nenhuma palavra, é claro, de autocrítica ou para dizer que o rentismo financeiro e a conciliação chegaram ao auge com Lula, quando os banqueiros nunca lucraram tanto, como o próprio gostava de falar.

Atacar a conciliação e o rentismo financeiro, no entanto, é quase como atacar a essência do lulismo. Das alianças com Collor a apertos de mão com Maluf, não houve indignidade que o PT não cometesse. Desde a Carta ao Povo Brasileiro, de 2002, o dogma do superávit primário para o cumprimento dos pagamentos da dívida pública é a cartilha petista.

No fundo, o grande serviço que Lula fez e continua oferecendo à burguesia é o de ser o grande conciliador. O PT após ser eleito nunca apelou às ruas, ao contrário, serviu de freio deliberado.

Num momento em que houve uma divisão entre quem quer aprofundar a devassa, após ela ter chegado a Aécio e a Temer, e os que querem a todo custo garantir o programa de Jucá de abafamento e ajuda mútua dos peixes grandes, é compreensível o alarme do Estadão.

Objetivamente, a delação da JBS foi uma derrota enorme do governo, especialmente do próprio Temer, mas também do PSDB. O PT, é claro, tampouco escapa. Ainda mais diante do que pode vir da boca de Palocci.

Nesse momento, em que se fala de saída por via de eleições indiretas, em que o governador do Maranhão propõe pacto FHC/Lula, que se ventila uma chapa Rodrigo Maia e Aldo Rebelo (!), o que mais expressa a posição do PT não é, certamente, a guinada à esquerda do acossado José Dirceu, que não anda mais em jatinhos de empresários nem trabalha como lobbista de bilionários, mas o que falam os que realmente mandam no PT e continuam frequentando o andar de cima.

Entre estes estão os seus cinco governadores que, de fato, não fizeram nada contra o impeachment nem fazem agora pela derrubada de Temer. Os deputados do PT, lembremo-nos, votaram em Maia e em Oliveira nas respectivas presidências legislativas.

O imponderável para o futuro imediato é o temperamento popular. Se houver nova data de greve geral ou se a campanha por Diretas Já deslanchar, não só o governo cai, como as margens de manobra para evitar a antecipação das eleições diminui.

O grande desafio então será escapar da ilusão farsesca de que Lula pela terceira vez seria uma alternativa.

Como já se disse, com ele não seria apenas mais do mesmo, mas menos do mesmo, ou seja, mais conciliação e menos concessões sociais.

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Henrique Carneiro é historiador e professor da USP.

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