Correio da Cidadania

Dom Paulo Evaristo Arns entra na história e se torna presença viva de geração em geração

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“Esse bispo é um safado, vagabundo. Defensor de direitos humanos. Fica defendendo bandido. Tem que morrer!”

 

Estas e outras palavras, verdadeira ofensas e xingamentos, junto com gestos corporais explicitavam o ódio a Dom Paulo, por aqueles que a proferiam. Foram as primeiras palavras e a primeira vez que escutei falar de Dom Paulo Evaristo Arns.

 

Não me recordo ao certo, mas o fato ocorreu entre 1991 e 1992. A cidade era Sorocaba e eu, um garoto que como tantos outros queria apenas ser jogador de futebol.

 

Tinha acabado de sair de um jogo de futebol na ADPM (Associação Desportiva da Polícia Militar) e junto com alguns colegas resolvemos regressar alguns quilômetros a pé - transporte público e gratuito é problema antigo! - para nossas respectivas casas e usarmos o dinheiro para beber um refrigerante e comer uma coxinha. Paramos na lanchonete e assim fizemos.

 

Foi neste ambiente que escutei pela primeira vez falarem sobre Dom Paulo, logo após o anúncio de uma reportagem.

 

Aquilo me deixou muito impressionado, criado em uma família católica de fé piedosa, aprendi desde tenra idade que padres e bispos eram o elo de ligação de Deus na terra. Como alguém poderia falar tal coisa?

 

Ao chegar em casa comentei sobre o ocorrido. Minha mãe prontamente saiu em defesa. Meu pai parecia inclinado em acreditar na versão corrente – muito comum à época, diga-se.

 

Perguntei ao meu então catequista, que me explicou pacientemente sobre a importância das ações de pessoas como Dom Paulo, fazendo uma relação direta com o Evangelho. Este episódio, junto com tantos outros que as circunstâncias da vida nos apresentam, foi daqueles que desperta em nós um espirito crítico e questionador perante as injustiças do mundo.

 

Anos se passaram, do interior vim para cidade grande, Dom Paulo já não era mais Arcebispo de São Paulo. Não me tornei jogador de futebol e a vida me fez um leigo militante das causas do Reino.

 

Conheci uma quantidade considerável de pessoas, muitas responsáveis por minha formação, que conviveram com Dom Paulo e sempre animadas contaram sobre diversos momentos felizes e de lutas, sempre travadas em defesa do ser humano.

 

É impossível alguém desejoso de conhecer os processos históricos de luta por justiça e direitos humanos no Brasil não passar por Dom Paulo. É, neste momento, que Dom Paulo atravessa gerações e se faz presente na vida de todas e todos lutadores que gastam suas vidas por um mundo de justiça e paz!

 

Por isso, Dom Paulo será conhecido minuciosamente por gerações e gerações, pois ele é exemplo encarnado na história. Exemplo de luta, coragem e autêntica defesa do ser humano. É exemplo de que mudar é possível, que nos anima na caminhada da vida, a continuarmos lutando pelo Reino.

 

 

Daniel Monteiro Lima é membro do Coletivo Revolucionário de Libertação (CORDEL) e coordenador do Instituto Monsenhor Antunes.

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