Sobre o golpe

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Givanildo Manoel
31/08/2016

 

 

 

 

 

Assisti ontem parte do depoimento de Dilma e dos debates ocorridos no Senado no processo de golpe. Hoje não tenho dúvida que o seja. Admito que durante um tempo tive muitas dúvidas, mas diante de inúmeras evidências fiquei convicto sobre o ataque democrático que se estabeleceria.

 

O que realmente fica difícil é não pensar como esse golpe vem sendo construído. Não é de agora e nem é de hoje que inúmeras violações ocorrem, tendo como uma de suas expressões mais perversas as mortes e o encarceramento massivo, principalmente, de jovens indígenas e negros, as remoções forçadas, a destruição ambiental, entre tantas outras que deixariam esse espaço pequeno.

 

Não posso tampouco deixar de pensar quantas vezes a ordem legal foi quebrada e quantas pessoas sofreram com essas violações.

 

Mas o que tem de diferente nesse processo?

 

Feito o golpe, o patamar de violações aumentará terrivelmente e acontecerá de diversas formas: aumentará a violência policial (como já pudemos ver nesta segunda-feira, 29, com a ação da PM atacando idosas e crianças na avenida Paulista), a criminalização crescerá assustadoramente, se legitimará a falta de controle da violência do Estado - como já anunciou o atual Ministro da Injustiça, o que resultará no cada vez maior número de mortes praticadas por agentes policiais.

 

De fato, é uma situação construída para atacar mais ainda os direitos trabalhistas do povo e atender mais ainda os interesses do capital e dos setores privilegiados. Mas não nos enganemos. Pelo que se desenhava, até então, com o PT no governo as consequências não seriam tão diferentes no que se refere aos ataques aos direitos dos trabalhadores.

 

Qual a diferença?

 

A diferença é que um grupo, assumidamente mafioso, assumirá a direção do Estado e nenhum código, além dos seus interesses, será respeitado. Ou seja, se antes o Estado ainda mantinha alguma aparência republicana, agora veremos que não mais haverá nenhum tipo de mediação diante dos "conflitos" estabelecidos, dentro daquilo que conhecemos vagamente como democracia. Assim, é ainda mais urgente o avanço e a resistência da luta pelos direitos das trabalhadoras e trabalhadores.

 

Não entremos no barco de quanto pior melhor, porque o pior atingirá muito mais aqueles que não conseguem se organizar para se defender diante do que está por vir.

 

A lógica do "quanto pior melhor" também não eleva a consciência da classe. É importante observar que a precarização da vida não eleva a consciência de classe, ao contrário: os setores que não tiveram acesso a processos formativos – hoje a grande maioria – acabam direcionados para uma resolução “mais fácil” de seus problemas.

 

Como a história já demonstrou em momentos como o que antecedeu a Segunda Guerra Mundial, com ascensão do nazismo e do fascismo, a resposta fácil acabou por "justificar" a perseguição, a opressão e, por fim, o assassinato de dezenas de milhões de trabalhadores na Europa.

 

Não é um cenário fácil, principalmente quando temos dificuldades de espiarmos nossas responsabilidades. Não será fácil! Precisaremos de uma dose enorme de generosidade para fazer a autocritica, entender que o melhor pensamento da humanidade está sendo derrotado e precisaremos fazer um longo percurso. Não sabemos quanto tempo ainda durará, mas precisamos, principalmente nesse momento, ser mais fraternos e generosos entre nós, porque os tempos que virão exigirão muito desse esforço.

 

Pra finalizar, sim, sou contra o impeachment. Ainda que não visse muitas virtudes de Dilma, passei a respeitá-la mais por ter encarado a máfia instalada nas instituições de Estado. Ela tem o meu respeito e, de resto, continuaremos fazendo uma oposição programática ao PT, ao PSDB, ao PMDB e a todos os partidos que cumprem um papel de submissão aos interesses do capital, contra os interesses da maioria.

 

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Givanildo Manoel é ativista social, membro do Tribunal Popular – o Estado no Banco dos Réus e do Comitê pela Desmilitarização da Polícia e da Política.

 

 

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