Energia suja em Pernambuco

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Heitor Scalambrini Costa
17/05/2011

 

As mudanças climáticas relacionadas com a degradação ambiental serão o tema dominante dos próximos anos da humanidade. Níveis crescentes de emissões de dióxido de carbono e gás metano na atmosfera têm provocado conseqüências desastrosas à raça humana, resultando no aumento da intensidade e da freqüência dos fenômenos como terremotos, furacões, erupções, tornados, inundações, entre outros.

 

Boa parte dos atuais problemas é provocada pelas atividades humanas, particularmente devido ao modo de produzir e consumir. O que está levando o planeta a uma situação tal que poderá, se nada for feito, provocar uma alteração irreversível no clima, com conseqüências físicas, econômicas e sociais catastróficas. São as fontes energéticas atuais como o petróleo/derivados, gás natural e carvão mineral responsáveis por mais de 2/3 das emissões de gases de efeito estufa no mundo.

 

O atual momento de investimentos e crescimento econômico que passa o estado de Pernambuco deve ser analisado criticamente, pois obedece a uma mentalidade desenvolvimentista, ainda calcada na visão do século passado do "crescimento a qualquer custo", ignorando a dimensão sócio-ambiental. Temos de nos posicionar contra clichês alardeados e flagrantemente falsos, que dizem respeito ao modo de governar o estado, de ser o novo, de se proclamar como exemplo para "um novo caminho para um novo Brasil".

 

Alem do desmatamento permitido (mangues e o pouco que resta de fragmentos da Mata Atlântica) para a ampliação do Complexo Industrial e Portuário de Suape, o governo do estado tem incentivado e justificado empreendimentos de geração de energia elétrica, como a implantação das termoelétricas movidas a combustíveis fósseis. Em maio de 2010 foi anunciada pelo grupo finlandês Wärtsilä a construção da usina termelétrica Suape II, com uma potência instalada de 380 MW, em um terreno localizado às margens da rodovia PE-60, funcionando com óleo combustível; uma sujeira só para o meio ambiente. O projeto do tipo "chave na mão" (turnkey) pertence a um grupo formado pela Petrobrás e a Nova Cibe Energia (Grupo Bertin), prevendo o início de operação comercial para 1º de janeiro de 2012.

 

O óleo combustível, que dentre os combustíveis fósseis é o que mais contribui ao efeito estufa e para as mudanças climáticas, emite para cada 0,96 m³ de óleo consumido 3,34 toneladas de CO2, segundo a Agência Internacional de Energia. Estima-se que a emissão anual desta instalação será de pelo menos 2 milhões de toneladas de CO2.

 

A construção no município do Cabo da Usina Termoelétrica Suape II, com previsão de outra termoelétrica (a Suape III?) também movida a óleo combustível, é exemplo de empreendimento que vai na contramão do grande desafio atual, o da substituição dos combustíveis fósseis pelas fontes renováveis de energia.

 

Em nome de alavancar o desenvolvimento do Estado, com investimentos na região, criação de novos postos de trabalho e geração de renda, se perpetua um modelo predatório, cujas conseqüências podem ser traduzidas na aceleração da degradação ambiental e no aumento das emissões de gases de efeito estufa, responsável pelas mudanças climáticas. Além de pressionar os problemas econômicos e sociais com mais concentração da riqueza gerada.

 

Apesar do discurso pela busca de sustentabilidade entre empresas e governo ser cada vez mais recorrente, Pernambuco tem aumentado a produção e o consumo de energia suja. Aqui o crescimento econômico não combina com preservação ambiental, pois tem gerado um aumento da poluição, que torna seu desenvolvimento insustentável.

 

Heitor Scalambrini Costa é professor associado da Universidade Federal de Pernambuco.

 

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