Correio da Cidadania

Documentário ‘Belo Monte: Depois da Inundação’ ganha download gratuito

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No dia 14/3, Dia Internacional de Ação pelos Rios, de luta contra barragens e pelos rios vivos, foi um dia especial para lembrar da tragédia do Rio Doce, em novembro de 2015 (e ainda sem solução, nem punição), da hidrelétrica faraônica de Belo Monte (a 4ª. maior do mundo – e daí? – e uma das obras mais violentas e controversas do país) e da luta do povo Munduruku contra a construção de uma hidrelétrica no Rio Tapajós.

Também foi dia de lembrar de todas as comunidades que tiveram (ou ainda terão) suas vidas devastadas pela construção de barragens e se organizaram em movimentos sociais contra todas as outras obras planejadas pela sanha desenvolvimentista em nosso país. Mas também bom para lembrar de histórias inspiradoras como a dos índios Ashaninka, no Peru, que lutaram e conseguiram salvar o rio Ene de uma obra devastadora que os condenaria à fome e à tristeza. Não esquecer, portanto, que vale a pena lutar e se mobilizar. É importante resistir e tentar.

E é essa uma das mensagens do belíssimo e forte documentário Belo Monte: depois da inundação, lançado em dezembro de 2016. Dirigido pelo cineasta Todd Southgate – Brent e narrado por Marcos Palmeira, relata a situação de Altamira, depois da obra concluída e de seu reservatório inundado.

O que se vê é a triste realidade na qual vivem os povos ao redor do rio Xingu. Conta a história de lutas dos povos indígenas, dos movimentos sociais e de aliados, por meio de entrevistas com líderes indígenas, ativistas e moradores locais, e de imagens impactantes.

O documentário prova o que é óbvio: que só há perdas com a construção de hidrelétricas e que o investimento – geralmente, muito aquém do planejado, como aconteceu em Belo Monte – e o retorno com a obra não se justificam. “A obra custou mais de 30 bilhões de reais – na sua maior parte, financiado com dinheiro público – e deixou um legado de violações de direitos humanos e danos socioambientais, que desestruturaram meios de vida das comunidades locais do rio Xingu”. Desde o início da obra, Altamira vive uma explosão de violência que só piorou com seu término já que boa parte dos forasteiros ficou por lá. A cidade está entre as dez mais violentas do país.

Li no site do Greenpeace que, no lançamento em Brasília, com a presença dos povos do Xingu, Todd disse: “se Maomé não vai à montanha, a montanha vai a Maomé! Vamos levar Belo Monte para o conhecimento de todos”. É isso mesmo!

É importante que todos – brasileiros e estrangeiros, crianças e adultos, gente dos grandes centros urbanos ou do interior, do meio do mato – conheçam a realidade dessa obra para que crimes como esse nunca mais sejam possíveis e os projetos que não puderem ser impedidos sejam devidamente acompanhados, respeitem leis ambientais e tenham análises e estudos como base para evitar impactos sociais como os provocados em Altamira.

Para realizar o filme, Todd contou com a parceria preciosa de Brent Millikan, da ONG International Rivers, que além de trazer apoio financeiro da Culture of Resistences (EUA), o acompanhou em todas as filmagens e ainda é o responsável pelo lançamento e pela divulgação no mundo. A produção foi realizada a seis mãos: o diretor, Brent e Christian Poirier, da Amazon Watch.

“Não fiz o documentário sozinho. Ele é quase 100% voluntário e o resultado de uma força coletiva, de muitas pessoas e organizações – Greenpeace, Uma Gota no Oceano... – que acreditavam no filme. O mais importante era contar a história”, ressalta Todd.

Premiado com o troféu de júri popular no Festival CineAmazônia realizado em Porto Velho, o documentário também foi indicado para o Colorado Environmental Festival, e é, sem dúvida, uma  ferramenta importante para conscientização e mobilização. Deve ser visto nas escolas, em praça pública, nos condomínios, em congressos, na ONU... Com certeza, inspirará debates em qualquer lugar onde existam pessoas interessadas na preservação e na justiça social.

E para celebrar os rios, a água e a vida, Todd anunciou a liberação do documentário para download gratuito – você pode assisti-lo no final desta matéria – além de sua exibição online no site do filme.

Agora, é só espalhar a notícia por todas as redes: pessoais ou virtuais. E criar movimentos que ajudem a impedir que mais crimes como os do Rio Doce e o de Belo Monte sejam cometidos. E que, se acontecerem, seus responsáveis sejam punidos pela lei.

A luta continua. Resistência é a marca deste ano, em todas as frentes. Melhor ainda se pudermos usar ferramentas poderosas e amorosas como o documentário de Todd e de sua linda equipe.

Quem é Todd Southgate

 

O cineasta é canadense, mas tem o coração mais brasileiro do que muita gente que eu conheço. A alegria é brasileiríssima também.

Este ano, desfilou na escola Imperatriz Leopoldinense para cantar o Xingu ao lado de seus amigos, como Marcello Kaminatah (na foto ao lado). Mora em Florianópolis com a mulher, Alice, e seus bichos amados.

Formado em estudos ambientais pela York University, em Toronto, Canadá, dirigiu, filmou e escreveu mais de 60 vídeos e programas ambientais para TV sobre temas como mudanças climáticas, desmatamento, exploração dos oceanos, entre outros.

Colabora com inúmeras organizações não governamentais como Greenpeace, Amazon Watch, Action Aid, International Rivers, Conservation International, além de realizar trabalhos com James Cameron (filmes Avatar e Titanic) e com a família Schurmann.

É diretor de fotografia de uma nova série do programa Animal Planet (Biggest and Baddest), que documenta os maiores e mais perigosos animais selvagens.

Agora, assista ao documentário Belo Monte: depois da inundação, dirigido por ele.

Veja também:

Índios Munduruku: Tecendo a Resistência



Mônica Nunes é jornalista do Conexão Planeta, onde a matéria foi originalmente publicada.

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