Correio da Cidadania

Estados Unidos, longe da independência energética

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Tal como vários na América Latina vêm dizendo há ao menos dois anos, uma matéria do jornalista especializado Louis Sahagun, publicada em 20 de maio por Los Angeles times (http://www.latimes.com/business/la-fi-oil-20140521-story.html) afirma que “em 2011 uma empresa independente contratada por Washington (trata-se de uma consultora de engenharia, Intek, com sede na Virgínia) fez uma errônea estimativa do petróleo tecnicamente recuperável da maior jazida de xisto betuminoso do país, localizada em Monterrey, Califórnia, que continha aproximadamente dois terços das reservas de petróleo de xisto da nação.

 

Segundo aquela estimativa, poderia se obter uns 13,7 bilhões de barris de petróleo. No entanto, um relatório recente assegura que a quantidade não é maior do que 600 milhões de barris, ou seja, uma quantidade 96% menor do que esperado (e que, como ressalta a publicação especializada Business Insider, equivale às reservas totais de petróleo da Bolívia). “Essa errônea estimativa de 2011” – segue dizendo o diário – “havia sido qualificada como a esperança para reduzir a necessidade do país em relação às importações de petróleo do estrangeiro”.

 

A quantidade que agora informa a EIA (Agência de Informações de Energia dos Estados Unidos, dependente do Departamento de Energia do governo federal) é insignificante se levar em conta que “só poderia cobrir as necessidades energéticas dos Estados Unidos correspondentes a 33 dias”.

 

Para dizer o mínimo: toda essa história foi uma fantasia estatística, fruto do desespero de Washington para conseguir sua tão esperada independência energética combinada com a fenomenal inaptidão de quem elaborou as estimativas iniciais e, por que não, os interesses corruptos de alguns grandes consórcios da indústria – conivente com as construtoras de outrora – interessados em facilitar a realização das operações especulativas no mercado petroleiro mundial. A independência energética dos Estados Unidos, que muitos acreditavam estar na esquina, atuou como um freio sobre o preço do petróleo, fez possíveis aquisições baratas de ativos petroleiros no exterior, desvalorizados diante das perspectivas abertas pelo relatório citado e se prestou a todo tipo de especulação. Mas agora a festa acabou. Assim como declara J. David Hughes, um geólogo porta-voz do Post Carbon Institute, o xisto de Monterrey “sempre foi um mito lendário cuja importância foi inflada pela indústria petroleira – nunca existiu”.

 

A íntima relação que o capitalismo atual estabeleceu entre petróleo, política e guerra permite extrair quatro conclusões preliminares.

 

Primeiro, que a dependência energética dos Estados Unidos continuará sendo muito elevada, e talvez crescente em função da evolução da demanda doméstica, e que isto reforçará as tendências belicistas do império para tratar de assegurar a obtenção do petróleo que necessita por qualquer meio, a qualquer preço e em qualquer lugar. Não esquecer que desde o século vinte as intervenções militares dos Estados Unidos em três países tiveram como causas fundamentais o petróleo e as presentes ameaças à “segurança nacional” plantada por governos que não estavam dispostos a sacrificar a autodeterminação nacional.

 

Segundo, que os planos para destruir a OPEP – um objetivo altamente acariciado por Washington desde 1973 – a partir do auto-abastecimento petroleiro – terão de ser arquivados por muito tempo, talvez definitivamente, o que constitui um duríssimo golpe para a política exterior dos Estados Unidos. A destruição da OPEP não era só um projeto econômico, mas também político, dirigido a disciplinar os desobedientes produtores de petróleo e, especialmente, a Venezuela, cujo protagonismo no relançamento da OPEP foi decisivo no começo deste século.

 

Em terceiro lugar, dado o exposto, a Casa Branca redobrará sua ofensiva sediciosa sobre a Venezuela bolivariana, reforçando o apoio logístico, financeiro, organizacional e midiático aos peões em suas terras que são apresentados pela imprensa do império como uma “oposição pacífica”, quando na realidade são mercenários cuja missão é semear o caos, quebrar a ordem constitucional e provocar a queda do governo bolivariano. Fato significativo: das várias centenas de arruaceiros presos pelas autoridades, apenas 20% são estudantes, e uma proporção semelhante é formada por estrangeiros, alguns dos quais não falam castelhano. Tendo em vista as notícias publicadas pelo Los Angeles Times, é previsto um aumento da pressão desestabilizadora orquestrada por Washington.

 

Em quarto lugar, que as declarações enfáticas de Obama e Kerry no sentido de fornecer petróleo e gás a Ucrânia para facilitar que este país seja absorvido pela OTAN e pela União Europeia tem reduzido as intimidações sem nenhum efeito prático. Infelizmente para Washington, o petróleo e o gás se encontram cada vez mais frequentemente nos países que não estão dispostos a se ajoelhar às ordens da Casa Branca. Portanto, suas manobras econômicas operadas na Ucrânia são frágeis e distantes enquanto o petróleo e o gás permanecer nas proximidades e forem abundantes na Rússia.

 

Atilio Boron é cientista político.

Traduzido por Daniela Mouro, Correio da Cidadania.

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