EUA: chutando traseiros

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Atilio Boron
22/06/2010

 

Dias atrás, o presidente Barack Obama pediu a seus colaboradores que lhe dissessem qual a bunda que teria de chutar para castigar o culpado do pior desastre ecológico da história, produzido pela BP no mar do Caribe. Acolhendo tão oportuna inquietude, permiti-me propor-lhe uma lista, preliminar, de traseiros a acertar.

 

Em primeiro lugar, deveria solicitar à primeira dama que lhe proporcione uma boa bicuda também em seu fundilho presidencial, pois você não é o ‘negrinho do batey’, como os senhores chamam sua mão-de-obra no Caribe, mas sim o primeiro mandatário da mais formidável superpotência que jamais existiu na face da terra. E se os bandidos da BP contaminam as costas de seu país é porque você – assim como seus antecessores – foi brando, fraco, temeroso com os oligopólios petroleiros que há décadas vêm praticando um verdadeiro ‘ecocídio’ no Alaska, Golfo do México, onde acidentes como o que te desespera hoje eram certeza de que, mais cedo que tarde, iriam se produzir.

 

Complacência e cumplicidade também evidenciadas com os tubarões do cassino financeiro global, sediado em Wall Street, que primeiro provocam uma crise e depois exigem um resgate que você executa com fundos públicos, expropriando a economia e as receitas dos contribuintes norte-americanos.

 

Um pontapé sonoro em seu traseiro por ignorar que essas grandes firmas estão quase invariavelmente dirigidas por delinqüentes de colarinho branco, protegidos pela Casa Branca, congressistas de ambas as câmaras, grandes meios de comunicação e lobbies que financiam campanhas políticas de representantes (deputados) e senadores em troca de garantir impunidade dos oligopólios.

 

Mas, além disso, sua mulher Michelle deveria te dar outro pontapé ‘lá’ por cair no infantilismo de acreditar que se constrói poder político apelando aos twitters, facebooks e outras ferramentas informáticas. Isso pode, ocasionalmente, criar um efêmero clima de opinião, mas nada mais. Para combater os tubarões de Wall Street e o complexo industrial-militar, requer-se muito mais que isso. Olhe o que fez um de seus antecessores, Franklin D. Roosevelt, que pôde realizar significativas mudanças na economia dos EUA (lei do seguro social, rigoroso controle do sistema bancário, impostos à riqueza e à renda, banco central etc.), apoiado em duas instituições que mobilizou e potenciou em sua gravitação: sindicatos operários e seu próprio partido. Você, deslumbrado pelos progressos da informática, pensou que na época atual estes recursos já não serviam mais. E se equivocou.

 

Mas não é você o único que merece um bom pontapé. Outros ilustres traseiros que clamam por fortes patadas são os do secretário de Energia dos EUA, os dos presidentes das comissões de Energia da Câmara dos Representantes (deputados) e do Senado e, claro, os imundos traseiros dos integrantes da sua equipe de assessores econômicos (e muito especialmente Lawrence Summers e Robert Rubin, artífices da completa desregulamentação do mercado financeiro e autores intelectuais da atual crise econômica).

 

Não se esqueça também de dirigir o mesmo gesto aos ladrões da Goldman Sachs, que ‘desenharam’ os números macroeconômicos da Grécia (e vai saber de quantos países e empresas mais!), e aos vagabundos da Moody’s, que com seus fraudulentos cálculos ‘risco país’ favoreceram seus sócios submetendo inúmeros países a profundas crises econômicas.

 

Já que começamos, não se esqueça de acertar também uma violenta pancada no traseiro de seus comparsas e peões em Tel Aviv, que se vêem com licença para matar impunemente os palestinos, submetê-los, como em Gaza, a um lento genocídio parecido com o que o povo judeu teve de suportar pelas mãos dos nazis, a exemplo do gueto de Varsóvia.

 

E, de passagem, você merece mais um chute em seu distinto traseiro por se esquecer que é um Prêmio Nobel da Paz e respaldar esse governo de fanáticos fundamentalistas, racistas e genocidas – que graças à política imperialista de sucessivos governos estadunidenses dispõem das únicas armas atômicas que existem no Oriente Médio –, além de permitir que continuem burlando as disposições da ONU e as regras mais elementares da legalidade internacional. Pontapé mais que merecido, pois sabendo de tudo isso você se preocupa em denunciar o armamento nuclear que... poderia chegar a ter o Irã, mas que agora não tem!

 

Por fim, podia direcionar outro chute à Secretária Hillary Clinton, preocupadíssima pela corrida armamentista segundo ela desencadeada pela Venezuela, em que pese seu gasto militar equivaler a apenas um quarto em relação ao da Colômbia.

 

Aiai...

 

Atilio A. Boron é diretor do PLED, Programa Latinoamericano de Educación a Distancia em Ciências Sociais, Buenos Aires, Argentina.  

Website: http://www.atilioboron.com/.

Traduzido por Gabriel Brito, jornalista.

Retirado originalmente de http://alainet.org

 

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