Correio da Cidadania

Cristãos da Armênia

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É sempre muito simpática a presença na assembléia da CNBB de Dom Vartan Boghossian, bispo da Igreja Católica Armênia. Sua jurisdição inclui, propriamente, toda a América Latina. D. Vartan organiza sua atividade episcopal a partir de Buenos Aires e de São Paulo, marcando presença junto à comunidade católica armênia, dispersa nestes países.

 

A história da Igreja na Armênia é muito interessante. Foi o primeiro país a abraçar, oficialmente, a fé cristã, a partir do ano 301. Desde então, a marca mais forte do povo armênio é sua profunda e arraigada fé cristã, mesmo que do ponto de vista eclesial tenha havido alguns problemas de ortodoxia que perduram ainda hoje.

 

De fato, só uma pequena minoria de armênios está em plena comunhão com a Igreja Católica. Pois que 93% dos cristãos na Armênia pertencem à “Igreja Apostólica Armênia”, que não aceitou as conclusões do Concílio de Calcedônia, em 451, e desde então faz parte do pequeno grupo de Igrejas Orientais “não calcedônias”.

 

Em termos teológicos, identificadas como “monofisitas”, afirmando existir em Cristo uma única natureza, e não duas, como afirmou o Concílio de Calcedônia, que abriu o caminho para a correta afirmação de que Cristo era verdadeiro Deus, por sua natureza divina, e verdadeiro homem, por sua natureza humana. Portanto, com duas naturezas, integradas na mesma pessoa!

 

Disputas teológicas à parte, a “Igreja Apostólica Armênia” se ufana de ter sido fundada por dois Apóstolos, São Bartolomeu e São Judas Tadeu. Por isto, faz questão de se identificar como “Apostólica”.

 

Foram muitas as vicissitudes por que passou este pequeno e valente país, que ainda hoje luta para preservar sua identidade, depois de ter sido obstaculizada por tantas peripécias históricas.

 

A própria geografia parece encurralar a Armênia, situada entre o Mar Negro e o Mar Cáspio, embora não encoste em nenhum dos dois. A região é continentalmente “anfíbia”, pois é ao mesmo tempo européia e asiática, a “eurásia”.

 

Limita-se com a Turquia, a Geórgia, o Irã e Azerbaijão. Fez parte da União Soviética, tendo recuperado sua plena autonomia como República da Armênia há vinte anos.

 

O fato histórico mais pesado que este pequeno país carrega é sem dúvida o triste episódio do genocídio perpetrado pelo Império Otomano, em 1915, quando se calcula que foram trucidados aproximadamente um milhão e quinhentos mil armênios. Ainda hoje a Turquia teima em negar que tenha havido este genocídio, que permanece como episódio ainda não plenamente assimilado pela história do século 20.

 

Segundo o testemunho de D. Vartan, o povo armênio é profundamente cristão. Impressiona constatar a presença da cruz, que se multiplica de todas as maneiras, em qualquer parte do país e em qualquer ambiente. Quanto mais o país se vê pressionado pela vizinhança muçulmana, mais parece afirmar sua identidade cristã.

 

Do ponto de vista eclesial, a situação da Igreja na Armênia também merece uma reflexão especial. Segundo Dom Vartan Boghossian, a Igreja Apostólica Armênia, em 451, em Calcedônia, se posicionou contra as conclusões daquele concílio, com a boa intenção de permanecer na grande comunhão eclesial, com a qual imaginava se identificar. Em todo caso, ela sempre cultivou a tradição de buscar a plena comunhão eclesial.

 

Mas não deixa de impressionar a constatação de como as seqüelas de equívocos doutrinários permanece através de séculos.

 

É por isto que, quando se fazem concílios, é preciso ter todo o cuidado para não ferir a comunhão eclesial. Por aí se mede a gravidade da atitude dos que teimam hoje em estabelecer rupturas eclesiais, a partir do Vaticano Segundo. A história já ensinou suficientes lições. Mas é preciso colocá-las em prática.

 

D. Demetrio Valentini é bispo da diocese de Jales-SP.

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