Correio da Cidadania

Bajo Aguán: três horas para um crime

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Os cães da guerra em Honduras matam mais um agricultor na região caribenha do Bajo Aguán.

 

A vítima foi um homem de 42 anos de idade, que costumava trabalhar na terra nas primeiras horas da manhã para manter a sua numerosa família de nove filhos.

 

O camponês Juan Perez, que era  membro do Movimento Camponês de Recuperação do Aguán (MOCRA), foi baleado no rosto cerca de cinco vezes, de acordo com o relatório apresentado pelo Movimento Camponês Unificado do Aguán (MUCA).

 

O corpo de Perez foi encontrado no meio da estrada, às quatro da tarde de 2 de fevereiro, nos arredores da aldeia de El Tigre, localizada a cerca de três quilômetros de Tocoa, no departamento (estado) de Colon.

Outro assassinato

 

Três horas depois, seguido deste crime, assassinaram Williams Alvarado, de 23 anos, na comunidade de Taojica, no mesmo departamento de Colon. Este jovem era membro da empresa Flor de Aguán, do assentamento Aurora, pertencente ao MUCA.

 

Por mais de três anos, o conflito entre agricultores e proprietários de terras na área se intensificou, a tal ponto que no Bajo Aguán foram assassindados, no período, cerca de 85 agricultores que lutaram pelo acesso a terra.

 

Fontes insuspeitas descrevem que os assassinos seguem em plena liberdade, gozando dos direitos de qualquer cidadão, uma vez que têm a proteção legal de grandes proprietários de terras do Bajo Aguán, estes que controlam o poder judicial do país da América Central.

 

O MUCA responsabiliza o Estado de Honduras pela onda de assassinatos contra os camponeses de Bajo Aguán. A direção desta organização camponesa afirma que o Estado é incapaz de criar políticas públicas para terminar com a crise agrária e alimentar em Honduras.

 

Responsáveis

Por sua vez, o MUCA condena a cumplicidade dos três poderes do Estado, por apoiarem legislação prejudicial aos mais necessitados, através da Lei de Modernização e Desenvolvimento agrícola, cujo contexto contradiz o que está escrito entre os artigos 344 e 350 da moribunda constituição de Honduras.

 

A critério do MUCA, os poderes estatais em Honduras são responsáveis por mais de três mil camponeses processados por lutarem pelo acesso a terra, assim como por pelo menos 100 assassinatos no país centroamericano.

 

A declaração publicada pelo MUCA acusa seguranças, policiais, militares e grupos armados liderados pelos latifundiários Miguel Facussé Barjum, René Morales e Reinaldo Canales, que estão assassinando os camponeses em Aguán.

 

Os agricultores estão chamando os organismos nacionais e internacionais defensores dos direitos humanos para fazer presença permanente.

 

Corrupção de organismos

 

Em reiterados chamamentos, os camponeses de Bajo Aguán fazem tais convocações para que os defensores dos direitos humanos presenciem as violações a que são submetidos pelos latifundiários da região.

 

Nos últimos três anos, a era pós-golpe de Estado que vive Honduras, certos organismos de direitos humanos deste país da América Central foram limitados a apenas estenderem a cooperação internacional para gerir fundos milionários, cujo destino não cumpre os objetivos para os quais foram enviados.

 

A parte política se deformou em politicagem, sendo controlada por mafiosos disfarçados de empresários, que apostam milhões de quantidades de dinheiro nos rótulos da esquerda e da direita politiqueiras do país.

 

Como jornalista independente, faço um chamado à comunidade internacional, especificamente aos que defendem os direitos humanos, no sentido de que façam ato de presença pessoalmente, e não através de intermediários, e testemunhem a erupção de sangue que sofre a população de Bajo Aguán.

 

É inaceitável que em pleno século 21 se continue matando seres humanos de forma cruel e indescritível, pelo fato de trabalharem na terra, como se isso fosse uma prática da Idade Média.

 

Ronnie Huete Salgado é foto-jornalista hondurenho exilado no Brasil após o golpe de Estado de 2009 e colaborador de veículos de mídia alternativa.

 

Nota do autor do texto: Qualquer atentado ou ameaça ao autor do artigo é responsabilidade de quem representa e governa o Estado de Honduras ou de seus invasores.

Traduzido por Daniela Mouro, Correio da Cidadania.

 

 

Comentários   

0 #1 RE: Bajo Aguán: três horas para um crime JORGE SOUSA 10-02-2013 15:47
Então os EUA, USA, não bombardeiam os latifundiários em nome da liberdade, do direito humano e da democracia; vergonha; não é?
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