Correio da Cidadania

Enterrando os crimes em Honduras

0
0
0
s2sdefault

 

Diante da mais alta impunidade registrada em Honduras, os direitos humanos são apenas um conceito teórico. Os recentes assassinos de dois garífunas enterraram suas vítimas no mesmo lugar onde cometeram seus crimes, em frente à costa caribenha.

A riqueza natural de suas terras os condenou à pobreza e desrespeito seus direitos humanos, gerando uma guerra de baixa intensidade.

 

O Caribe de Honduras é rico no cultivo da palma africana, em cujo lugar se dividem enormes extensões de terra cultivadas com esse fruto, especificamente no departamento (estado) de Colón, na região do Bajo Aguan.

 

Dito patrimônio natural causou o assassinato e a perseguição dos camponeses, povos afro-descendentes e originários de Honduras.

 

Os latifundiários René Morales e Miguel Farcusse Barjum se opuseram rotundamente ao proveito equitativo dessas terras entre os moradores da região, pelo contrário, se encarregaram de contratar um forte grupo de segurança, que enfrenta à pura bala os habitantes do Bajo Aguan.

 

Propriedade de Facusse

 

Recentemente, um comunicado difundido pelo Movimento Unificado Camponês do Aguan (MUCA) descreve que três habitantes das comunidades garífunas de Farallones foram assassinados há poucas semanas.

 

As vítimas foram assassinadas perto de uma das fazendas de Facusse Barjum, justo quando se dirigiam a pescar camarões.

 

As vítimas se chamavam Jose Olivera Nolasco, Roberto Enrique e Oscar Daniel, desaparecidos na manhã de sábado (6 de outubro), sendo achados por membros da Polícia Nacional e seus familiares no domingo pela manhã.

 

Nesse momento, os corpos das vítimas foram encontrados já enterrados, em uma das propriedades do latifundiário Facusse Barjum. Os corpos foram encontrados com cápsulas de balas.

 

Segurança privada

O comunicado publicado pelo MUCA também descreve como as guardas privadas dos latifundiários René Morales e Miguel Facusse Barjum continuam fazendo das suas, em diferentes locais onde a terra é habitada por povos originários e demais camponeses moradores da região.

 

O MUCA responsabilizou o encarregado da segurança de Facusse pelo ocorrido, um oficial aposentado do exército, junto a outros cinco guardas.

 

Os suspeitos foram detidos por membros da polícia, sendo que lhes tomaram 10 escopetas e uma arma de calibre 9 milímetros.

 

No comunicado, o MUCA condena a política de extermínio contra as comunidades indígenas, afro-descendentes e camponesas por parte de grupos de segurança armados, dos latifundiários Facusse Barjum e René Morales.

 

Prisão ilegal

 

Por outro lado, no departamento de Atlantida, sempre no Caribe hondurenho, o Conselho Cívico de Organizações Populares e Indígenas de Honduras (COPINH) condena a brutal repressão que sofreram os camponeses da região por defenderem suas terras.

 

Neste acontecimento, foi preso José Isabel Morales. Os membros do COPINH manifestam que tal detenção é ilegal e injusta, posto que o detido está preso por seu compromisso com a luta agrária em defesa da terra.

 

Segundo o COPINH, o Estado é responsável direto por este conflito de terra, porque se converteu em cúmplice dos latifundiários, que ilegalmente se apropriaram das terras onde um dia funcionou o Centro Regional de Treinamento Militar (CREM), no município de Trujillo Colón.

 

O COPINH descreve que tais terras já estavam entregues aos grupos camponeses, ainda assim, essa decisão oficial não foi respeitada.

 

Forte militarização

Esses últimos acontecimentos acentuam a terrível violação dos direitos humanos que sofre o país centroamericano. Em ambas as regiões do Caribe, se intensificaram a militarização do exército hondurenho.

 

Diante da situação, alguns defensores dos direitos humanos se encontram viajando pelo exterior ou desenvolvendo a melhor das atuações teatrais ante os meios de comunicação, enquanto os assassinos de Honduras enterram seus crimes na costa caribenha.

 

O fracasso da política oficial ante a criação de um organismo estatal – o Ministério dos Direitos Humanos – é visível. Prova disso são as ameaças de morte que disse ter recebido a ministra desse organismo, Ana Pineda, junto com o ministro do Instituto Nacional Agrário (INA), Cesar Ham.

 

Em anos anteriores, se reportaram casos similares nesta nação centroamericana, onde seus funcionários burocratas recebem ameaças de morte até em seu escritório acondicionado, motivo pelo qual foram para o exílio diplomático em alguma embaixada de Honduras na Europa.

 

Condena mundial

 

Porém, deixando de lado tais fatos que incrementam a impunidade e o circo midiático em Honduras, por parte de algumas ONGs de Direitos Humanos e oficiais, é de suma importância que a comunidade internacional defensora da vida condene esses acontecimentos que se acrescentam aos crimes citados.

 

O ambiente proselitista das siglas da esquerda e da direita em Honduras impede que tais acontecimentos que atentam contra a vida saiam à luz pública, motivo pelo qual é importante sua divulgação, de modo a seguir rompendo o cerco midiático.

 

Os direitos humanos são seus direitos. Por esse motivo, há que tomá-los, defendê-los e promovê-los, insistindo por sua realização, mas não para viver financeiramente deles.

 

Leia também:

A falência do direito humano em Honduras

 

Ronnie Huete Salgado é foto-jornalista hondurenho exilado no Brasil após o golpe de Estado de 2009 e colaborador de veículos de mídia alternativa.

 

Nota do autor do texto: Qualquer atentado ou ameaça ao autor do artigo é responsabilidade de quem representa e governa o Estado de Honduras ou de seus invasores.

 

Tradução: Gabriel Brito, Correio da Cidadania.

 

0
0
0
s2sdefault