Correio da Cidadania

Governo Dina já executou mais de 60 peruanos nas manifestações pela sua renúncia

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Dezenas de milhares de agricultores e indígenas vindos de todo o Peru chegaram a Lima numa quinta-feira, e se somaram a uma multidão de trabalhadores, estudantes e moradores da capital para exigir a renúncia da presidente Dina Boluarte, o fechamento do Congresso, a realização de novas eleições e uma Assembleia Constituinte para virar a página de privatização/desnacionalização.

Ao longo do trajeto, as caravanas foram abastecidas com alimentos pela população das localidades, que se solidarizava e estimulava a determinação de homens e mulheres na busca por justiça política, econômica e social.

Em Lima, inúmeras instituições abriram as portas para acolher os manifestantes vindos de todo o país, com reitores como Pablo Afonso López-Chau, da Universidade Nacional de Engenharia, que falou sobre o importante significado da participação por democracia.

Condenando a recepção, a Controladoria Geral da República intimou o reitor a “prestar esclarecimentos”, diante do que Pablo Afonso respondeu que ninguém iria ou vai se dobrar a imposições. “A política é a médica de uma sociedade, ela escolhe prós e contras e indica o caminho. Nestes prós e contras vimos que há um protesto legítimo, que é um direito constitucional, e que a universidade tem autonomia e no seu uso pode rejeitar as intervenções das Forças Armadas”, sustentou.

Os protestos iniciaram pacíficos, mas logo enfrentaram ataques despropositados e desproporcionais das “forças da ordem”, uma vez que o primeiro-ministro Alberto Otárola, também avesso a qualquer tipo de negociação, utilizou cerca de 12 mil policiais e militares para lançar bombas de gás lacrimogêneo e de efeito moral, além de disparar balas nos manifestantes.

“Já são mais de 60 mortes, centenas de feridos e desaparecidos. É um governo títere dos interesses da oligarquia vende-pátria, que abate quem lhes faz oposição, como durante o governo de Fujimori e Montesinos nos anos 90”, esclareceu Alcides Montúfar Pinto, coordenador da Secretaria de Relações Internacionais do Partido Peru Livre. Na sua avaliação, “Dina não passa de uma marionete e se utiliza de velhas práticas do fujimorismo, como a queima de patrimônios culturais como fizeram próximo à praça San Martin, no centro, para tentar incriminar os manifestantes. Mas isso já foi desmentido”. “A realidade é que enquanto as pessoas marchavam com as mãos vazias, eles infiltravam policiais e soldados para gerar confusão e responder com armas de guerra. Basta de assassinatos!”, enfatizou Montufar.

Para Jorge Pizarro Pacheco, dirigente do Movimento Novo Peru e integrante da Assembleia Nacional dos Povos (ANP), “estamos vivendo o terceiro momento de transbordamento popular contra Dina”. O primeiro, disse, foi o de 7 de setembro, com o contragolpe ao presidente Pedro Castillo e o massacre de Ayacucho; o segundo em 4 de janeiro, com o levante dos departamentos [estados] do Sul, e 9 de janeiro, com a matança de 20 pessoas em Juliaca; culminando agora com a ocupação de Lima. “Tudo o que esse governo fala é uma mentira só. Dina e Otárola se utilizam de uma narrativa de ódio e de violência para dissimular o seu crescente isolamento. Até colocaram explosivos e queimaram um prédio histórico no centro, algo idêntico ao que foi realizado em 2000 por Montesinos, durante o governo de Fujimori, quando incendiaram o Banco da Nação”, condenou.

Felizmente, declarou Pizarro, esta é uma demonstração de fraqueza da presidente e de seu primeiro-ministro, “pois já são nove governadores, inúmeros reitores, lideranças de todas as regiões, dos mais amplos setores que vêm se somando para isolar e pôr fim a um governo que atira desde o alto dos edifícios e depois se esconde”.

O descalabro governamental foi condenado por inúmeras organizações de direitos humanos que acionaram a Justiça e fizeram com que Dina, três ministros e dois ex-ministros estejam sendo investigados pelos crimes de “genocídio, homicídio qualificado e lesões corporais graves”, diante da responsabilidade pela morte de dezenas de pessoas.

Reiterando que não quer largar o poder, Dina disse que “nos protestos não há nenhuma agenda social que o país necessite”, sublinhando que é a população – que rechaça seu desgoverno e não ela – quem quer “quebrar o Estado de direito, gerar o caos e a desordem”. De real, as mais recentes pesquisas apontam um índice de rejeição ao governo e ao Congresso bem próximo de 90%. Graças à repressão e ao banho de sangue, o percentual não para de subir.

“Estado de emergência”: o terror invade os lares

Sem nenhuma disposição ao diálogo, traduzido nos gigantes confrontos, o governo decretou Estado de emergência por 30 dias em mais três departamentos: Amazonas, La Libertad e Tacna, que agora se somam ao cerco imposto a Lima, Callao, Cuzco e Puno. Buscando ganhar uma sobrevida, o mecanismo autoriza as Forças Armadas a atuarem em conjunto com a Polícia Nacional. Ao mesmo tempo, suspende direitos como a liberdade de reunião, de trânsito e até mesmo afronta a inviolabilidade do lar. Vale lembrar que em Lima foram presas pessoas consideradas “terroristas” pelo simples fato de possuírem livros de Karl Marx, José Carlos Mariátegui ou mesmo de ciências sociais.

Confrontando os recorrentes atropelos, o renomado jornalista peruano César Hildebrant voltou a defender a renúncia imediata de Dina. “Você não foi eleita para servir aos interesses da mesma direita sanguinária de sempre. No fundo, não foi eleita para nada. Foi a figura discreta e secundária de uma campanha em que Pedro Castillo foi o único protagonista. O fato de que Castillo se dedicasse ao fechamento do Congresso e ao ridículo, a levou ao Palácio”, escreveu. “Criminalizar os protestos não é a solução, é chamar para a morte e é isso que a presidente aceitou irresponsavelmente”, concluiu.

Leonardo Wexell Severo é jornalista.

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