Correio da Cidadania

Maduro, o indefensável?

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É possível que Maduro já tenha se transformado em algo como o que sobrou de Kadafi, Saddam, Velasco e outros na história dos governos anti-imperialistas. Terminaram vítimas fatais de si mesmos, fagocitados por suas inconsequências. E repetiram a história como farsa, porque o que não avança retrocede.

A decisão do Tribunal Supremo de Justiça não impôs um golpe de Estado porque não foi dissolvido o parlamento, nem suprimida a soberania do voto popular. Só um ignorante pode chamar isto de “golpe”, “fujimoraço” ou coisa parecida. Mas em termos políticos e sociais a sentença judicial criou um estado de situação no sistema político e na vida social que é o mais próximo a uma “ruptura do fio institucional”, como declarou L.O. Díaz, Fiscal Geral da Nação, antiga militante de esquerda e chavista inquestionável.

A mesma opinião têm o Major General ultradireitista Clivel Alcalá, a ex-assessora presidencial, advogada e escritora Eva Golinger e uns 10 ex-ministros de Chávez. É uma quebra, pior que a constitucional, do próprio chavismo.

O atual estado de coisas não se explica sem o contexto de assédio a um governo encurralado pela OEA e pelo Mercosul, mas tampouco sem a colaboração sistêmica de um governo que desde 2013 decidiu abandonar o experimento chavista de transitar de uma via comunal para o socialismo para se transformar em um “ninho de escorpiões”, como advertira em 2008 o general chavista Müller Rojas.

Maduro escolheu outro caminho, oposto ao que Hugo Chávez – tardiamente – compreendeu entre 2011 e 2012, quando o encarregou pessoalmente (“Nicolás, te encarrego como se fosse minha própria vida”, lhe disse em 27 de outubro no chamado “Golpe de Timón”): que suplantasse o atual sistema político (Estado) corrupto, rentista e historicamente em risco de colapso, por outro baseado nas Comunas e nos demais organismos do nascente poder popular bolivariano.

Maduro fez o oposto. Assim, o atual resultado não estava previsto nos genes do chavismo, da mesma forma que a Santa Inquisição não estava em consonância com o cristianismo primitivo. Ambos foram uma construção. O argumento de que “assim terminam os populismos”, é baixo, autoconsolador e serve como regozijo para analfabetos políticos, que só entendem a vida política desde as “alturas” das suas instituições e líderes, não desde suas criadoras, forças sociais que enfrentam as pressões nada misericordiosas do sistema mundial de Estados e do Capital.



Maduro e seu governo de carreiristas enriquecidos, hoje entrincheirados, também decidiram atuar com esse critério regressivo socialdemocrata. Por isso não acodem o povo trabalhador e seus organismos, nem para o voto e nem para a rua. Preferem apoiar-se no Conselho de Defesa da Nação (militar-cívico); não convocaram o Parlamento Comunal tão existente e legalizado como o outro, para legitimar suas ações e potencializar uma nova democracia em uma república social. Não expropriaram os empresários que colapsaram a economia com a evasão massiva de capitais e volatilizaram o consumo e a vida social com dólares baratos do Banco Central. Não, sua decisão foi favorecê-los com empresas mistas e entregar o Arco Mineiro a 13 multinacionais. Portanto, sua deriva atual a uma forma sui generis de concentrado autoritarismo era quase inexorável.

Maduro preferiu apoiar-se no corrupto Tribunal Supremo de Justiça para limitar o poder da direita no parlamento, transformada no braço da OEA há um ano.

Sem saída, atado a esse novo rumo, o presidente Nicolás Maduro liquidou o que restava do promissor “processo revolucionário bolivariano” e tende a transformar-se ainda mais, e aceleradamente, em “indefensável”.

Modesto Emilio Guerrero é jornalista e militante político e social – fundador do PSUV na Argentina. Publicou este texto em espanhol no portal Aporrea.
Traduzido por Raphael Sanz, para o Correio da Cidadania

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