Correio da Cidadania

Crise intermitente, esperança renitente

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2008 marcou o início de um novo ciclo de crise no planeta. Ao longo do ano, diversos fatos já enunciavam sua gravidade e o sentido conservador de grande parte das propostas reativas colocadas em prática pelos governos.

 

Na Europa, as vitórias eleitorais de Berlusconi, na Itália, de Sarkozy, na França, dos conservadores na última eleição inglesa e de partidos da direita nos países nórdicos evidenciam a "direitização" no centro do capitalismo, que pode ser explicada pela conjugação de duas tendências acentuadas pela crise do mundo capitalista: a imigração e o desemprego.

 

O crescimento das imigrações é conseqüência direta da economia neoliberal, causadora do aumento da disparidade entre as nações ricas e as nações pobres. Reduzidas à condição de tamanho pauperismo, essas nações não conseguem sequer alimentar suas populações, o que conduz a tal aumento das tensões que, além da tragédia da fome, causa guerras fratricidas, como na África e na Ásia. A única válvula de escape dessas populações desesperadas é a emigração para um país rico. Nos EUA, o contingente de imigrantes ilegais, principalmente de latino-americanos, forma uma parcela substancial da população.

 

A direita européia ainda não se apresenta, como outrora, com um programa fascista, mas caminha, na prática, para situações deste tipo. O paradigma, no caso, é a sociedade estadunidense – que responderá, junto com a China, pelas principais decisões que afetarão o mundo nas décadas futuras.

 

A eleição de Barack Obama à presidência dos EUA criou esperanças, mas há ceticismo sobre suas reais possibilidades de mudança em relação ao mandato de Bush. É duvidoso que Obama mude a política de alinhamento total com Israel. Deve seguir seu pragmatismo e ceder aos lobbies judaicos, muito fortes no Congresso, na imprensa, nos bancos e mesmo no eleitorado democrata.

 

Apesar de tudo, acredita-se que o Obama que tomou posse em janeiro seja aquele que foi dos raros congressistas a votar contra a invasão do Iraque ou que rejeitou o acordo econômico com a Colômbia, diante da inércia ou cumplicidade do governo Uribe com os paramilitares e os assassinatos de oposicionistas. Espera-se que Obama cumpra o prometido na campanha e dialogue com os países ditos hostis como Venezuela, Síria, Coréia do Norte e até Cuba, que no primeiro dia de 2009 celebrou 50 anos da Revolução liderada por Fidel Castro.

 

Uma importante faceta da crise é a disputa pelas fontes de energia. Petróleo e gás natural ainda respondem por mais de 50% da matriz energética mundial, enquanto apenas 13% das fontes de energia provêm de fontes renováveis como hidroeletricidade, a eólica e a solar.

 

Atualmente, apenas seis países controlam mais de 80% da oferta mundial de petróleo e gás: Arábia Saudita, Irã, Kuwait, Rússia, Venezuela e Iraque. Os sauditas e o Kuwait orbitam na esfera de influência geopolítica dos EUA. Os demais têm problemas políticos com o governo estadunidense, o que tensiona permanentemente a oferta.

 

Os EUA consomem 25% do petróleo do mundo e possuem reservas pequenas. Por isto, mantêm tropas na Arábia Saudita (260 bilhões de barris de reservas), alimentam o ódio ao Irã (100 bilhões de barris) e invadiram o Iraque (100 bilhões de barris), além de ter organizado golpe contra o presidente Hugo Chávez na Venezuela (87 bilhões de barris) em 2002 e, recentemente, reativado a Quarta Frota Naval do comando militar dos EUA, de olho na descoberta de imensas reservas de petróleo e gás natural no mar brasileiro, que podem chegar a mais de 50 bilhões de barris.

 

Por mais um ano, a África foi um continente entregue à barbárie. No Quênia, disputas eleitorais reacenderam a violência e geraram mais de 300 mil refugiados, expondo tensões que vinham aflorando há mais de cem anos. O uso que as potências imperialistas (as colonizadoras do passado) fazem das rivalidades étnicas para melhor dominar os povos africanos e o diferente tratamento dado (quando dado) pelos meios de comunicação aos diferentes povos do mundo são problemas políticos que se reproduziram na criminosa invasão do exército de Israel a Gaza, na Palestina.

 

Neste contexto, reveste-se de grande importância o Fórum Social Mundial, que reuniu milhares de militantes em Belém do Pará na última semana de janeiro. A gravidade da crise exige que o Fórum seja, além de espaço livre de debate – o que vem acontecendo desde sua primeira edição em 2001 –, momento de construção de lutas comuns contra medidas governamentais que reduzam direitos dos trabalhadores ou agravem a situação das populações mais vulneráveis. Firmar uma agenda mundial de lutas e a realização concomitante de atos públicos em escala planetária significará substancial mudança na qualidade da luta popular.

 

Thomaz Ferreira Jensen, Alejandro Buenrostro y Arellano, Andrea Paes Alberico, Carla Dozzi, Carlos Alberto Cordovano Vieira, Elisa Helena Rocha de Carvalho, Guga Dorea, João Xerri, o.p., José Juliano de Carvalho Filho, Luis Eça, Marietta Sampaio, Marilena de Almeida Eça do Grupo de São Paulo - um grupo de 12 pessoas que se revezam na redação e revisão coletiva dos artigos de análise de Contexto Internacional do Boletim Rede, editado pelo Centro Alceu Amoroso Lima para a Liberdade, de Petrópolis, RJ.

 

Contato: Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.

 

Artigo publicado na edição de janeiro de 2009 do Boletim Rede.

 

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