O futuro da esquerda
- Detalhes
- Wladimir Pomar
- 14/09/2010
O fim da civilidade, decretado pela direita tucano-pefelista, neste último mês de campanha, está trazendo à luz pelo menos três aspectos da realidade brasileira.
Primeiro, a natureza reacionária e antidemocrática dos novos representantes políticos da burguesia financeira e da burguesia agrária. Segundo, a oposição de grandes parcelas das camadas populares e das classes médias a tal reacionarismo. E, terceiro, as clivagens da esquerda diante dessa polarização.
A nova direita política é, em grande parte, formada por parcelas oriundas da intelectualidade política democrática e de esquerda que se defrontou com a ditadura militar. No curso da emergência das lutas operárias e populares e da formação do PT, assim como da ofensiva ideológica e política do neoliberalismo, muitos de seus membros se transformaram no oposto do que representaram no passado.
Com isso, repetem uma experiência histórica peculiar da esquerda brasileira, que teve em Carlos Lacerda seu expoente mais significativo. Quem conheceu esse personagem da história brasileira certamente se lembrou dele ao assistir ao candidato Serra deblaterando sobre a suposta tolerância de Lula com "quem rouba", e qualificando a candidata Dilma de "envelope fechado". A grande desvantagem de Serra é que não tem a oratória de Lacerda, nem um ambiente de conspiração militar generalizada. Mas a natureza golpista e reacionária é a mesma.
Essa truculência tucano-pefelista também está colocando em evidência algo que uma parte da esquerda se nega a ver. Isto é, que grandes massas do povo brasileiro consideram as atuais eleições como um acerto de contas com a herança de FHC e depositam uma firme confiança em Lula e no PT. Ou seja, além de encararem as atuais eleições como polarizadas e plebiscitárias, grandes parcelas do povo estão convictas de que as mudanças implantadas pelo governo Lula, mesmo contendo erros e problemas, relacionados ou não com suas alianças políticas, apontam para um caminho seguro de transformação social e política.
Uma parte da chamada esquerda democrática se encontra perdida na enseada tucano-pefelista, sem se dar conta de que está dormindo com o inimigo. É doloroso ver candidatos dessa esquerda, com discursos de mudanças democráticas e populares, sendo apresentados por FHC, Serra, César Maia e outros personagens que quase quebraram o Brasil e levaram o povão ao desemprego e à miséria.
A parte da esquerda que se considera revolucionária está na oposição. Embora procure se distanciar da direita que também é oposição, seu inimigo principal e alvo de seus ataques tem sido o governo Lula e a esquerda que apóia Dilma. Na prática, o povão acaba confundindo-a com seus inimigos de direita.
A maior parte da esquerda, que apóia Dilma, também se debate diante da realidade complexa do país. Isto parece ser mais evidente dentro do PT, onde havia uma corrente que pregava abertamente a impossibilidade de uma eleição polarizada e trabalhava para construir pontes com o tucanato. A evolução da campanha eleitoral, apesar da ausência de ataques petistas ao tucanato, está demonstrando que aquela corrente estava totalmente enganada, pelo desconhecimento da natureza antidemocrática e reacionária do tucano-pefelismo.
Também é dentro do PT que continuam se apresentando brechas relacionadas com a tibieza em adotar procedimentos ideológicos, políticos e organizativos condizentes com um partido de esquerda que quer transformar o Estado e a sociedade. Um partido desse tipo não pode ter aloprados, filiados facilmente cooptáveis por dinheiro fácil, nem agentes infiltrados que possam navegar tranqüilamente por suas fileiras. Se o PT não adotar procedimentos que o blindem contra os arrivistas e oportunistas que procuram fazer carreira em qualquer partido que seja governo, aquelas brechas podem se tornar voçorocas, deixando-o indefeso diante das armações que tendem a crescer nas disputas institucionais.
Nessas condições, a vitória do PT e Dilma não representará apenas um acerto de contas com a ideologia e as políticas neoliberais, condensadas na candidatura Serra. Nem apenas um impacto muito sério na esquerda que se aliou à direita, formal ou informalmente, nos ataques ao governo Lula e à candidatura Dilma. Ela deverá representar também uma reestruturação ideológica, política e organizativa do PT, se esse partido quiser enfrentar com sucesso os desafios para aprofundar as mudanças democráticas, econômicas e sociais que as camadas populares reclamam.
Wladimir Pomar é escritor e analista político.
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Comentários
Sugiro também que veja as séries antigas de faroeste, tipo Rim Tim Tim, Roy Rogers e Bat Masterson (aquele da bengala de cabo de prata.
Se mesmo assim, não acordares de sua ilusão, Feliz Ano de 2011!
infelismente o partido dos trabalhadores não representa mas a confiança e a motivação politica revolucionaria; faz tempo! por outro lado os partidos que estão ai pstu e companhia não conseguem vislumbrar o processo de ruptura.............. a cut ta engolida pelo governo de lula...... só tem uma saida; unificar os movimentos sociais e construir um novo partido!
Toda o lixo produzido ao longo da história deste país agora também tem as digitais do PT. Em oito anos de governo Lula nada foi feito para mudar esta situação. A era das cavernas continua interminável. A civilização nunca chega a este país. Por acaso o governo do PT fez algo para enfrentar o lixo dos serviços dos cartórios? Afinal, a OAB tem mais poder que o MEC?E os meios d comunicação? O que fez o PT para democratizá-los? O que o atual governo fez, e bem, foi ficar bem quieto quanto aos grandes problemas nacionais, e concordar com tudo o que a direita e grande mídia sempre propugnou. Por tanto, Pomar,o que o PT sempre quis não foi fazer um Brasil melhor, apenas procurou um ótimo guarda-chuva para o próprio partido.
Ela não tem perfil para ser Presidente.
Agora nos deve, o nobre Pomar, a itação sobre quais as "pessoas de esquerda" que votam no Serra.
Será que se refere ao Ferreira Goulat? Ou a Maitê Proença que se promovia às custas do Betinho?
Sem estas citações que solicito, os artigos de WP apenas se reduzem, a meu ver, a peças do mais puro Jornalismo Marron que tanto combartemos.
Aguardo...
Pergunto se foi tão ruim ela deveria ser extirpada, mas como não foi creio que a herança foi boa.
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