Correio da Cidadania

Rimas em educação

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Educação em "ão" — saber dizer "não", lavar bem as mãos, repartir o pão, cuidado com o vão, limpar o chão, comer mais feijão, mais agrião, menos requeijão, prestar atenção...

 

Educação em "em" — combater a ferrugem, entender a engrenagem, lutar contra a desordem, preservar a imagem, acompanhar a reportagem, fazer o bem, aos outros e a você também.

 

Educação em "im" — se começou uma coisa ir até o fim, saber distinguir "não" de "sim", não falar mal de mim, fazer sempre assim, dizer "saúde" quando alguém ATCHIM!

 

Educação em "al" — estudar regência verbal, pendurar as roupas no varal, economizar 1 real, aí vem o temporal, ser cordial, ser natural, ser original sem ser superficial...

 

Educação em "el" — ser afável, agradável, sociável, confiável, apetecível, aplaudível, apresentável, canonizável, inesquecível, tornar-se bacharel, não ir ao bordel, servir o quartel, mostrar o pau com que se matou a cascavel.

 

Educação em "il" — não ser assim tão fácil, ser varonil, ser dócil, ser mais ágil, ser mais útil, ser sutil, não alimentar o réptil, amar o Brasil, mandar o e-mail.

 

Educação em "ol" — evitar excesso de Sol, não abusar do álcool, não morder o anzol, levar o cachecol, aprender inglês, francês e espanhol, não perder de vista o farol.

 

Educação em "ado" — tomar muito cuidado, cuidado redobrado, anotar todos os recados, manter-se calado, antes de atravessar a rua olhar para os dois lados, ficar sentado, ficar parado, perdoar quem tiver pecado...

 

Educação em "edo" — acordar cedo, vencer o medo, rezar o Credo, guardar segredo, não apontar com o dedo, recolher seus brinquedos...

 

Educação em "ido" — não ser fingido, atender ao pedido, mostrar-se arrependido, ser agradecido, ser comedido, não andar despido, não falar com desconhecidos, fugir do bandido.

 

Educação em "eiro" — antes de viajar ir ao banheiro, menos tempo no chuveiro, investir seu dinheiro, amar por inteiro, não derrubar o saleiro, buscar um amigo verdadeiro.

 

Educação em "ência" — seguir a consciência, respeitar a ciência, procurar a eficiência, confiar na alheia experiência, formar a inteligência, consultar a jurisprudência, resistir à violência.

 

Educação em "mento" — cultivar o agradecimento, pensar o bom pensamento, não desenhar no fresco cimento, obedecer ao planejamento, esperar o pagamento, não julgar para não ser vítima do julgamento...

 

Outras muitas rimas há na arte ou no desastre de educar. Rimas ricas ou pobres, belas ou nem tanto. Rimar como forma de causar espanto.

 

Gabriel Perissé é doutor em Educação pela USP e escritor.

 

Website: http://www.perisse.com.br/

 

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Comentários   

0 #1 Aprender a lerRaymundo Araújo Filho 19-05-2009 10:02
Corroborando com este excelente texto do Gbriel, ofereço artigo escrito por conta de uma propaganda do Governo Federal Era Lulla, que nos remete ao poior da Comunicação Social, bem ao estilo do que tínhamos na época da Ditadura Militar, com uma estética medíocre e conteúdo execrável.

Aprender a Ler

O legado do educador Paulo Freire nos é muito caro, embora muito pouco aplicado entre nós brasileiros. Ao contrário de outros países que tiveram a chance de provar da sapiência de seu método de libertação intelectual, através das letras.

Lembro-me bem das corretas críticas que eram feitas pela auto intitulada "esquerda brasileira" ao programa de alfabetização da ditadura militar, o Mobral.

Dizia-se na época, acertadamente, que era um programa que não se fazia capaz de desalienar as pessoas recém-alfabetizadas, por não colocá-las em um contexto de real utilização dos recursos intelectuais dos recém-alfabetizados adultos, além do que assinar o seu próprio nome, aliás conquista que emociona a qualquer um, quando de posse desta habilidade. Mas é pouco, para as capacidades humanas.

Dominar a leitura e conseguir transformar pensamentos em linguagem escrita é muito mais do que assinar o próprio nome ou ler títulos e marcas comerciais que, afinal, pelas próprias fantasias gráficas de suas letras permite a sua leitura até por crianças de tenra idade, e mesmo por adultos analfabetos. Mas, não é o que parece pensar o Ministério da Educação do (des)governo do presidente Lulla.

O burocrata lá instalado atualmente acaba de permitir a divulgação de propaganda institucional do (des)governo, onde aparece um pobre coitado adulto, representando o nosso povo, a percorrer as ruas da cidade a balbuciar, como um deficiente mental, palavras estampadas em placas indicativas deste ou daquele comércio, e na porta dos mesmos.

P-a-d-a-r-i-a; H-o-t-e-l, D-r-o-g-a-r-i-a. A-l-m-o-ç-o.

Assim vai quase soletrando, o personagem completamente idiotizado criado por alguma agência de publicidade beneficiada por este (des)governo.

Não vêem estes "criativos" publicitários e burocratas ministeriais que com este reclame governamental fajuto, apenas reafirmam a inutilidade desta alfabetização alienante a la Mobral que, pelo visto, o ministro da Educação se gaba de promover para regozijo de seu alienado chefe presidente (aquele que reafirma diariamente a sua preguiça por leituras mais densas).

Não percebem estes verdadeiros ignorantes que para ler placas, cartazes, letreiros de ônibus e outros nomes que fazem parte de nosso cotidiano, não precisamos sequer sermos alfabetizados. Não há criança que não saiba "ler", p.ex., Coca-Cola, Nike, Pelé, Petrobrás, Flamengo e tantas outras marcas, apenas visualizando todo o conjunto de letras formadoras destas palavras.

Este é, aliás, o princípio básico do método construtivista de alfabetização, ou método natural de ensino, onde a partir de palavras inteiras vai-se iniciando o aprendiz a decompô-las até chegar as suas formas mais simples, as letras e seus fonemas silábicos. Exatamente o contrário do velho beabá, método que ainda persiste entre nós na grande meioria de nossas escolas públicas ou particulares.

Que eu saiba, ninguém precisa ler p-a-d-a-r-i-a, principalmente em frente a uma, como aquele demente personagem do anúncio governamental, para saber que ali se vende pão. O próprio ônibus coletivo diário, que um analfabeto precisa tomar, tem seus desenhos e letreiro tão típicos que só é impeditivo aos cegos, mas não a analfabetos, que o reconhecem à distância.

Ler na porta de um bar ou restaurante a palavra a-l-m-o-ç-o é completamente desnecessário para quem está procurando justamente um bar ou restaurante para almoçar. Nenhum analfabeto entra em uma borracharia para, p.ex., pagar uma conta de luz, ou entra em um banco para comprar remédios. Só idiotas e alienados não sabem disso. E parece que o ministério da educação e o (des)governo Lulla estão cheios deles.

O que seria importante, ao meu ver, em uma propaganda deste tipo que exalta a alfabetização seria a capacidade deste alfabetizado cidadão encontrar e/ou aprimorar as suas vocações e habilidades através da leitura, para alcançar novos conhecimentos e informações. Seria importante também ressaltar nestes anúncios o imenso prazer e importância para a dignidade humana obtidos com a capacidade de leitura de livros e jornais, além da possibilidade de serem galgados novos degraus de aprendizado, após a alfabetização. Nenhuma destas imagens é mostrada na idiotizante propaganda governamental.

Enfim, apresentar a alfabetização como um meio e não um fim em si mesma, talvez fosse muito mais interessante do que colocar um adulto, em perfeitas condições físicas e mentais a andar a esmo pela cidade, como um idiota, a soletrar letreiros óbvios e na porta dos estabelecimentos comerciais idem, como faz o ridículo anúncio do governo.

Que o presidente Lulla não saiba o que fazer com a sua alfabetização é algo que nada podemos fazer. Nem o frei Beto, seu confidente e orientador espiritual e intelectual(?) soube. Mas daí a querer difundir esta postura preguiçosa e alienada do nosso ignorante presidente Lulla, para toda a sociedade, e à custa do dinheiro público é de matar qualquer um de indignação.

Mas, este é o (des)governo do presidente Lulla e sua tropa. Tudo é possível. Até ignorar o educador Paulo Freire, fiel militante e correligionário petista, mundialmente conhecido e cuja morte, pelo menos o livrou de ver este descalabro perpetrado justamente por alguém, o Lulla, a quem Paulo Freire dedicou suas esperanças como líder transformador da sociedade, a favor do povo.

Infelizmente, o tiro pacífico do nosso educador maior saiu pela c-u-l-a-t-r-a.
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