Seletividade na escolha do supridor de informações

0
0
0
s2sdefault
Paulo Metri
13/01/2011

 

Quando o governo Lula pensou em propor ao Congresso alguma regulamentação da mídia com a criação de um conselho para julgar eventuais abusos na liberdade de imprensa, todos os meios de comunicação pertencentes ao capital repetiram, de forma idêntica, que tal Conselho seria uma mordaça na imprensa livre.

 

Esta reação levava os desavisados a crerem que as informações por eles transmitidas ocorriam sem interesse escondido, sem nenhuma tendência, junto com análises racionais e honestas. Não sei se a criação deste Conselho seria a melhor maneira de democratizar a comunicação de massa. Talvez, a multiplicação dos canais de transmissão de informações para a sociedade, incluindo outros canais com novas tendências, seja a melhor opção, deixando os atuais tendenciosos existirem.

 

No dia da posse da presidente Dilma, um canal da televisão paga providenciou uma mesa de debates sobre como seria este governo com os ditos especialistas: professor universitário, consultor etc. É interessante que o título de consultor dá credibilidade a qualquer neófito ou mau caráter. Para começar, não existia uma mesa de debates, mas, sim, de concordâncias. Este canal é contumaz realizador de mesas de catequese. Será que eles não se dão conta que, depois de algum tempo, o espectador passará a desconfiar, pois, para qualquer assunto tratado, os especialistas convidados nunca divergem substancialmente?

 

Sendo assim, os pseudo-debatedores eram os difusores dos conceitos que o canal tinha o compromisso de transmitir, no caso, mensagens liberais e da globalização, de interesse dos países desenvolvidos. Os inocentes espectadores, pensando que estão se enriquecendo com informações, estão na verdade sendo doutrinados. Mas, reconheço que a farsa é bem feita, ficando os indefesos cidadãos presos na teia do nefasto canal. O passador da palavra procurava dar um ar de seriedade e racionalidade ao arremedo de debate.

 

Segundo eles, o governo Dilma deve se livrar da parcela de atraso que herdou do governo Lula. Terá que fazer cortes no orçamento, pois há excesso de gastos. Terá que fazer a reforma tributária. Terá que manter metas de inflação baixa. As empresas privadas têm que ser convidadas para participar do esforço pelo desenvolvimento nacional. O pré-sal terá que ser explorado em conjunto com o capital internacional, pois a Petrobrás não terá recursos suficientes para explorá-lo sozinha.

 

Notem que as recomendações para o governo Dilma são sempre colocadas no imperativo, dando a entender que não há alternativas. Se você foi um dos ouvintes das ordens ditadas, peço licença para lhe apresentar argumentos, que acredito serem verdadeiros, em direção oposta.

 

Colocaram que o Estado comandar ativamente o desenvolvimento do país é um atraso, citando que isto ocorreu nas épocas de Getúlio e Geisel, no passado. De início, não é verdadeiro que qualquer acontecimento do passado seja, necessariamente, um atraso. Entretanto, entrando na disputa sobre o passado, lembro que a primeira onda de economia liberal ocorreu na década de 20 do século passado. Então, pela lógica dos especialistas do canal, o liberalismo econômico é um atraso maior.

 

Cortes no orçamento federal, muitas vezes, são necessários, mas nunca poderão ser cortes na saúde, educação, habitação, saneamento etc. Pode ser corte, por exemplo, no serviço da dívida. A reforma tributária deve ser feita, mas aquela pregada pelo canal não é a que irá beneficiar a grande massa. A do canal irá beneficiar, certamente, os donos do capital. Metas de inflação baixa devem ser objetivadas, mas, se forem muito baixas, elas acarretam algum custo social.

 

As empresas privadas devem ser convidadas para participar do desenvolvimento nacional. Mas não em setores estratégicos, porque a lógica do capital, às vezes, conflita com os objetivos do Estado e da sociedade. Todos nós sabemos que o pré-sal requer muitos recursos, no entanto, concluir que ele tem que ser explorado em conjunto com o capital estrangeiro é sem fundamento. A Petrobrás só não terá os recursos suficientes para explorar o pré-sal se a velocidade desta exploração for definida para satisfazer o mercado internacional. Se, no entanto, a velocidade for definida pela capacidade de geração de recursos da Petrobrás e for tal que permita a maximização das compras locais, não haverá dificuldade para ela e haverá o máximo benefício social.

 

Assim, desenvolvimentos tecnológicos podem ajudar a democratização da informação na sociedade. Por exemplo, com o advento da internet e o aparecimento de sites de comunicação alternativa, mostrando outras visões sobre os fatos, eu posso estar, neste momento, lhes transmitindo esta minha visão. Se não fosse o desenvolvimento tecnológico, não se teria conhecimento das verdades escancaradas pelo WikiLeaks. Esperamos que a tecnologia da TV digital, acoplada a uma boa lei de comunicação, ofereça número expressivo de canais não pagos adicionais para a população, podendo estar, dentre eles, canais pertencentes a OAB, ABI, CNBB, Clube de Engenharia, centrais sindicais, Correio da Cidadania e outras entidades.

 

Enquanto isto não ocorre e uma vez que não se pode colocar justiça na comunicação, por se ter confundindo a sociedade dizendo-se que justiça se trata de mordaça, podemos sugerir que ela use outro grande advento tecnológico: o controle remoto.

 

Paulo Metri é conselheiro da Federação Brasileira de Associações de Engenheiros.

 

{moscomment}

0
0
0
s2sdefault