A quem interessa discutir eternamente a internação compulsória?

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Paulo Silveira
24/10/2012

 

 

Simplesmente não posso pensar pelos outros, nem para os outros, nem sem os outros”. Paulo Freire

 

E de novo o tema “internação compulsória de usuários de crack” volta a ocupar as manchetes de jornais...

 

É interessante observar que a INTERNAÇÃO COMPULSÓRIA já está em curso na cidade do Rio de Janeiro, promovida pela atual prefeitura desde 31 de março de 2011, recolhendo nas ruas da cidade algumas poucas CRIANÇAS e ADOLESCENTES supostamente usuárias de crack e as internando compulsoriamente em “espaços” que deveriam tratá-las e cuidá-las.

 

Não podemos nos esquecer de que, durante as recentes eleições municipais, somente um candidato a prefeito do Rio de Janeiro priorizou este tema nos debates na televisão: o representante do DEM.

 

Todos os outros, do mais à direita ao mais à esquerda, calaram-se, incluindo aí o atual e reeleito prefeito Eduardo Paes.

 

Por que será?

 

Junte-se ao fato de que, durante todo o período de campanha eleitoral, a grande mídia não deu destaque a esse tema, esquecendo-o, como vemos, provisoriamente...

 

Mas, afinal, a quem interessa essa eterna e estéril discussão a respeito da internação compulsória de usuários de drogas?

 

Afinal, alguém consegue imaginar ou acreditar que um sistema público de saúde absolutamente sucateado, corrompido, onde faltam insumos básicos e leitos para seus doentes, vá prover vagas suficientes para aproximadamente 5 milhões de usuários de crack em todo o Brasil, sendo que cada usuário ocuparia um leito por aproximadamente 6 meses, tempo necessário para “recuperação” desses usuários de acordo com os especialistas que defendem a ideia?

 

Você, leitor, consegue imaginar que o prefeito Eduardo Paes vai priorizar o atendimento a usuários de drogas em detrimento de suas obras espetaculosas ou que nossa sociedade, absolutamente narcísica, egoísta, vá optar por aplicar recursos em atendimento digno para miseráveis ao invés de obras faraônicas que facilitem seu ir e vir com automóvel novo comprado em parcelas infindáveis e impagáveis?

 

Mas por que será que os usuários de crack merecem uma atenção especial do poder público, um privilégio em relação a todos os demais excluídos de nossa sociedade?

 

É preciso lembrar que o crack:

 

 

 

 

 

Acrescente ainda questões como:

 

 

 

Pesquisa da USP / UNESCO identificou que:

 

 

 

 

 

 

Acrescente-se ao aqui exposto que o programa da prefeitura da cidade do Rio de Janeiro de recolhimento de crianças e adolescentes supostamente usuárias de crack tem sido alvo de denúncias diversas, como por exemplo:

 

 

 

 

 

 

Perguntas fundamentais estão sem respostas e nem por isso merecem destaque da grande mídia, como por exemplo:

 

Será que essa população de excluídos sociais se concentra em locais insalubres, fétidos, apelidados de cracolândias, passando fome porque assim deseja ou seria por absoluta falta de opção?

 

Porque o poder público não divulga telefones e endereços para onde devem se dirigir todos aqueles que desejam se tratar ao invés de caçar seres humanos nas ruas da cidade?

 

A droga na vida do usuário é um problema ou uma solução?

 

Não seria mais produtivo, para todos nós, o poder público desenvolver ações que promovam a inclusão social dessa população, tornando assim a droga desnecessária na vida deles?

 

Por fim, você leitor já pensou que a instalação da medida de internação compulsória, seja pelo motivo que for, pode ser um primeiro passo para um regime totalitário, onde amanhã chegue-se a conclusão que outro grupo qualquer de cidadãos é nocivo à sociedade e, portanto, deve ser também excluído do convívio social através da internação compulsória para uma reeducação social?

 

Você não acha que se a reclusão e o afastamento do convívio social fossem a solução, a criminalidade já teria sido extinta?

 

Pense nisso, é o nosso futuro que está em jogo.

“Quando os nazistas levaram os comunistas, eu calei-me, porque, afinal, eu não era comunista.
Quando eles prenderam os sociais-democratas, eu calei-me, porque, afinal, eu não era social-democrata.
Quando eles levaram os sindicalistas, eu não protestei, porque, afinal, eu não era sindicalista.
Quando levaram os judeus, eu não protestei, porque, afinal, eu não era judeu.
Quando eles me levaram, não havia mais quem protestasse” .

Martin Niemöller

 

Paulo Silveira é membro do movimento respeito é BOM e eu gosto!

Website: www.rebomeg.com.br

Livre reprodução, exceto para fins políticos partidários, religiosos ou comerciais.

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