Futebol, violência e as enganações de sempre

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Gabriel Brito
24/03/2008

 

Não é de hoje que se tenta tomar medidas de combate à violência no futebol. Desde a eclosão da onda de brigas de torcida, dentro e fora dos estádios, em meados dos anos 90, seguiram-se tentativas de controlar e eliminar tais barbáries do cenário esportivo nacional.

 

Todas, absolutamente todas, fracassaram inapelavelmente. A mídia se fartou de explorar o tema, promotores e policiais ficaram famosos por aparecerem nos meios de comunicação listando providências que seriam tomadas e trariam de volta aos campos a tão desejada paz.

 

Não vamos aqui entrar nos detalhes das propostas anti-violência feitas nesses anos todos. Mas podemos resumir: nenhuma até agora mudou de verdade a realidade nos estádios. No máximo transferiram os palcos de guerra para localidades mais afastadas, onde exercer qualquer controle se torna ainda mais difícil. Ah, também serviram para alavancar a carreira pública de algumas figuras que se notabilizaram por (supostamente) combater esse mal, empreitada na qual falharam estrepitosamente até hoje.

 

Nos últimos tempos, bem recentes, criou-se uma onda de retorno às arquibancadas, crescimento de público e até renovação nas torcidas. A subida na média de público do Brasileiro 2007 atesta isso e o espetáculo promovido por algumas parcialidades não era visto há um bom tempo por aqui também.

 

Seria o retorno da festa ao futebol, do futebol à festa, dois parceiros que deveriam caminhar de mãos dadas sempre? Não é bem assim. Na maioria dos estados, a polícia e federação local, dentre outros partícipes, já se deram conta de que a festa deve mesmo se manter ligada ao futebol, pois faz parte da essência do espetáculo, além de ser muito mais atraente para quem vê, seja in loco ou da poltrona. E também deveria ter a mesma consideração por parte da TV, que pode lucrar mais vendendo um produto que é sucesso de público do que o contrário.

 

No entanto, ainda há um lugar onde predominam o clima de tensão, amargura e repressão: São Paulo. Não é de surpreender, pois se trata do estado tradicionalmente mais conservador e reacionário do país. O que mais se mete a pensar ser primeiro mundo também, apesar de conceder à grande maioria de seus cidadãos uma vida de 3º, 4º mundo.

 

Na terra da garoa bandeira não entra. Faixa e instrumento musical só se for de organizada, porque torcedor comum aqui não pode se manifestar, não pode nada, só aquele que a própria polícia acusa ser causador de problema, ou seja, o organizado. Jornal? Nem pensar, pois, na visão de quem faz futebol em São Paulo, trata-se de uma arma com potencial de destruição em massa. Papel picado? O mesmo problema do jornal. Faixas e cartazes se manifestando contra algum dirigente? Esqueça, pois liberdade de expressão parece ser um direito não muito bem esclarecido por aqui.

 

Enquanto isso, o que vemos nos outros estados é o oposto total. Faixas, fogos, bandeiras e toda pirotecnia que se imagine são permitidas aos torcedores que querem levar mais do que suas vozes como forma de apoio e celebração ao time que amam. Claro, talvez tenham percebido nessas terras que o problema não está nos objetos, mas sim, e obviamente, nas pessoas.

 

Não precisam criar mais leis, projetos, comissões de paz. Já existe amparo legal (sempre existiu na verdade) para combater crimes, brigas e quaisquer delitos ligados ao futebol. Aliás, o esporte não está à margem da sociedade em termos de responsabilidades e de leis. Então, o sujeito que comete uma infração no estádio pode ser punido da mesma forma que aquele que o faz no cinema, no parque, na rua, em qualquer lugar.

 

Mas nossos 'visionários' da organização do espetáculo pensam diferente. São escravos de novas leis, resoluções, grupos de discussão, comissões e o escambau, só para dar satisfação à sociedade daquilo que não precisa mais ser discutido, somente aplicado.

 

Gabriel Brito é jornalista.

 

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