Próximo ao Itaquerão, Jardim Helian encara uma Copa sem legado social

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Gabriel Brito e Paulo Silva Junior, da Redação
06/06/2014

 

 

Uma das comunidades de Itaquera que se organiza e atua politicamente, o Jardim Helian vê de perto o processo político e social trazido ao bairro por conta da Copa do Mundo e da construção do recém-inaugurado estádio do Corinthians. Agora, a poucos dias da abertura do mundial, aquilo que se chama de legado já começa a se mostrar em sua realidade.

 

“Eu ouço só o lado positivo, do “legado” da Copa, que Itaquera vai ser tratada como Europa, está crescendo, tendo infraestrutura... Realmente, está tendo infraestrutura, mas não para a periferia, só para o centro. Aqui na nossa comunidade é córrego a céu aberto, não tem asfalto, de equipamento público só tem essa UBS, que é em uma casa locada... Não tem campo de futebol, não tem praça esportiva, de lazer, não tem nada”, disse Rodrigo Reis, líder da Associação de Moradores do Jardim Helian, em entrevista ao Correio da Cidadania.

 

Na conversa, ele relata também como foi o breve encontro com o prefeito Haddad e a presidente Dilma, que tratou da regularização das moradias do bairro e também da ocupação Copa do Povo, promovida pelo MTST, em terreno de 150 mil m², pelo qual o proprietário paga apenas 57 reais por ano de imposto. “Eu acredito em tentar o diálogo, juntando força com os movimentos que estão na rua. Não penso que queremos medir forças, mas, se for preciso, a gente vai medir também”, afirmou Rodrigo.

 

A entrevista completa, mais uma realizada em conjunto com a webrádio Central3, pode ser lida a seguir.

Correio da Cidadania: Qual o histórico da Associação dos Moradores do Jardim Helian, distrito de Itaquera, e em quais questões vocês se engajaram mais, historicamente?

 

Rodrigo Reis: Nosso histórico de luta é aqui na região de Itaquera, já há cerca de 30 anos. Reivindicamos, por exemplo, Unidades Básicas de Saúde, pois o que temos no bairro é uma pequena casa locada e sem muita acessibilidade. Essa casinha mal atende a demanda do bairro e a nossa luta é para que a gente consiga construir uma unidade de saúde num espaço maior, com acessibilidade e dentro das normas de atendimento ao bairro.

 

Outra demanda é a moradia. Aqui na comunidade, uma boa parte dos moradores não tem sua casa própria e muitos moram de favor. Outros moram de aluguel, sendo que o valor aumentou em torno de 100% por aqui. Essas são as principais questões, mas existem outras demandas de melhorias no bairro.

 

Correio da Cidadania: O que poderia dizer a respeito do custo de vida na região, como ficou nos últimos anos?

 

Rodrigo Reis: Nossa comunidade fica a cerca de 4 km do Itaquerão. Acontece que quem pagava R$ 300, hoje paga 600 de aluguel, com dois cômodos. E aqui na comunidade, devido a todas essas dificuldades, o pessoal enxergou uma oportunidade, através do movimento do MTST, com a ocupação recente (Copa do Povo), na qual participam umas 800 famílias daqui do bairro. O pessoal aproveitou a oportunidade por vê-la como a única alternativa para ter uma moradia, porque financiar um imóvel hoje em Itaquera, para o pessoal da classe baixa, é quase impossível.

 

Correio da Cidadania: Vocês já verificam as consequências disso, isto é, o êxodo de pessoas mais pobres para regiões mais afastadas e periféricas?

 

Rodrigo Reis: Sim. Eu conheço várias pessoas que não conseguiram pagar o aluguel e foram pra Itaquaquecetuba, Mauá, ou os bairros mais distantes, como Cidade Tiradentes. Isso porque os alugueis aumentaram, mas o salário não, e essas pessoas basicamente foram empurradas para mais longe do centro de Itaquera.

 

Correio da Cidadania: E como você avalia o processo político e social em curso no bairro, agora que já estamos às portas da Copa do Mundo?

 

Rodrigo Reis: Tivemos reuniões com o subprefeito (não este, o outro subprefeito) para cobrar as demandas do bairro e eu ouço só o lado positivo, do “legado” da Copa, que Itaquera vai ser tratada como Europa, está crescendo, tendo infraestrutura...

 

Realmente, está tendo infraestrutura, mas não para a periferia, só para o centro. Aqui na nossa comunidade é córrego a céu aberto, não tem asfalto, de equipamento público só tem essa UBS, que é em uma casa locada... Não tem campo de futebol, não tem praça esportiva, de lazer, não tem nada.

 

Correio da Cidadania: Como se noticiou bastante, tivemos na região a ocupação do MTST denominada Copa do Povo. Vocês têm contato com as pessoas da ocupação, o que pode dizer a este respeito? E como tem sido a receptividade do poder público frente às demandas das associações e movimentos aqui em questão?

 

Rodrigo Reis: A ocupação Copa do Povo aconteceu do lado da nossa comunidade, fica praticamente dentro do Jardim Helian. Assim, nós fizemos a acolhida do movimento para oferecer ajuda no que fosse possível. Com essa acolhida, tivemos a oportunidade de entender um pouco da filosofia deles, participamos de reuniões, inclusive tivemos uma com a presidenta Dilma e o prefeito Fernando Haddad.

 

Nessa reunião, a presidenta mostrou apoio, ficou de estudar a ocupação e a documentação do terreno. Neste terreno, de 150mil m², o dono paga 57 reais por ano de imposto, pois é uma área que está classificada como rural (qualquer morador da região paga muito mais de IPTU). Conversamos trinta minutos com a presidenta e, pelo que entendi do encontro, ela mostrou interesse em ajudar.

 

Correio da Cidadania: E vocês acreditam nessas promessas de governantes ou preferem apostar no caminho da pressão e mobilização popular?

 

Rodrigo Reis: Eu acredito em tentar o diálogo e mostrar o movimento organizado, juntando força com o MTST, com o Fórum Popular de Saúde, com os movimentos que estão na rua. Não penso que queremos medir forças, mas, se for preciso, a gente vai medir também.

 

Eu estou respondendo como associação do meu bairro. Mas acredito que o MTST está mostrando para o poder público que eles não querem nada de graça. Eles querem os direitos deles e querem também pagar pelo que pedem, cumprindo seus deveres. Só que, se for preciso mobilização nas ruas, eles vão mostrar, vão se mobilizar. É o que está acontecendo.

 

Ouça aqui o áudio da entrevista.

 

 

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Gabriel Brito e Paulo Silva Junior são jornalistas.

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