A massa rompeu o silêncio

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Vandique Magalhães
22/06/2013

 

 

A maioria silenciosa está falando. E o seu grito ecoa pelo país inteiro. Mas, em princípio, deixa muitos atônitos sem entender o que está acontecendo. Até os grandes jornais, veículos de comunicação e os seus respectivos articulistas não conseguem explicar o que está acontecendo nas ruas. A luta pela redução das tarifas de ônibus encabeçada pelo movimento do Passe Livre desencadeou uma lista de reivindicações difusas.

 

Nem mesmo a Copa das Confederações, talvez o único grande espetáculo capaz de atenuar o desejo de mudança expresso pela massa, segundo estudo “À Sombra das Maiorias Silenciosas” do sociólogo francês Jean Baudrillard, consegue calar a voz rouca das ruas. Aliás, a sonora vaia que a presidente Dilma Roussef levou durante a solenidade de abertura do evento no dia 15 de junho em Brasília talvez tenha sido o prenúncio de uma insatisfação generalizada que até então estava entalada na garganta do povo brasileiro.

 

As manifestações foram catalisadas pelo vigor dos jovens estudantes e ganharam corpo nas ruas do país. Sem partido, sem representantes e com um forte desejo de mudança, o movimento só foi surpreendido ora pela violência desmedida da polícia ou pela atuação de vândalos que não se contêm e nem tampouco entendem o que o país está protagonizando.

 

A passividade e a indiferença da massa deram lugar à espontaneidade quase selvagem e implosiva por meio de um grito incontido por mudanças. Agora, ela deixou de ser a “maioria silenciosa” para se tornar sujeito da história política do país.

 

Revestida de certa imunidade à manipulação pelo poder e também à mistificação pelo futebol e ao espetáculo, a massa “silenciosa” tem muito a nos dizer e a nos ensinar. Mas a sua grande vingança é saber que ninguém pode dizer que a representa. E as suas reivindicações são mesmo difusas.

 

Depois da eclosão desses movimentos resta agora as autoridades e a classe política brasileira recorrerem ao exame das suas próprias consciências para saber o que está errado e o que precisa ser mudado. E olha que a lista é grande: de corrupção à violência, saúde, educação, transporte público, transparência, ética, e por aí vai...

 

Uma lição todos já tiveram: a massa está mais viva do que nunca e pode a qualquer momento voltar a romper o silêncio para dizer em alto e bom som que as coisas não vão bem, como um vulcão que saiu do seu estado de dormência para projetar lavas quentes ao seu derredor e chamuscar principalmente os que teriam o papel de representá-las na esfera política, com uma atuação exemplar, buscando satisfazer as necessidades mais básicas da população em geral.

 

Esperamos, sinceramente, que esse comportamento crítico e de certa forma revolucionário possa se refletir nas urnas nas futuras eleições. De qualquer maneira, o grande recado está dado, pois o que uniu essa massa de insatisfeitos foi o desejo de mudança aliado a um recurso moderno que superou a capacidade de mobilização dos veículos de comunicação tradicionais: as mídias sociais.

 

Vandique Magalhães é jornalista. E-mail: Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.

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