Com sinais preocupantes, dependência externa desnuda-se em 2013

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Guilherme C. Delgado
12/12/2013

 

 

 

A especialização primária com desindustrialização no comércio externo, acrescida de uma situação estruturalmente deficitária nas transações com “Serviços”, caminha para fechar o ano de 2013 com déficit na faixa de 75 a 80 bilhões de dólares, algo como 3,5% do PIB. Essa situação vem se deteriorando desde 2008, por meio de dois agravantes: 1) o déficit da conta de “Serviços” não para de crescer, pulando dos 50 para a faixa dos 75 bilhões de dólares do período Lula para o período Dilma, enquanto no início da década dos anos 2000 (segundo governo FHC) se situara no patamar dos 25 bilhões de dólares; 2) em adição a esse desequilíbrio estrutural, o comércio exterior de manufaturados sofre o efeito da ‘desindustrialização’, ou seja, crescentemente deixamos de exportar manufaturados para importá-los. Estima-se em 100 bilhões de dólares o déficit comercial dos manufaturados ao longo do ano de 2013

 

Essa situação de déficits seguidos e crescentes nas transações externas está bem documentada empiricamente, já não pode ser escondida mediante discurso escapista, mas precisa ser interpretada. É algo assim como o diagnóstico de uma aurora ou de um ocaso, que o observador experiente não confundirá, bastando saber ler a posição do Sol e a disposição dos raios solares. Mas identificados objetivamente os sinais do tempo e constatada a presença de uma aurora ou de um ocaso (independente da posição ideológica do observador), variam enormemente os significados do tempo sobre o devir, na percepção e avaliação dos sujeitos observadores.

 

Dois fenômenos também fartamente documentados do ponto de vista empírico se cruzaram neste ano corrente: a forte concentração de bens primários na exportação (‘reprimarização’ do comércio externo) e a fuga dos produtos manufaturados das exportações, trocando de posição para as importações – a desindustrialização das exportações. E pela primeira vez desde 1995-99, quando a Balança Comercial foi seguidamente negativa, poderemos ter uma situação similar em 2013.

 

Mas a conta da moeda estrangeira não fecha somente com comércio de mercadorias, daí porque o tamanho do déficit de Serviços torna-se preocupante, porque precisa ser financiado com recursos externos. Esses recursos externos (capitais estrangeiros) acumulam-se na economia, gerando passivos externos, principalmente as rendas do capital, geradoras de novos déficits na Conta de Serviços. Essa bola de neve, quando claramente insolvente, caminha para uma crise cambial, como a que tivemos em 1999.

 

A solução para a crise externa de l999, que foi a de conduzir o sistema econômico para a via primário-exportadora, seguida de seu irmão siamês, qual seja, a desindustrialização do comércio externo, não resolve o desequilíbrio externo. Isto agora está meridianamente claro. O problema maior está na leitura que o sistema conservador ora faz do sentido de sair da crise cambial que se desenharia, com a repetição do último triênio (2010/2013) por mais outro. Parece que se volta a apostar no aprofundamento da exploração das “commodities’ do setor primário, especialmente do petróleo, cujos ritmos de produção precisariam experimentar superexploração em médio prazo para dar solvência à dependência externa.

 

A conjuntura atual desenha certa reversão cíclica dos preços externos de produtos minerais, exceto petróleo, agrícolas e pecuários, algo que é normal na história econômica, mas que virou um problema fundamental para a economia brasileira, dado o caminho estruturado na última década.

 

Temos algum tempo para resolver os dilemas do presente. A eleição de 2014 não será igual à de 1998, quando a mídia sistematicamente escondeu a crise cambial para não prejudicar a reeleição do presidente Fernando Henrique. Agora ao contrário, tenta-se forjar uma crise cambial iminente, que não é verdadeira. Mas é infelizmente uma meia-verdade, tecida pelo casamento infeliz da ‘reprimarização’ com a desindustrialização do comércio externo, processos que não são apenas fenômenos empíricos, mas estruturas perversas da economia política do subdesenvolvimento, recuperadas depois de 1999, mas que precisam ser reformadas em profundidade.

 

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Guilherme Costa Delgado é doutor em Economia pela UNICAMP e consultor da Comissão Brasileira de Justiça e Paz.

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