Estados Unidos: política externa versus economia

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Virgílio Arraes
01/08/2008

 

Há poucos dias, o Senador Barack Obama, candidato democrata à presidência da República, viajou à Europa – Alemanha, França e Grã-Bretanha - e ao Oriente Médio e cercanias – Afeganistão, Cisjordânia, Iraque, Israel, Jordânia e Kwait -, tendo obtido boa acolhida tanto nos meios de comunicação de cada país visitado como na própria população.

 

Embora não atraia diretamente votos, a receptividade positiva nos locais a que compareceu Obama tem valor simbólico para a sua candidatura estagnada – mas ainda em primeiro lugar -, ao demonstrar o desgaste da gestão Bush diante dos europeus, descrentes da validade da política de oposição ao terrorismo aplicada nos últimos anos. Além do mais, o êxito da sua incursão euro-médio-oriental minimiza, por enquanto, as críticas direcionadas a ele sobre a pouca experiência na área de relações exteriores e defesa.

 

Nesse sentido, o seu opositor republicano, John McCain, não se arriscaria a empreender jornada similar na Europa, sob o risco de canalizar para si a animadversão nutrida pelos cidadãos de lá com a administração atual.

 

Um dos pontos divergentes com relação à plataforma republicana é a duração da presença dos efetivos anglo-americanos no Iraque. Os democratas posicionam-se de maneira clara a favor de uma retirada gradativa, em torno de um ano e seis meses, enquanto os republicanos, não – conquanto, em termos retóricos, eles admitam remotamente a possibilidade.

 

McCain tem sido um aguerrido defensor da ampliação de tropas – proposta implementada pelo Departamento de Defesa - porque diminuiria a instabilidade do país. De fato, a turbulência reduziu-se, porém outros aspectos ajudaram a concretização disto, como os acordos com vários dos principais dirigentes políticos e religiosos de vertente xiita. A aparente calmaria reitera a visão do eleitorado de que os republicanos seriam mais habilitados em política externa.

 

O próprio primeiro-ministro do Iraque, Nouri Al-Maliki, advoga de forma constante a necessidade de se estabelecer um cronograma para o retorno das tropas, com o objetivo de auxiliar a consolidar politicamente o processo de estabilização. Mesmo sem pormenorizar, o dirigente avalia que o ideal para o seu país é o fim de 2010.

 

Normalmente, a turnê dos candidatos dos dois principais partidos costuma abranger ao menos três países: Irlanda, Israel e Itália, com os quais muitos eleitores - notadamente de algumas grandes cidades como Boston, Chicago, Filadélfia, Nova York, Los Angeles, San Francisco etc. - têm vínculos étnicos e religiosos substanciais.

 

Nem sempre, porém, os aspirantes à Casa Branca subscrevem a tradição viajante, como foi o caso do presidente George Bush. Antes de concorrer à Casa Branca, ele havia sido um turista ocasional, tendo visitado China - onde seu pai residia por ser o titular da representação norte-americana, sem status de embaixatura por terem os Estados Unidos optado por Formosa -, México, Itália e Israel em um espaço de quase trinta anos.

A despeito de haver por parte dos europeus rejeição à política exterior estadunidense, ela é, à primeira vista, aceita pelos norte-americanos. Esta seria a possível explicação para a proximidade percentual entre os dois candidatos, dado que, segundo a revista Time em pesquisa de julho, o repúdio da população ao governo Bush conecta-se com a economia e com a convicção de que a desregulamentação desaguaria em prosperidade.

 

Assim, mais de 4/5 dos estadunidenses seriam a favor de maior presença governamental para a geração de mais empregos e para aumentar o salário mínimo e mais de 3/4 dos americanos desejariam a extensão de planos de saúde para todos os cidadãos – atualmente, 15% não dispõem de assistência alguma. 85% dos entrevistados crêem que o país se conduz mal na economia.

 

A desesperança atinge principalmente os mais jovens – a chamada geração J -, o que explica porque os eleitores entre 18 e 29 anos inclinam-se por Obama. Entrementes, apesar de quase uma década republicana, a última pesquisa do instituto Gallup aponta uma diferença de meros quatro pontos entre Obama e McCain – 46 a 42 por cento. Portanto, é possível que para muitos americanos a segurança seja mais importante que a economia.

 

Virgílio Arraes é professor de Relações Internacionais da UNB.

 

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