Democratas: qual política externa?

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Virgílio Arraes
10/06/2008

 

Confirmada a indicação do senador Obama para concorrer à presidência pelo Partido Democrático, qual seria então a forma de relacionamento almejada com a América Latina?

 

Do lado republicano, não há, até o momento, sinalização de alteração substantiva das diretrizes adotadas durante o governo Bush por parte do senador McCain. Desta forma, Cuba, Colômbia e Venezuela permaneceriam como foco em uma eventual administração sua.

 

Quanto aos democratas, as indicações mais recentes sugerem também poucas alterações com relação ao atual cenário, afora a retórica por meio da qual se destaca a necessidade de se superar a desigualdade no comércio regional e, por conseguinte, se reduzir o grau de pobreza. Provavelmente, ainda que se suspendesse a negociação de acordos bilaterais de livre-comércio, o governo norte-americano pouco ajudaria diretamente a população latino-americana.

 

No máximo, ofertaria à região programas limitados de qualificação de mão-de-obra e de aperfeiçoamento no ensino superior e, ao mesmo tempo, incentivaria os países a atraírem o investimento externo direto como o melhor caminho para estimular o crescimento - na melhor das hipóteses, algo similar à Aliança para o Progresso, do período Kennedy-Johnson nos anos 60. Contudo, o embargo econômico a Cuba seria mantido.

 

Quanto à Colômbia, o combate ao narcotráfico, encaixado na chamada guerra ao terror, deve continuar a receber apoio, ao menos logístico e informacional, do novo titular da Casa Branca, se democrata. Além do mais, a administração Bush assinou um tratado de abertura comercial com o país, como tática diplomática alternativa à Área de Livre Negociação das Américas (Alca), o que reitera os laços entre os dois países e o status de exportador primário – café, frutas e petróleo basicamente.

 

Assinado pelos presidentes em novembro de 2006, na esteira de um acordo similar com o Chile em 2003, ele ainda não foi ratificado pelo Congresso – primeiro na Câmara - por aguardar o desfecho da eleição presidencial em novembro próximo – depois dele, há a análise dos casos do Peru e da Coréia do Sul.

 

De acordo com a classificação mais recente do Departamento de Estado, tanto as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC) como as Autodefesas Unidas da Colômbia (AUC) continuam a ser consideradas organizações terroristas. Assim, não haveria apoio de Washington para que houvesse a deposição coletiva das armas por parte das FARC, seguida de uma eventual transformação em partido político.

 

Sempre cuidadoso no expressar-se, Barack Obama já mencionou que apoio externo ao terrorismo em solo colombiano acarretaria, além do isolamento regional, sanções. Na prática, o que isto significaria? Os democratas aprovariam, por exemplo, novos deslocamentos militares da Colômbia a outros países, como o recentemente acontecido com o Equador?

 

Com vistas à Venezuela, o relacionamento diplomático continuará tenso, à medida que admite legitimidade na eleição de Chávez, porém não na sua forma de governar, a despeito do reconhecimento de Caracas de sua derrota no referendo sobre alterações na constituição, realizado em dezembro de 2007.

 

Assim, não há a perspectiva de reeditar-se, guardadas as devidas proporções, uma nova política de boa vizinhança, como a praticada pelo presidente (também democrata) Franklin Roosevelt. Naquele momento, apesar da pressão das companhias multinacionais, uma norte-americana e a outra anglo-holandesa, o governo não interveio diretamente – patrocínio de golpe ou de expedição militar - contra a nacionalização dos recursos petrolíferos pelo presidente do México, Lázaro Cárdenas. Assim, nasceria a Petróleos Mexicanos (Pemex).

 

Embora o governo dos Estados Unidos e o da Grã-Bretanha não tenham aceitado a estatização – apesar da indenização concedida às empresas -, ambos se limitaram a estabelecer um boicote econômico, interrompido em decorrência do início da II Guerra Mundial.

 

Os democratas têm, caso vençam o pleito de novembro, uma oportunidade única para renovar as relações diplomáticas com a região. Em vez da oferta de tratados econômicos de teor neoliberal - quer no âmbito bilateral, como o já acima citado com Bogotá, quer multilateral, como uma possível área de livre-comércio das Américas, ou de auxílio à guerra contra o terror –, existe a possibilidade de parcerias em infra-estrutura ou em pesquisas científicas, como na área de biocombustíveis.

 

Virgílio Arraes é professor de Relações Internacionais da UNB.

 

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Confirmada a indicação do senador Obama para concorrer à presidência pelo Partido Democrático, qual seria então a forma de relacionamento almejada com a América Latina?

 

Do lado republicano, não há, até o momento, sinalização de alteração substantiva das diretrizes adotadas durante o governo Bush por parte do senador McCain. Desta forma, Cuba, Colômbia e Venezuela permaneceriam como foco em uma eventual administração sua.

 

Quanto aos democratas, as indicações mais recentes sugerem também poucas alterações com relação ao atual cenário, afora a retórica por meio da qual se destaca a necessidade de se superar a desigualdade no comércio regional e, por conseguinte, se reduzir o grau de pobreza. Provavelmente, ainda que se suspendesse a negociação de acordos bilaterais de livre-comércio, o governo norte-americano pouco ajudaria diretamente a população latino-americana.

 

No máximo, ofertaria à região programas limitados de qualificação de mão-de-obra e de aperfeiçoamento no ensino superior e, ao mesmo tempo, incentivaria os países a atraírem o investimento externo direto como o melhor caminho para estimular o crescimento - na melhor das hipóteses, algo similar à Aliança para o Progresso, do período Kennedy-Johnson nos anos 60. Contudo, o embargo econômico a Cuba seria mantido.

 

Quanto à Colômbia, o combate ao narcotráfico, encaixado na chamada guerra ao terror, deve continuar a receber apoio, ao menos logístico e informacional, do novo titular da Casa Branca, se democrata. Além do mais, a administração Bush assinou um tratado de abertura comercial com o país, como tática diplomática alternativa à Área de Livre Negociação das Américas (Alca), o que reitera os laços entre os dois países e o status de exportador primário – café, frutas e petróleo basicamente.

 

Assinado pelos presidentes em novembro de 2006, na esteira de um acordo similar com o Chile em 2003, ele ainda não foi ratificado pelo Congresso – primeiro na Câmara - por aguardar o desfecho da eleição presidencial em novembro próximo – depois dele, há a análise dos casos do Peru e da Coréia do Sul.

 

De acordo com a classificação mais recente do Departamento de Estado, tanto as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC) como as Autodefesas Unidas da Colômbia (AUC) continuam a ser consideradas organizações terroristas. Assim, não haveria apoio de Washington para que houvesse a deposição coletiva das armas por parte das FARC, seguida de uma eventual transformação em partido político.

 

Sempre cuidadoso no expressar-se, Barack Obama já mencionou que apoio externo ao terrorismo em solo colombiano acarretaria, além do isolamento regional, sanções. Na prática, o que isto significaria? Os democratas aprovariam, por exemplo, novos deslocamentos militares da Colômbia a outros países, como o recentemente acontecido com o Equador?

 

Com vistas à Venezuela, o relacionamento diplomático continuará tenso, à medida que admite legitimidade na eleição de Chávez, porém não na sua forma de governar, a despeito do reconhecimento de Caracas de sua derrota no referendo sobre alterações na constituição, realizado em dezembro de 2007.

 

Assim, não há a perspectiva de reeditar-se, guardadas as devidas proporções, uma nova política de boa vizinhança, como a praticada pelo presidente (também democrata) Franklin Roosevelt. Naquele momento, apesar da pressão das companhias multinacionais, uma norte-americana e a outra anglo-holandesa, o governo não interveio diretamente – patrocínio de golpe ou de expedição militar - contra a nacionalização dos recursos petrolíferos pelo presidente do México, Lázaro Cárdenas. Assim, nasceria a Petróleos Mexicanos (Pemex).

 

Embora o governo dos Estados Unidos e o da Grã-Bretanha não tenham aceitado a estatização – apesar da indenização concedida às empresas -, ambos se limitaram a estabelecer um boicote econômico, interrompido em decorrência do início da II Guerra Mundial.

 

Os democratas têm, caso vençam o pleito de novembro, uma oportunidade única para renovar as relações diplomáticas com a região. Em vez da oferta de tratados econômicos de teor neoliberal - quer no âmbito bilateral, como o já acima citado com Bogotá, quer multilateral, como uma possível área de livre-comércio das Américas, ou de auxílio à guerra contra o terror –, existe a possibilidade de parcerias em infra-estrutura ou em pesquisas científicas, como na área de biocombustíveis.

 

Virgílio Arraes é professor de Relações Internacionais da UNB.

 

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