Estados Unidos: a movimentação da Rússia na Síria

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Virgilio Arraes
04/12/2015

 

 

 

 

Após o ingresso da Rússia no conflito da Síria, ainda que com desenvoltura limitada, os Estados Unidos consideram a hipótese de intensificar seu envolvimento no turbulento país médio-oriental, ao avaliar o envio de unidades de elite para ações bem específicas.

 

Não se descortina até o momento maior presença de efetivos estadunidenses, haja vista a repercussão incessante do fracasso das três últimas maiores intervenções – Afeganistão, Iraque e a mais recente, na Líbia.

 

As forças especiais poderiam auxiliar a atuação das milícias curdas, um dos bastiões de oposição ao avanço dos batalhões fundamentalistas sírio-iraquianos, ou almejar a captura - ou quiçá a eliminação - de líderes militares opositores.

 

A base dos eventuais grupos de escol norte-americanos seria o Iraque, de onde se coordenam atualmente boa parte das operações contra o denominado Estado Islâmico, o que abarca até as cotidianas investidas aéreas de grande porte.

 

A movimentação de Washington decorre da possibilidade de que Moscou apresente em pouco tempo resultados visíveis nos esforços de contenção dos integristas e viabilize, desta maneira, a sobrevivência da ditadura de Bashar al-Assad.

 

Entre os segmentos políticos estadunidenses mais conservadores, a iniciativa russa seria o contraponto da inércia norte-americana. Tradicionalmente, eles vinculam gestões do Partido Democrata a uma suposta animadversão a utilizar o poderio militar em prol da visão ocidental de democracia e do livre comércio.

 

Ao longo de um século, eles desconsideram que, à exceção dos Bushes, todas as confrontações de peso de que participou Washington foram de iniciativa dos democratas: Wilson em 1917, Roosevelt em 1941, Truman em 1950 (Coréia), Johnson em 1965 (Vietnã), Clinton em 1998 (Bósnia) e Obama em 2011 (Líbia).

 

Além do Kremlin, a Casa Branca inquietou-se com o posicionamento do Eliseu de declarar guerra, ante a estupefação dos múltiplos ataques terroristas na capital francesa há poucos dias, a uma organização que, a despeito de atuar de modo vigoroso em dois países combalidos, não tem status governamental reconhecido por nenhuma sociedade, nem mesmo entre as mais reacionárias no Oriente Médio.

 

Recorde-se que até o Afeganistão, às vésperas da investida castrense dos Estados Unidos após os ataques a Nova York em setembro de 2001, mantinha relacionamento com três países: Arábia Saudita, Emirados Árabes e Paquistão, sendo este, em determinado ponto, o único a manter conexões diplomáticas com a administração talibã.

 

Por fim, a preocupação da Rússia com a Síria deriva da necessidade de manter o único aliado naquela região. Assim, o alvo de Moscou não se restringe aos extremistas, mas abrange a oposição a al-Assad.

 

Resta aguardar como o governo norte-americano irá se comportar lá com a incorporação imprevista de duas novas potências europeias a uma guerra - outrora civil - sem expectativa alguma de encerramento no curto prazo.

 

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Virgílio Arraes é doutor em História das Relações Internacionais pela Universidade de Brasília e professor colaborador do Instituto de Relações Internacionais da mesma instituição.

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