A questão ecológica em Aparecida

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Roberto Malvezzi
08/05/2007

 

 

A imprensa crítica de uma Igreja libertária – também setores da própria Igreja - tem prazer especial em dizer que Woytila e Ratzinger reduziram a pó a Teologia da Libertação e as Comunidades Eclesiais de Base. Em parte é verdade, mas, como diz Gutierrez, “se elas morreram, esqueceram de me convidar para seu funeral”.

 

A questão ecológica da América Latina e Caribe deverá estar presente em Aparecida. Eu mesmo, pela CPT, participei por vários anos da “Equipe de Terra, Água e Meio Ambiente” do CELAM. Estive também em alguns momentos que ajudaram a preparar conteúdos para Aparecida. O último foi no ano passado, na cidade do México, um evento organizado pelo Cardeal Maradiaga, de Honduras, presidente da Comissão que cuida das questões sociais do CELAM. Foi lá que Gutierrez disse essa frase.

 

Nossos países são ricos em água, solos, sol e biodiversidade. A região Pan- Amazônica é mega diversa e abrange vários países. Por nossas riquezas, nossa região é ambicionada no mundo inteiro. Ainda mais, não falta em nenhum de nossos países uma elite colonizada sempre disposta a entregar nossas riquezas e cortar o pescoço de nosso povo, desde que ela mame, ainda que pelas beiradas, nas torneiras do capital internacional.

 

A grande vítima desses países colônias foi a população nativa, agora ampliada pelas populações tradicionais. Negros, índios, ribeirinhos, populações das florestas, o que restou das populações tradicionais, por mais agredidas que tenham sido na história, ainda nos fizeram o favor de preservar o que nos resta de bens naturais. O ouro, a prata e demais bens minerais nós sabemos onde foram parar. A grande investida do capital internacional, em toda América Latina e Caribe, agora é sobre os territórios dos povos tradicionais. O Plano Puebla Panamá, na América Central, e o IIRSA – Iniciativa de Integração da Infra-estrutura Regional Sul-americana -, já estavam desenhados há muitos anos. Essa é a obsessão de Lula por portos, hidrovias, energia etc. Ele, mais obediente que todos os anteriores, apenas se desespera em implementar essa infra-estrutura demandada pela globalização do continente.

 

Diante da crise civilizatória que afeta o mundo, particularmente a ecológica, a Igreja Católica ainda deve à humanidade um documento específico sobre a questão, assim como fez em momentos chaves, como a Rerum Novarun, diante do surgimento da questão operária. Políticos e cientistas, a sós, não irão reverter essa situação de degradação do planeta, porque ela tem graves pressupostos éticos e morais.

 

Será que Bento XVI ajudará os bispos latinos e caribenhos a encarar esse desafio? Será que os próprios bispos terão capacidade de perceber os evidentes sinais dos tempos? Tomara que sim. Entretanto, a redação do documento final pertence ao Vaticano. Qual a abordagem vai prevalecer? É uma interrogação.

 

Num continente tão aviltado pela injustiça e pela degradação ambiental, a Teologia da Libertação e as Comunidades Eclesiais de Base ainda têm um longo caminho a percorrer, a partir dos desafios ecológicos e das multidões empobrecidas. É o momento da reinvenção para não ficarmos fossilizados. Estamos mortos para alguns e mais vivos que nunca diante dos desafios que desabam sobre nossas cabeças.

 

 

Roberto Malvezzi, o Gogó, é coordenador da CPT.

 

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