Bahiabio: 20 vezes pior que a Transposição

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Roberto Malvezzi
20/05/2008

 

O governo da Bahia lançou em um de seus sítios o programa Bahiabio (www.seagri.ba.gov.br/bahiabio.asp). Ele se propõe simplesmente em plantar 870 mil hectares de cana para produção de etanol e 868 mil hectares de oleaginosas para produzir biodiesel. Avisa logo na apresentação: "não é para produzir alimentos". Portanto, sequer a idéia de consorciar. Monocultura em estado puro.

 

Outro detalhe fundamental é que 510 mil hectares de cana serão no vale do São Francisco. Portanto, cana irrigada. Cerca de 300 mil no Oeste Baiano, 20 mil no projeto Salitre, 60 mil no Canal do Sertão, 40 mil no Baixio do Irecê, 60 mil no Médio São Francisco, 30 mil no rio Corrente. E o sertão vai virar cana. O restante será implantado na região sul (300 mil hectares) e Sudoeste (60 mil hectares), com regularidade de chuvas, dispensando a irrigação. No Oeste Baiano dizem que a irrigação será "suplementar".

 

Oras, os técnicos em irrigação nos dizem que um hectare irrigado consome um litro por segundo em média. Entretanto, embora seja segredo trancado a sete chaves no Brasil, já descobrimos através da Índia que um litro de etanol consome 3.600 de água pra ser produzido em cana irrigada. Portanto, para irrigar 510 mil hectares são necessários 510 mil litros por segundo em média, ou seja, 510 metros cúbicos. Entretanto, na cana irrigada pode ser muito mais.

 

É de se perguntar, com toda obviedade, de onde vão tirar essa água. Os próprios dados do Comitê de Bacia do São Francisco, dados praticamente pesquisados e oferecidos pela Agência Nacional de Águas (ANA), nos dizem que o São Francisco só tem para múltiplos usos 360 metros cúbicos de água. O restante pertence à Chesf para gerar energia elétrica. Desses 360, 335 já estariam outorgados, sabe-se lá para quem e para quê. Portanto, restariam 25 metros cúbicos por segundo, que o pessoal da Transposição tomou para si. Portanto, o que resta é zero.

 

O chocante nessa história de megalomania e irresponsabilidades é perceber que a água necessária para irrigar essa cana – ainda não estão contabilizados os 80 mil hectares complementares do projeto Canal do Sertão para o estado do Pernambuco – é 20 vezes maior que a demandada pela transposição, que é de 26 metros cúbicos por segundo.

 

Nesse caso é preciso dar razão para aqueles que dizem ser "insignificante o que a transposição vai levar para os outros estados". Se essa água é necessária mesmo por lá ou não é outra história, mas a quantidade é mesmo pequena diante do Bahiabio. A verdade é que vão devorar o São Francisco nas suas melhores manchas de solos e nos seus grandes volumes de água.

 

Nesse momento em que os predadores tomam conta da nação, devorando a Amazônia, o Cerrado, o Pantanal, cegados pelos agrocombustíveis, se faltava algo para nos enterrar de vez nas margens do Velho Chico, já não falta mais: chegou o Bahiabio.

 

Roberto Malvezzi (Gogó) é coordenador da CPT.

 

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