Torcidas e política no Egito: um massacre

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Aldo Cordeiro Sauda
07/02/2012

 

No dia 1º de fevereiro morreram 73 companheiros da torcida do Ultras Ahly, a maior torcida organizada do Egito. Foram assassinados pelos torcedores do Massry, um time de Port Said.

 

Antes do jogo começar foram espalhados boatos em Port Said de que os torcedores do Ahly estavam armados e iriam atacar e destruir a cidade. De acordo com alguns jornalistas, estes boatos fizeram com que os torcedores do Massry, com medo de serem massacrados pelos torcedores do Ahly, se armassem para enfrentar seus inimigos. O Massry é um time relativamente pequeno quando comparado com o Ahly (o maior) e o Zamalek (o segundo maior).

 

Já fui a jogos com a torcida organizada do Ahly. Eles são extremamente pacíficos em relação às outras torcidas e muito politizados. Esta torcida está presente desde o início das mobilizações na Praça Tahrir e, ao lado da torcida Ultras Zamalek, promoveram uma fusão entre as torcidas organizadas e agora se apresentam como ”Ultras Freedom”, ou seja “Ultras da Liberdade”. No início do referido jogo do dia 1º, começaram a ofender o Marechal Tantawi, chefe da Junta Militar egípcia que preside o país.

 

O ataque aos torcedores do Ahly provocou uma reação da torcida do Zamalek. Alguns relatos contam que, em solidariedade aos que caíram, eles atearam fogo no Estádio do Cairo. Outros relatos informam que a torcida do Z


amalek, principal rival do Ahly, falou que irá marchar até a cidade de Port Said para defender seus companheiros do Ultras Ahly, massacrados pela polícia e pelos torcedores do Massry. É mais ou menos o equivalente à Mancha Verde (torcida do Palmeiras) atear fogo no Pacaembu (estádio municipal de São Paulo) em solidariedade a um massacre sofrido pela Gaviões da Fiel (torcida do Corinthians) em um jogo contra o Sport Recife.

 

Muitos companheiros estão dizendo que isto é uma punição coletiva, organizada pela polícia, para se vingar dos torcedores do Ahly, que estiveram nas linhas de frente dos confrontos com a polícia. O fato é que em todas as imagens podemos ver a polícia apenas assistindo ao massacre, o que é confirmado pelo relato de todas as testemunhas.

 

É provável que este episódio desencadeie um processo de vingança, porque, pela tradição familiar egípcia, é uma questão de honra vingar seus primos mortos. O massacre gera então um processo de desestabilização das Ultras, importante grupo na Revolução Egípcia.

 

Os torcedores do Ultras Ahly saúdam os mártires de Suez, a mãe da revolução

 

***

 

Na quinta-feira, ocorreu um ato em solidariedade aos mortos. Concentraram-se em frente à sede do clube, inicialmente com 300 pessoas, e foram caminhando até a estação de trem. Os relatos indicam que o ato não parava de crescer e não sabemos ao certo quantas pessoas estiveram lá. Depois, o ato se dirigiu a uma delegacia de polícia. Entre os manifestantes existe a certeza de que o massacre foi obra de agentes provocadores.

 

Apesar de alguns gritos contra Massry, a grande maioria dos cantos exigia a execução dos generais que comandam a junta militar.

 

 

Aldo Cordeiro Sauda é formado em Relações Internacionais e faz pesquisa no Egito.

Publicado originalmente em Passa Palavra

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