Caminha o México para uma explosão social?

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Grupo de São Paulo
14/04/2008

 

A opressão no México não consiste somente em uma tirania política. O pequeno grupo oligárquico que exerce o poder não só perpetua a desigualdade social como impossibilita o progresso econômico do país.

 

A produção cresce muito lentamente. A liberalização comercial no âmbito do NAFTA (Acordo de Livre Comercio do Hemisfério Norte) transformou a economia mexicana em um apêndice da norte-americana. Como a crise se abateu sobre os Estados Unidos, o resultado está sendo o aumento da desigualdade social e a enxurrada de privatizações.

 

O núcleo central dessa oligarquia, constituído pelos proprietários dos monopólios e oligopólios que dominam a produção mexicana, não soma 350 mil famílias e as pessoas que giram em torno delas não abrangem mais do que 1,5% da população. O restante - especialmente camponeses, operários e profissionais sem emprego, sem acesso ao mercado moderno e sem perspectivas de melhorar seu padrão de vida - busca desesperadamente emigrar para os Estados Unidos.

 

A oligarquia, sem projeto nacional de desenvolvimento e sem compromisso algum com o destino do México, exerce um poder de fato sobre as instituições da República; influi decisivamente no conteúdo das políticas públicas; corrompe legisladores e juízes; sonega impostos; desconhece obrigações trabalhistas. Direitos do povo, como educação de qualidade, saúde, seguridade social e informação, são sistematicamente negados à maioria da população. Enquanto o poder da oligarquia não for contestado, será impossível democratizar o país e assegurar a participação popular e vida digna a todos.

 

Sob o pretexto de combater o crime organizado, especialmente o narcotráfico, o governo do PAN (Partido da Ação Nacional) está, na verdade, criminalizando todo protesto social e levando a cabo uma guerra total contra a população pobre, nos moldes dos planos que Washington tem imposto à Colômbia.

 

Tudo isto permite indagar se o México não estaria novamente, como no princípio do século XX, à beira de uma explosão social. De fato, que alternativas apresentam-se ao país diante dessa conjuntura tão adversa?

 

Uma delas já está em curso: a repressão massiva contra uma população desorganizada. A fim de agradar a oligarquia, o presidente Felipe Calderón, já de olho nas eleições de 2012, comanda essa repressão com mão de ferro.

 

Outra possibilidade é a eclosão de uma guerra civil.

 

Há, porém, uma terceira: a alternativa anti-capitalista e de esquerda, patrocinada por organizações, grupos, coletivos, famílias e indivíduos alinhados com a "Outra Campanha Zapatista". Trata-se da crítica coletiva e criativa dos zapatistas junto com os mexicanos que querem reconstruir um país destruído por um sistema perverso.

 

Não há como prever o que acontecerá. Pode ser, como disse o subcomandante Marcos, que o conformismo, a resignação e o cinismo determinem de tal modo o comportamento da massa, que liberdade e justiça sejam impossíveis no México de hoje. Mas sempre é possível também que a rebeldia comece aos poucos e com poucos.

 

Alejandro Buenrostro y Arellano, Thomaz Ferreira Jensen, José Juliano de Carvalho, Marietta A. Sampaio, do Grupo de São Paulo - um grupo de 10 pessoas que se revezam na redação e revisão coletiva dos artigos de análise de Contexto Internacional do Boletim Rede, editado pelo Centro Alceu Amoroso Lima para a Liberdade.

 

Artigo publicado na edição de março de 2008.

 

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