Catolicismo: a decadência do poder

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Roberto Malvezzi (Gogó)
20/07/2012

 

O cristianismo nasceu pobre, de um Deus feito gente pobre, difundido por pescadores e outros homens e mulheres dos grupos marginais. Gentes de pequenas comunidades, que tinham uma extraordinária novidade para quem quisesse.

 

Depois, tornou-se a religião do poder romano, como Igreja Católica, e essa metamorfose tem até hoje conseqüências impagáveis.

 

A Igreja Católica começou a perder poder religioso com a ruptura de Lutero, e poder mundano com o iluminismo. As revoluções burguesas derrubaram os privilégios da nobreza e do clero.

 

No Brasil e América Latina, o catolicismo chegou como a religião dos conquistadores. As reduções indígenas no Brasil, a apropriação dos templos incas e astecas, o batismo forçado dos negros desembarcados dos navios negreiros, cavaram um fosso entre a religião oficial do clero e o cristianismo vivido pelas massas subalternas.

 

Aqui também houve uma metamorfose, e os pobres recriaram para si um cristianismo, um catolicismo, conforme sua própria imagem e semelhança. A proclamação da República começou a subtrair o poder do clero no Brasil. A liberdade religiosa só chegou com a Constituição de 1945, pelas mãos de um ateu, Jorge Amado.

 

Hoje o triunfalismo religioso está com os evangélicos pentecostais. Fazem marchas poderosas e ali também é difícil discernir o que é evangelho e o que é mercado. Entre eles já começam a haver críticas para se “voltar ao texto bíblico”. Certos setores católicos achavam que, imitando de alguma forma os evangélicos pentecostais, conteriam a sangria nominal religiosa. O resultado já está posto.

 

As últimas pesquisas indicam que o catolicismo brasileiro, nominal, é da ordem de 64,6% da nossa população. Como na Europa, a tendência é se estabilizar por volta de 40%. Deve crescer o número dos indiferentes diante das igrejas. O fenômeno pentecostal também não terá longo fôlego quando grande parte da população superar sua consciência ingênua diante dos milagreiros da teologia da prosperidade. Quem sabe os evangélicos históricos voltem mesmo ao texto bíblico, a grande contribuição deles ao cristianismo.

 

O Brasil mais católico continua no Piauí, Ceará, Paraíba, nordeste em geral. O Brasil menos católico está em Rondônia e Rio de Janeiro, onde já é minoria, com cerca de 45% do povo do estado permanecendo católico.

 

A perda constante de poder na história não demove certos setores da Igreja Católica que acham ainda que a Igreja é poder. Muitos agem ainda como se vivessem na idade média. É perda de tempo e de energia. Além do mais, falta-lhes senso de realidade.

 

Só resta um poder real aos cristãos, sejam eles de qualquer Igreja: do sal, do fermento, da luz. E vale lembrar a terrível advertência de Jesus: “se o sal perder o seu gosto não serve mais para nada, a não ser para ser lançado fora e pisado pelos homens (Mateus, 5,13)”.

 

Roberto Malvezzi (Gogó) possui formação em Filosofia, Teologia e Estudos Sociais. Atua na Equipe CPP/CPT do São Francisco.

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