O açaí em alta (2): seu consumo ainda mais elitizado

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Rodolfo Salm
14/11/2013

 

 

“Consórcios em larga escala de açaí, com outros cultivos ou com a floresta, em sistemas agroflorestais voltados ao sustento de populações locais e à recuperação de áreas degradadas, poderiam tanto atender à demanda do fruto para exportação, quanto conter a elevação do seu preço no mercado interno, além de ajudar a preservar a floresta e recuperar o que já foi perdido. Seriam, assim, uma alternativa racional à monocultura da soja, à pecuária e à extração desenfreada de madeira”.

 

Assim concluí o artigo “O açaí em alta”, da edição 537 do Correio da Cidadania de 2007, em que tratei dos benefícios para a saúde (tanto pelos altos teores de ferro e antocianina- um poderoso antioxidante-, quanto pelas fibras) associados a este novo fruto da moda tanto no Brasil quanto no exterior. E principalmente da elevação contínua do seu preço, na época para R$ 5 Reais/litro em Belém, segundo o Dieese, o que tornava seu consumo cada vez mais inacessível para a população local.

 

Passados seis anos, muito pouco ou quase nada se investiu nos plantios da palmeira. Ao contrário, o investimento do governo federal foi em grandes obras de infraestrutura, que promoveram mais desmatamento e destruição dos açaizais. Hoje, também segundo do Dieese, o mesmo litro de açaí está sendo vendido a R$ 10 Reais! Um aumento de 100% enquanto que a inflação acumulada no período foi de 47% (de acordo com o índice IGP-10). Em períodos de entressafra, o litro do açaí chega a ser vendido a R$ 20 Reais!

 

Retomo este assunto, motivado pela notícia, veiculada pelo Ministério Público Federal (MPF), da preocupação dos índios da Terra Indígena (TI) Parakanã com a elevação em dois metros da cota do reservatório da hidrelétrica de Tucuruí. A elevação das águas do lago formado no rio Tocantins, além de causar o apodrecimento e queda de árvores e a consequente morte dos peixes, consequente da degradação das matas ciliares, destruirá os açaizeiros, base da econômica da aldeia, notabilizada pelo comércio de açaí.

 

Na região de Belo Monte, só Deus sabe quantos açaizais à beira do rio Xingu serão destruídos com a formação do lago da barragem. A que nível chegarão os preços dos frutos das árvores restantes, comercializados?

 

Um estudo recente de pesquisadores da Universidade de Utrecht, na Holanda, publicado na revista Science, revelou que o açaizeiro (Euterpe precatoria) é a árvore mais abundante da floresta Amazônica, totalizando cerca de nove bilhões de plantas. O pior é que a energia abundante produzida pelas novas mega-hidrelétricas da Amazônia será usada, acima de tudo, para a mineração da região, gerando resíduos tóxicos que se acumulam nas palmeiras e serão repassados para os seus frutos, intoxicando o nosso açaí.

 

Rodolfo Salm, PhD em Ciências Ambientais pela Universidade de East Anglia, é professor da UFPA (Universidade Federal do Pará) em Altamira, e faz parte do Painel de Especialistas para a Avaliação Independente dos Estudos de Impacto Ambiental de Belo Monte.

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