A mídia e a manifestação da Central do Brasil

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Emanuel Cancella
13/02/2014

 

 

Caio Silva de Souza, suspeito de ter atirado o artefato explosivo que matou o cinegrafista da TV Bandeirantes, Santiago Andrade, foi preso nesta quarta-feira (12). O rapaz estava assustadíssimo. Tudo indica que atirou o rojão, conhecido como “busca-pé”, provavelmente para espantar os policiais, durante a manifestação da Central do Brasil, no Rio.

 

Uma das características desse artefato – de venda livre e fartamente usado em festas juninas – é que não tem direção. Deve ser questionado o livre acesso a essas bombas que servem a brincadeiras e usos de péssimo gosto, pelos graves riscos que envolvem, podendo ferir e até matar como aconteceu nessa tragédia.

 

Mas é necessário registrar aspectos desse episódio que serão minimizados pelas grandes emissoras de televisão e jornais, em especial pelas Organizações Globo. Os fatos já estão sendo utilizados como pretexto para tentar acabar com as justas manifestações pelo Passe Livre, movimento contra o aumento abusivo das passagens e a péssima qualidade do transporte urbano.

 

Nas manifestações, a parcialidade na cobertura dos fatos pela chamada “grande mídia” tem sido alvo de crítica. A TV Globo e outras emissoras muitas vezes acompanham os atos de helicóptero, a uma distância segura das ruas. Não é a primeira vez que jornalistas são atingidos. Há meses um repórter perdeu a visão, atingido por bala de borracha atirada por policiais. No entanto, o caso passou quase despercebido. A grande mídia não repercutiu o episódio e não consta que o policial que atirou a bomba tenha sofrido qualquer punição.

 

Apesar de lamentar profundamente a morte do cinegrafista, um trabalhador que estava no exercício de suas funções, é preciso refletir sobre o empenho da mídia em criar uma comoção nacional em torno desse caso. Enquanto em situações semelhantes, sobretudo quando a bala e as bombas partem das forças da repressão, a grande mídia se cala.

 

Dizer que “a culpa é dos black blocs” é outra apelação fantasiosa. Pois os black blocs se apresentam de preto e com máscaras, o que não é o caso do suspeito que foi preso. As imagens veiculadas mostram um rapaz de camisa cinza e sem máscara alguma.

 

Pesquisas mostram que a população ficou a favor das manifestações pelo Passe Livre. Então, são fabricadas versões – mentiras que de tão repetidas até parecem verdades – para colocar o povo contra os protestos pelo Passe Livre.

 

A sociedade não pode ter dúvidas de que as manifestações pelo Passe Livre em todo o Brasil visam beneficiar os pobres que já não aguentam mais a péssima qualidade e as altas tarifas dos serviços de transporte coletivo.

 

As manifestações têm que continuar!

 

 

Emanuel Cancella é diretor do Sindipetro-RJ.

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