Reforma e Revolução

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José Benedito Pires Trindade e Otto Filgueiras
04/02/2014

 

 

No primeiro semestre de 1971, quando a classe operária já era a força principal no capitalismo brasileiro, a industrialização nas cidades predominava e na área rural os assalariados agrícolas eram mais numerosos do que pequenos e médios agricultores, a Ação Popular dizia no seu Programa Básico que faltavam as condições subjetivas para a revolução socialista e que por isso era necessário uma revolução democrática popular revolucionária, ininterrupta que, por etapa, atingiria a sua fase socialista.

 

A parte da AP incorporada pelo PCdoB viveu a tragédia do Araguaia, acreditando que o Brasil era um país semicolonial e semifeudal, cuja força principal, no processo revolucionário, estava no campo. Já a parte da AP que fez autocrítica do maoísmo tardio e passou a concentrar suas atividades entre os trabalhadores urbanos, também vivia seu ocaso: de um lado, cercada, golpeada, estraçalhada pela repressão; de outro, debilitada, desorganizada pela manobra ardilosa dos incorporacionistas.

 

De lá para cá, o capitalismo se consolidou no Brasil, inclusive no campo, onde o agronegócio vem sendo cada vez mais fortalecido pelos governos social-liberais de Lula e Dilma.

 

Ainda assim as forças oposicionistas de esquerda, particularmente as organizações marxistas, e especificamente o PCB, Partido Comunista Brasileiro, que está aprovando corretamente no seu 15º Congresso tática e estratégia socialistas para o Brasil, ainda dizem que faltam as condições subjetivas para a revolução socialista.

 

Mas será que as ditas condições subjetivas não foram preenchidas no sentido inverso, pela política equivocada dos petistas e comunistas de logotipo, administrando as crises capitalistas e iludindo os explorados? Enquanto isso, os jovens oprimidos se rebelam nas ruas, nos bairros, criam na periferia das grandes cidades novas formas de expressão e organização, manifestam-se anarquicamente nos rolês que tanto apavoram a classe média, que vê seus templos de consumo violados pelos deserdados.

 

Condições subjetivas dependem da atuação não doutrinarista e não militarista. De nada adianta ser erudito, ir cada vez mais para a esquerda e terminar na direita, como fizeram Palocci e tantos outros trotskistas, traindo Trotsky. Ou, então, apontar as mazelas do capitalismo tupiniquim e permanecer inertes, contemplativos.

 

Se não fazemos trabalho de base, batendo de porta em porta, mobilizando, chamando e organizando o povo para lutar, a tal condição subjetiva para a revolução, como a camélia, vai murchar, cair do galho e depois morrer.

 

De maneira genérica, e ainda com equívocos, o escopo teórico para a revolução socialista foi rascunhado. Mas ainda falta mobilização, falta organização, falta o partido da classe, falta levar nossas propostas até a classe operária para que as incorpore como suas.

 

O máximo que a esquerda tem conseguido é controlar fábricas de capitalistas em bancarrota, mas nem por isso conseguiu uma revolução socialista ou mudar o sistema. Como não basta saber imprimir livros ou produzir alimentos ecologicamente corretos.

Com menos gente e menos força, Lenine e os revolucionários russos lideraram a Revolução de Fevereiro de 1917 e fizeram a Revolução de Outubro.

 

Esqueçamos o PT, esqueçamos os comunistas de logotipo, esqueçamos todos esses reformistas que ainda insistem em remendar o sistema, esqueçamos aqueles que, convertidos à democracia, apostataram toda e qualquer veleidade revolucionária. Vamos mergulhar na construção das condições para a Revolução Brasileira, mesmo que num primeiro momento seja apenas com reformas que nos levem à revolução.

 

José Benedito Pires Trindade e Otto Filgueiras são jornalistas; Otto está lançando o livro Revolucionários sem rosto: uma história da Ação Popular.

 

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