Dentre reacionários e conservadores... “Francesco”

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Julio Cesar de Castro
20/03/2013

 

 

Do Caos, outra Igreja, restaurada da Simplicidade e do Amor

em Cristo... Que “venda toda sua riqueza e dê ela aos pobres”.


Desde Constantino ("Com este sinal vencerás"), ao Pontifex maximus, a quem foi atribuída histórica generosidade em acolher oficialmente o Cristianismo, a Igreja dos sucessores de Pedro tem sido símbolo de ostentação, perversão e alienação, distante e impassível à dura realidade do “povo de Deus” nas agruras das periferias sociais; embora, há que considerar louvável boa vontade da minoria de íntegros sacerdotes, dentro dessa milenar estrutura religiosa. É a velha e mal afamada alteza eclesiástica do Vaticano – reinada por centenas de infiéis, corruptos, assassinos e imorais dissimuladores –, às chaves do segredo de conluios, adulterando a doutrina de Cristo, o Cristo da elevação dos humildes.  Louvados sejam sempre os fortes de espírito! E que, investidos de coragem e consciência, em honra do Sangue no Calvário, sem titubear, contraponham-se aos covardes e afirmem: “São uns anticristos de sotaina branca, pontífices dos ricos, impondo obediência a beija-mão, na contraluz do Evangelho”. “A história os excomunga!”

 

Quem sabe se, da destruição do anel de ouro de Bento XVI, envergonhado dos escândalos e cuja renúncia soa aparente autocrítica, é chegado o profético tempo em que a mentira de maus pastores renuncia à Verdade de Cristo? Enfim, represente a fumaça negra de Vatileakes logo urgentes mudanças? Será a ruína do Estado-religião (Tratado de Latrão, entre Pio XI e Mussolini) sob o báculo de mafiosos chefes da Igreja? Separação de Vaticano e Santa Sé, poder econômico e poder eclesiástico? As comunidades de base da militância cristã terão vez e voz para confrontar os opressores? Questões como celibato, contraceptivos, células-tronco, orientação sexual, ordenação feminina, comunhão a divorciados, eutanásia... ainda assim, serão desafios para o Vaticano? Oh! Com o coração desarmado de expectante, todo dedicado católico anseia: – O que trazem os arautos de boas-novas?

 

Se o Amor é a milagrosa essência do Criador, se a Luz é o caminho da Libertação e o Verbo é o que conduz a Vida em multiplicidade, que importância de missão terrena, todos temos, na significância do ser, neste imenso Universo em expansão, senão pelo engrandecimento intelecto-criativo do homem? Compreendidos amor e simplicidade, que são vivos céus, os quais só se alcançam superando as limitações de sentimentos primitivos e de angústias da alma. Portanto, amar a vida, repartir o pão, bendizer o ideal de justiça e paz, à faúlha do Espírito Santo, é o que mantêm inabaláveis valores da fé cristã. O expressivo exemplo, na palavra e na prática, vem do Mestre, em cujas máximas nos remete à inteligência, nos instiga à autossuperação. Determinado Ele, na glória pelos humildes, provoca: “Quem dentre vós for maior, seja como o menor; quem dentre vós for senhor, faça-se servo”.

 

Agora, por que o conclave elegeu Jorge Mario Bergoglio, cardeal conservador argentino de 76 anos de idade, se o Brasil reúne a maior população da cristandade? O decréscimo do número de católicos brasileiros (94% em 1960 para 65% em 2010) não preocupa a Santa Sé? O Brasil que, embora do Estado “laico”, tem feriados amoldados pela cultura católica. Possível resposta a tal questionamento seria o fato de que valorosos sacerdotes brasileiros, popularmente estimados, resistiram com destemor à Ditadura Militar, investiram nas organizações de trabalhadores – também através da Pastoral da Terra e Pastoral Operária? Outrossim, por que o Brasil é berço da Teologia da Libertação, vista por “afronta” ao poder central da Cúria? O segmento dito “progressista” da Igreja, nesta terra de Grito dos Excluídos, nunca foi tolerado por todo-poderosos de estola em Roma. Padres (muitos deles pagaram com a própria vida na luta contra o latifúndio dos coronéis) e bispos leais a Cristo na opção pelos pobres sempre foram tachados de “vermelhos” pelas elites política e econômica. Mas que foram eles seguros de si na causa social e ordeiros na relação com a autoridade papal.

 

Dom Hélder Câmara (in memoriam), Dom Paulo Evaristo Arns, Dom Waldyr Calheiros, Dom Angélico Sândalo, dentre outros respeitáveis nomes da Igreja, incorporaram com nobreza de caráter e vigor do coração o sacrifício cristão por uma sociedade justa e fraterna. Para estes, evangelizar requer alfa e ômega com conscientização, cidadania e atitude moral, para além dos limites da Cúria. E sem idolatria. É! Neste país da banalização da política e da mercantilidade da ‘Palavra do Senhor’, ainda há quem dignifica o sacerdócio, sustenta a revolução do Cristo original. Enquanto que, descaradamente, a ala majoritária dos primazes reacionários de solidéu celebrava missas para generais autoritários, governantes deploráveis, oficiais de polícia truculentos e Plim-plim. E água benta em suas cerimônias a obras públicas superfaturadas. Nessa dita, por conveniência, até FHC e Dilma negaram-se ateus.

 

Pelo perfil do colegiado que elegeu Francisco I percebe-se, claramente, o estúpido pensamento na manutenção dessa refratária tradição católica, que não admite, nem que caiam pragas do teto da Capela Sistina, providenciais mudanças em consonância ao mundo moderno. Até porque, se Sua Santidade, ainda mal acomodada, num gesto de insurreição, suscitar mexer em sagradas regras do Vaticano, poderá ter o mesmo destino de João Paulo I: a morte súbita sem explicações. E sem direito a canonização. Francisco I já tropeça em seus primeiros dias de trono! Todavia, o Sumo Sacerdote não aguentaria segurar as colunas do catolicismo no vai-do-cântico. Ou achar-se de mãos atadas. Se assim procedesse, agravaria mais a situação da Igreja. Esperemos por escabrosos dossiês do Vaticano, que estão em poder de mercenários alarmistas, serem estampados nos tabloides. Ora, não basta animus corrigendi (intenção de corrigir), somente assumindo os erros do passado, expurgando o clero, atualizando a Igreja, sem soberba e sem egocentrismo do papado, no menor tempo possível, é que se contém a primavera de sacerdotes e leigos, é que se estimula a ordenação de jovens seminaristas, sobretudo na América Latina e na África. Já que católicos na Europa são ovelhas perdidas.

 

Que venha Francisco I à Jornada Mundial da Juventude, no Rio de Janeiro, em julho próximo, anunciar algo de extraordinário na reorganização da Cúria. Cerimônias de bajulação, distribuição de hóstias e oba-oba da Carismática na grande mídia não freiam a cooptação crescente dos templos de Edir Macedo e seus derivados. Digam ao Papa que estamos em plena Era Digital. O engodo do Jesus que cura e da recompensa no Céu, ritos e mitos, para anestesiar a mente dos pobres, não convence mais. É tempo de restabelecer o legítimo Cristo da luta político-social, no processo de conscientização ante a exploração do homem pelo homem. Daí o Cristo pelos pobres.

 

Radicais mudanças na Santa Sé são pouco prováveis?! Porém, como diz Gênesis, do Caos fez-se todo o Universo (ou outro Universo?) e toda criação. Por isso, novos rumos. Então, por que, desse extremo achincalhe, não se restitua à Igreja de Pedro? E, doravante, às bênçãos de justos sacerdotes, verdadeiramente discípulos do Cristo, abram as portas do arcebispado a todos os membros das paróquias? A afirmação de Ética e Solidariedade na dimensão de toda a Igreja. A grata contribuição do laicato nesses novos tempos da Igreja. Afinal, segundo Lumen Gentium, “um só é o povo de Deus” na unidade em Cristo, por igualdade e dignidade em comum.

 

Muito embora os conchavos e a indicação por Bento XVI nessa eleição de 13 de março, às portas trancadas, espera-se que o 266º Papa, experto na comunicação e gestos na simplicidade, surpreenda a todos, refaça a Igreja Católica com ares de 3º milênio, asseverando transparência dos atos, com a releitura à realidade do Cristo único, contra a tirania e a pobreza neste mundo dos animais humanos. E, ao ar livre na Praça de São Pedro, peça perdão à Humanidade pelos crimes de pedofilia de padres e bispos, levando-os aos tribunais de justiça criminal. Peça perdão pela traição e os métodos de alienação opressiva no passado de seus antecessores. Ou Francisco I passará como bom jesuíta, mas de política eclesial petreamente conservadora. A omissão é um grave pecado.

 

O Cristianismo sobrepõe-se a pedra-sobre-pedras da Igreja Católica. Ora, o martírio de Cristo, de sacerdotes e conscientes cristãos não foi o suficiente?!

 

Julio Cesar de Castro presta assessoria técnica em Construção Civil.

E-mail: jota.castro(0)yahoo.com.br

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