Cobertor curto

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Gilvan Rocha
20/10/2012

 

No capitalismo, para a imensa massa do povo pobre e miserável, a vida se constitui na inglória tarefa de querermos nos cobrir com cobertores bastante curtos. Isso quer dizer, quando cobrimos a cabeça, temos os pés descobertos e, quando cobrimos os pés, passamos a ter a cabeça e até os braços descobertos.

 

É assim que funciona o sistema capitalista. A burguesia inaugura um suntuoso hospital e clama ao mundo inteiro: “eis aí o quanto o sistema socioeconômico está voltado a atender as necessidades do povo”. Exemplo patente é o Hospital da Mulher em Fortaleza. Não dizem eles quantas empreiteiras ganharam fortunas nas obras superfaturadas. Não dizem, via de regra, que o monumental prédio que custou uma fortuna não dispõe de equipamentos suficientes para atender os necessitados.

 

Quando tem equipamentos, falta o corpo técnico capaz de operacionalizar os instrumentos de que dispõe. Quando tem tudo funcionando naquele hospital, dezenas de milhares de postos de saúde não têm o funcionamento necessário, pois ali faltam desde o médico, o enfermeiro, o técnico a, sobretudo, medicamentos.

 

Por sua vez, quando se despende uma atenção maior para a saúde, eis que faltam os meios necessários para a construção de escolas, contratação de profissionais e compra de equipamentos. O curto lençol do capitalismo, para atender às inúmeras demandas das massas necessitadas, termina por não poder cumprir as imensas solicitações no campo da segurança pública, deixando de promover concursos e treinamentos capazes de possibilitar um mínimo de tranquilidade.

 

Não bastassem essas carências, outras tantas se apresentam: são as malhas viárias, em estados deploráveis; são os portos, sem condição de carga e descarga; são os aeroportos, sucateados, e assim se vai o curto cobertor.

 

Cabe, porém, uma pergunta: para onde vão os bilhões de riquezas produzidas nesse mundo afora? A maior parte vai para os bolsos dos capitalistas, que não param de acumular riqueza, enquanto o mundo acumula fome, favela e miséria. Outra parte das riquezas é gasta para a manutenção do permanente estado de guerra em que vive o sistema capitalista, desembolsando fortunas para custear as suas forças armadas, estejam elas ativas ou inativas.

 

É necessário acrescentar que uma legião imensa de pessoas se ocupa no triste ofício de trabalhar e nada produzir, como acontece com as máquinas burocráticas das empresas, repartições e ministérios. Somente uma outra sociedade, uma sociedade voltada para o real bem estar da população, poria fim a esse infernal quadro da existência humana.

 

Gilvan Rocha é militante socialista e membro do Centro de Atividades e Estudos Políticos.

Blog: www.gilvanrocha.blogspot.com

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