“Campanha no Rio conseguiu impor a politização do debate eleitoral”

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Valéria Nader e Gabriel Brito
02/10/2012

 

Em tempos de grande apatia política, a eleição à prefeitura do Rio de Janeiro certamente é uma das raras disputas que destoa do quadro. Após anos de luta pelos direitos humanos, notabilizada pela quase solitária denúncia das milícias paramilitares que controlam diversas regiões da capital carioca, a candidatura de Marcelo Freixo (PSOL) causou comoção no meio progressista e tenta agora fazer frente à poderosa coalizão em torno de Eduardo Paes (PMDB).


Para discutir os significados dessa surpreendente campanha, o Correio da Cidadania conversou com o Milton Temer, ex-deputado federal pelo PT e membro do partido de Freixo. Em sua opinião, a campanha que ameaça tirar a vitória de Paes já no primeiro turno recolocou a politização dos debates eleitorais na ordem do dia, simbolizada pelo comício da Lapa, que reuniu grande quantidade de pessoas debaixo de uma tempestade.


“Vejo a campanha carioca muito marcada pela disputa de esquerda versus direita, à medida que o Marcelo Freixo tem conduzido a campanha não nos termos de uma reforma generosa da realidade, mas sim da caracterização de conceitos quase marxistas de luta, embora não sejam explicitados em sua forma tradicional. Pauta a questão da criminalização da pobreza, do público contra o privado, temas que têm entrado no debate municipal e têm muito a ver com os debates nacionais”, analisou.


Além de enumerar as imensas disparidades do poderio de cada campanha, a começar pelo espaço midiático, Temer critica o que chama de neoPT e seu “populismo de direita”, um partido dedicado ao assistencialismo e montagem de feudos políticos, cujas figuras progressistas se encontram “aviltadas ali dentro”. Cenário que explicaria a forte presença de militantes da base petista no comício de Freixo, “uma dissidência aberta”, como definiu o entrevistado.


Sobre as bizarras elucubrações governistas para justificar o apoio “esquerdista” a Eduardo Paes, marcado exatamente por elogiar as milícias que mantêm Freixo jurado de morte, Temer aponta para o papel da mídia, em franca campanha a favor de Paes, por se tratar do candidato ao qual se associará nos grandes negócios e eventos aguardados pela Cidade Maravilhosa. “A esquerda do Rio era uma, agora é outra. Foi um marco, sem dúvidas. Eu senti no comício o mesmo clima que senti na passeata dos 100 mil contra a ditadura. O neoPT não tem manifestação de rua. Vai perguntar o nome dos vereadores do PT. Vai perguntar o nome do vice do Eduardo Paes. Não existem mais...”, arremata.


A entrevista completa com Milton Temer pode ser lida a seguir.

 

Correio da Cidadania: Como você tem visto o atual processo eleitoral em nosso país, no que diz respeito às campanhas municipais, seu conteúdo e as propostas mais repercutidas? Acredita que tem despertado real interesse na população?

 

Milton Temer: Tenho constatado uma coisa muito importante no processo eleitoral do Rio de Janeiro, distinto do que vi, por exemplo, em São Paulo. Acredito que aqui a campanha do Marcelo Freixo conseguiu impor uma politização no debate – da urbanização, da socialização do espaço público – em termos totalmente diferentes das demais capitais, onde sinto continuarem como campeões do debate a baixaria, os ataques pessoais, o clima da despolitização, muito à frente de propostas e alternativas de modelos de governo. Sinto que na eleição do Rio houve essa politização, a despeito das possibilidades de vitória contra Eduardo Paes, mas até levando em conta a desigualdade da disputa – fico imaginando se, com tal desigualdade nos anos 80, haveria PT hoje...

 

A campanha do Paes conta com 1000 inserções, enquanto a do Freixo com 200 e poucas. Inserções são as aparições dos candidatos fora do horário eleitoral obrigatório, e muitas vezes as pessoas assistem muito mais a tais inserções do que ao horário eleitoral oficial, pois elas aparecem no meio do jogo de futebol, da novela etc.

 

Além disso, o tempo de TV é totalmente agressivo em relação à campanha do Freixo, tendo o Paes mais da metade do tempo de todo o programa eleitoral, por conta da compra de legendas. Coisa de uma coligação com mais de 20 partidos, sendo pelo menos dois terços absolutamente voltados a operações mercadológicas. Tais partidos não existem, a não ser pra vender tempo nos horários de televisão.

 

Por outro lado, vejo a campanha carioca muito marcada pela disputa de esquerda versus direita, à medida que o Marcelo Freixo tem conduzido a campanha não nos termos de uma reforma generosa da realidade, mas sim da caracterização de conceitos quase marxistas de luta, embora não sejam explicitados em sua forma tradicional. Pauta a questão da criminalização da pobreza, do público contra o privado, temas que têm entrado no debate municipal e têm muito a ver com os debates nacionais.

 

Pelo menos pelo noticiário que tenho acompanhado, não se sente o mesmo no resto do país. Até porque as alianças são bizarras. Por exemplo, em São Paulo, vejo que a campanha do Giannazi está esmagada porque a polarização sequer está entre direita e esquerda, e sim entre o fundamentalismo religioso e o atraso nas posturas políticas, tanto dos tucanos quanto do neopetismo. Não tenho nenhuma hostilidade individual ao Haddad, mas sim a tudo que ele representa. Ficou simbolizado pelo encontro afetuoso do lulo-pragmatismo com o malufismo, de braços dados com Maluf nos quintais daquela mansão que não sabemos em que condições foi adquirida.

 

Correio da Cidadania: É possível afirmar que o Rio configura praticamente uma exceção em termos de politização das eleições?

 

Milton Temer: Pode ser que em Belo Horizonte esteja assim também. Belém certamente, até por estar sob a mesma característica do Rio. O Edmilson, candidato pelo PSOL, e a coligação com o PC do B local - que pra ter entrado na coligação não deve ter tanto a ver com o PCB nacional - enfrentam a direita e suas coligações estreitamente conectadas à ordem tradicional.

 

Correio da Cidadania: O que diria sobre alguns fatores novos que marcaram a campanha em torno de Marcelo Freixo especificamente, voltando a animar algumas parcelas do progressismo, inclusive agregando apoio de figuras históricas de diversos setores, entre eles o artístico?

 

Milton Temer: Pra mim, é algo que vinha se revelando já na última eleição. Não por acidente, o Chico Alencar foi o segundo deputado federal mais votado do Rio de Janeiro e o Marcelo Freixo o segundo deputado estadual mais votado. E até eu tive surpreendente votação como senador, na medida em que o Lula apoiava três candidatos para três vagas: O Lindberg, o Jorge Picciani e o Marcelo Crivella. O Crivella, por sua vez, fazia dobradinha com um ex-pagodeiro que virou pastor na Baixada Fluminense (Waguinho, candidato a prefeito de Nova Iguaçu), atualmente se apresentando como candidato a prefeito pelo PC do B (olha que engraçado tudo isso...). Ainda assim, conseguimos mais de meio milhão de votos para o Senado, o Chico bateu algo em torno de 230 mil votos, o Freixo 170 mil... Votações expressivas. E, a despeito dessa força do Freixo e do Chico, não representaram um voto da legenda, porque a legenda foi a quarta mais votada do Rio de Janeiro.

 

Portanto, tinha alguma coisa latente, já em acendimento. Nessa mesma campanha, também houve o êxito da campanha do Plínio (candidato à presidência pelo PSOL) junto à juventude, que, se não foi expressiva quantitativamente, foi sucesso absoluto no meio estudantil e acadêmico. Os debates que fazia eram o estouro da boiada de participação. E era bizarro ver aquele candidato de quase 80 anos virando pro lado e dizendo “vocês estão envelhecendo”.

 

Correio da Cidadania: Como analisa o apoio petista à candidatura de Eduardo Paes, reforçando sua aliança com o PMDB no Rio de Janeiro?

 

Milton Temer: Não acho que foi o PT quem tenha apoiado o Paes, e sim o neoPT. Porque o PT saudável, que ainda acredita que tem de fazer a luta interna, estava com bandeira e tudo no comício do Freixo, com representantes no palanque. Dissidência aberta.

 

Não tenho dúvida de que o percentual das pesquisas que indicam os votos do Freixo significa que seu voto está indo além do eleitorado exclusivo do PSOL. É evidente que uma base expressiva do PT está votando no Freixo. Pelo tamanho da coligação em torno do Paes, 50% é pouco, deveria estar com 80% de intenções de voto. Se não tem isso, é porque a aliança feita com a cúpula neopetista não conseguiu ganhar a base que ainda tem ilusões e ainda é iludida pela propaganda maciça do populismo de direita que o governo do PT impõe como salvação das camadas miseráveis.

 

Correio da Cidadania: Neste sentido, nos últimos tempos, você defendeu a tese de que as atuais forças de esquerda não absorvidas pelo capital e pelo governismo deveriam dedicar esforços no sentido de disputar as “bases petistas”. A atual aproximação do PT com o PMDB no Rio, em favor de Eduardo Paes, traz alguma consequência, a seu ver, a esta estratégia?

 

Milton Temer: Primeiramente, não acredito em luta interna no PT. E não tenho dúvida de que a expressão eleitoral do PT no Rio está inteiramente abalada pela presença do PSOL e pela campanha do Freixo. Quando se veem os candidatos do PT no estado... Marcelo Arar, candidato a vereador pelo PT na capital, era um tucano, inteiramente integrado, em momento algum se descolou das políticas de direita; Marcelo Sereno, também candidato a vereador na capital pelo PT, é essa expressão da cidadania... Se fizer um balanço, até os que tinham alguma simbologia mais progressista estão absolutamente aviltados ali dentro. O que se vê das candidaturas petistas pra vereador não se diferencia, nas mensagens enviadas ao público, dos partidos como PMDB e outras legendas das quais nem consigo me lembrar. Aliás, sequer sei se o Eduardo Paes tem capacidade de reproduzir essa lista de partidos aliados, se for perguntado de chofre.

 

A disputa é na base social, não na direção. Pode-se mostrar a essa base do PT que existe, sim, alternativa. Embora o neopetismo tente acusá-la de ser uma oposição que se une com a direita, na verdade, é apenas oposição mais radical, não somente ao neopetismo, como também à direita autoritária, que se abriga principalmente no PFL (não posso chamar de Democratas um partido que nasceu da Arena, é uma esquizofrenia completa) e no PSDB (o instrumento mais expressivo da vaga neoliberal, os apóstolos das políticas de Reagan e Thatcher no Brasil). Essa é a velha direita com a qual nós temos uma rivalidade total. A outra direita é a nova, populista, que assiste e produz realmente algum tipo de melhoria nas camadas mais miseráveis, seguindo os preceitos que o Lula preconizou. Sua frase é dura se vista com profundidade: “Cuidar de pobre no Brasil é barato”. Junto com a outra frase, dizendo “Nunca fui de esquerda”, é a marca maior de seu populismo de direita, do sindicalismo estadunidense que marca a formação política do Lula.

 

A última vez que fiz essa conta foi em 2007: neste referido ano, o que seria o lucro do segundo principal banco privado em nove meses do ano (Bradesco), até setembro de 2007, portanto, correspondia àquilo que o governo aplicaria no ano inteiro no Bolsa Família – em 11 milhões de famílias, ou 44 milhões de brasileiros. Quarenta e quatro milhões de brasileiros receberiam em um ano aquilo que o banco privado que ficou em segundo lugar no ranking da lucratividade já tinha ganhado até setembro. Isso pra não falar que no mesmo ano a família Setúbal (Itaú) lucrou sozinha, nos mesmos nove meses, 500 milhões de reais a mais que o despendido pelo Lula no Bolsa Família em todo o ano de 2007, para “cuidar” de 44 milhões de brasileiros.

 

É esse populismo de direita que estiola, neutraliza, abafa a expressão de revolta, através desses microcréditos etc. e tal aos setores mais despossuídos, sem tocar ou arranhar os interesses hegemônicos do grande capital e da especulação financeira.


Correio da Cidadania: Assim, podemos afirmar que, pelo menos no Rio de Janeiro, a esquerda conseguiu se colocar à altura dos desafios que se esperam para iniciar um debate e postura alternativos, de forma a avançar efetivamente no enfrentamento das questões sempre negligenciadas e que, de fato, afetam a população?

 

Milton Temer: Sem nenhuma dúvida. O comício do Freixo no dia 21 foi um exemplo impactante. Caiu uma tempestade no Rio de Janeiro. Os comícios convencionais desses candidatos tradicionais que existem por aí se organizam como? Com ônibus buscando servidores em diversos locais, oferecendo merenda e companhia bela. O comício da Lapa estava marcado para as sete horas da noite. O ápice do temporal. E choveu o tempo inteiro. Mesmo assim, 15 mil pessoas. O som não alcançava as camadas finais do comício, de tanta gente que estava na Lapa. Imagina sem a chuva...

 

Inclusive, disse lá em minha intervenção e repito: eu senti o mesmo clima que senti na passeata dos 100 mil contra a ditadura. As pessoas afluindo à Cinelândia, e chegando pelo boca a boca, naquela época não havia essas redes... E de repente eram 100 mil. Eu senti o clima daquele dia na Lapa. Comício que por sinal foi dedicado pelo Marcelo Freixo, de maneira nobre, ao Carlos Nelson Coutinho (filósofo morto no último dia 20 no Rio de Janeiro).


Correio da Cidadania: E o que dizer, neste contexto, dos partidos hoje mais representativos desta esquerda, além do PSOL, o PSTU e PCB entre os mais conhecidos? O que singularizaria cada um deles no atual cenário, e qual a sua expectativa quanto ao saldo que deverão deixar?

 

Milton Temer: Essa é uma etapa que não pode se encerrar com o processo eleitoral concluído. Isto tem de ser um motor de arranque para uma mobilização permanente, pela luta de um novo Brasil possível – a partir do Rio de Janeiro, na nossa cabeça.

 

A esquerda do Rio era uma antes do comício, agora é outra. Foi um marco, sem dúvidas. O neoPT não tem manifestação de rua. Nenhuma. Partido de assistencialismo, de feudos com recursos públicos, parlamentares inexpressivos, sem nenhuma ramificação social concreta, com o rabo entre as pernas.

 

Nossa bancada de vereadores e deputados estaduais e federais tem muita expressão. Embora pequena, todo mundo a conhece. Todo mundo, qualquer carioca, sabe quem é o deputado federal Chico Alencar, a deputada federal Janira Rocha, o deputado estadual Marcelo Freixo, o vereador Eliomar Coelho, o vereador Paulo Pinheiro.

 

Mas vai perguntar o nome dos vereadores do PT. Vai perguntar o nome do vice do Eduardo Paes. Não existem mais...

 

Correio da Cidadania: E você acredita que a disputa ainda chegue ao segundo turno?

Milton Temer: O segundo turno depende menos da gente do que dos demais candidatos, que se mantêm empacados. Alguns, por preconceito contra, como no caso do Cyro Garcia, candidato a prefeito do Rio pelo PSTU; outros por se tornarem linha auxiliar de Paes – Aspásia Camargo (PV), também apelidada de Aspaesia; e os demais por absoluta falta de credibilidade, casos de Rodrigo Maia (DEM) e Otávio Leite (PSDB).

 

Correio da Cidadania: Um personagem marcante destas eleições é, sem dúvida, o chamado mensalão – na cidade de São Paulo, explicitamente explorado pelo tucanato em sua disputa voto a voto com o petismo para a chegada ao segundo turno. Teria algo a dizer sobre ele? Terá algum impacto nos resultados eleitorais?

 

Milton Temer: Até gostei da participação do Gianazzi nos debates em São Paulo, mas está esmagado por uma polarização maluca. Espero ao menos que alguns vereadores de esquerda sejam eleitos.

 

Primeiramente, há coisas que só acontecem em São Paulo. Russomanno... Eu fui deputado com ele, era um medíocre deputado. Desses que se escondem no fundo daquele “baixo clero” do Congresso e vão para comissões do tipo Fiscalização e Controle, pois são do tipo de cara que se dirigem para onde se podem criar dificuldades, para possibilitarem, posteriormente, o recebimento de escusas facilidades. Era um cara que não tinha a menor expressão, nunca foi levado a sério pelo próprio parlamento. E o povo de São Paulo o leva a sério. Pelo amor de deus.

 

No Rio de Janeiro, o mensalão não aparece, e há uma coisa traumática – ao menos pra mim. É certo que não temos nenhuma simpatia por essa cúpula de neopetistas sob o fogo do Supremo Tribunal Federal. Mas o duro é ir contra eles quando, ao mesmo tempo, vemos a campanha falaciosa, hipócrita, cretina e pré-julgadora do Globão. E quando O Globo se coloca como apóstolo de certas coisas, não dá... Aí entro na velha lógica do meu saudoso pai, já na década de 50, esquentado, comerciante da zona norte, de Vila Isabel, meio isolado porque era um simpatizante e contribuinte do PCB, ainda que não um militante orgânico, que me dizia: “meu filho, quando eu tô na dúvida, eu leio o Editorial d’O Globo e tomo a decisão ao contrário”. É o que marca a realidade hoje.

 

O Globo exala um odor asqueroso. Fiquei preocupado quando entrou no pré-julgamento, porque comecei a pensar que os juízes do STF poderiam acabar votando por mais absolvições para não parecerem conduzidos pelo Globo, tamanho o escândalo da atuação do jornal.

 

Este tema, de forma nenhuma, colocamos à frente dos debates. Estamos discutindo políticas públicas, privatização do Estado, a questão da democratização e controle social sobre o aparelho de Estado, os megaeventos. Tudo isso contra o Eduardo Paes e contra O Globo, cúmplice do Paes nas tenebrosas transações que já se anunciam no futuro.

 

Correio da Cidadania: Mas para além do Rio, acredita que o julgamento poderá ter influência em escala nacional?

 

Milton Temer: Aí não sei avaliar, confesso que me abstraí disso. Quem me acompanha, por facebook ou blog, vê que não escrevi uma linha sobre o assunto.

 

Na minha área, essa conversa aparece en passant, por um ou outro comentário, mas não é problema meu. Acho que o STF está cumprindo sua função e eu entrego ao Supremo a decisão. Em São Paulo, por exemplo, o Haddad não tem nada a ver com o mensalão. Não é por aí.

 

É bom lembrar uma coisa, que os mais velhos sabem tanto quanto eu: vamos deixar claro que a primeira denúncia séria contra o Lula foi feita pelo próprio PT. Foi o PT que fez uma comissão de ética contra o Lula, lá por volta de 94, 95, da qual resultou a expulsão do Roberto Teixeira do partido, o advogado do Lula. Tinha o Luis Eduardo Cardozo, o Hélio Bicudo e mais algum do qual não lembro. Essa comissão de ética foi instalada pelo senhor José Dirceu de Oliveira e Silva, na época secretário geral, que até então, numa linha meio oculta, paralela com o Wladimir Palmeira, disputava com o Lula o posto de referência máxima do partido. Até o Lula promover a invasão dos sindicalistas, que resultou, no meu modo de ver e por conta dessas cúpulas sindicais arrivistas, num momento fundamental para a guinada à direita do partido. Uma acomodação em que os sindicalistas se revelaram agentes da organização do capital junto à classe trabalhadora. Foi naquele momento que o Dirceu se rendeu ao Lula, porque era o confronto definitivo, era um ou outro. O Zé Dirceu se rendeu e passou a ser o apóstolo do Lula. Mas foi o Dirceu quem instalou a primeira comissão de ética de denúncia contra o Lula. Dentro do PT.

 

Portanto, vamos parar com esse negócio de PIG (Partido da Imprensa Golpista), golpes, porque é evidente que tem coisa aí. Mas não vamos fazer campanha e discussão em cima disso, o mensalão não apareceu na campanha do Rio de Janeiro em momento algum.

 

Correio da Cidadania: Finalmente, o que pensa do papel que a mídia tem exercido nesse processo eleitoral?

 

Milton Temer: Nacionalmente sei menos, mas até o Estadão vejo que tem mais cuidados. O Globo é um escárnio. Deu-se ao luxo de colocar uma Página 3 inteira para tentar atacar a campanha do Freixo. E para além de notícias que, de uma forma ou outra, terminam favorecendo o Paes, agora inventaram uma seção chamada “Rio Maravilha”, voltada aos megaeventos, que todo dia enfia uma matéria oba-oba sobre obras, indiretamente fazendo a campanha do Paes.

 

Portanto, aqui no Rio é um escárnio. Mas é verdade que regulamentação da mídia em momento algum tocará no direito do jornal de ter posição editorial. O que denuncio no Globo é a cretinice, a canalhice editorial, de fazer com que a posição do jornal extrapole da página de opinião para as páginas do noticiário, distorcendo a realidade. Essa é a bandidagem.

 

Gabriel Brito é jornalista; Valéria Nader, economista e jornalista, é editora do Correio da Cidadania.

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